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Histórias

Rua Goitacazes - Luana Paula e Jessica Natália
Foto por Jéssica Natália

Histórias acontecem em todos os cantos, sempre haverá um fato, um acontecimento, que marcará alguém ou algum lugar.

Passando de geração em geração, a sapataria Ascendino carrega o nome que passou desde o avô até o neto, mantendo as tradições familiares. O comércio que está aos cuidados de Ascendino Filho e seu irmão tinham como dono anteriormente de seu pai e seu avô, onde a vida da família cresceu e permaneceu apertando solas, trocando fitas e colocando cores nos sapatos, foi como conseguiu criar seus três filhos.

A sapataria que, não por acaso tem o nome do dono, tem um belo histórico e clientes fiéis. Sr. Ascendino diz que ali não é o melhor ponto comercial de Belo Horizonte, já que seu concorrente principal é o grandioso Shopping Cidade, porém, por estarem ali há mais de vinte anos, os clientes se tornaram fixos. “É cada coisa que nem da pra acreditar (risos). Já salvei até casamento com minhas colas mágicas de colar sapato”, conta que uma moça chegou aos prantos com um par de sapatos brancos, tamanho 35, explicando que o sapato era da sorte, uma vez que todas as mulheres da família o utilizaram em seus casamentos.  Justo na sua vez, a sola havia se soltado, e estava apertado no seu pé tamanho 36. Senhor Ascendino como de costume, arrumou o sapato. Só não podia fazer milagres e garantir o bom uso perante a situação. A moça calçava 36 e o sapato era 35, o uso lhe dariam dolorosos calos.

Segundo o sapateiro, é raro um acontecimento extraordinário na rua, uma vez que o quarteirão de seu comércio é quase deserto. Confessa que é exatamente dessa paz que ele mais gosta. “Às vezes me sento na porta e posso ver o movimento da Avenida Amazonas e fico pensando em como as pessoas não tem mais tempo para viver as pequenas coisas da vida. Cidade grande é um corre-corre infinito.”

O grande movimento do centro de Belo Horizonte, fator que leva ao alto índice de estresse, é o que mostra que a cidade está viva e crescendo e, mesmo que seja assustador tanta correria, ela é necessária. “Fico parado pra ver se alguma coisa acontece” diz Ascendino, foleando um jornal amassado que já havia lido mais de cinco vezes no mesmo dia.

“O que não me deixa desistir daqui são as historias, as lembranças do meu pai que estão em cada canto. Meu avô montou o estabelecimento para que a família tocasse pra frente e tivesse o próprio negócio, aí a gente acaba se apegando. Mesmo não dando pra ficar rico, consigo sobreviver”, explica ele sobre como tudo começou.

Os filhos não mostram interesse na sapataria, e o proprietário diz não ficar magoado com isso, uma vez que entende que eles estudaram para ter um destino diferente do seu. “Ainda não sei o que vai ser desse lugar quando eu não aguentar mais trabalhar”, diz o senhor olhando todos os sapatos acumulados nas prateleiras.

No coração da Rua Goitacazes existem lindas histórias de vida. Onde parece não acontecer nada, é onde vidas inteiras já aconteceram.

Reportagem produzida para o Trabalho Interdisciplinar Dirigido V que tem como temática o cotidiano das ruas de Belo Horizonte. Belo Horizonte, junho de 2015.

Matéria por Luana Paula Rocha

Vivemos a era digital, tudo está na rede mundial de computadores. Contudo práticas milenares como contar histórias, continuam vivas e encantando crianças, jovens e adultos. A Biblioteca Publica e a Editora Miguilim promovem durante 10 dias narrações de histórias com Beatriz Myrrha. O evento é realizado em virtude do aniversário de 30 anos da editora, que desde sua fundação trabalha com literatura infanto-juvenil.

Contadora de histórias a 21 anos, Beatriz fala de sua prática e da importância das histórias, para quem escuta e para quem conta. “Tem um dito africano que fala: O contador deve ter uma voz tão boa que todos possam ouvi-lo, uma postura tão ereta que todos possam vê-lo e uma história tão boa que todos possam amá-lo. Acho que é bem mais que isso,  são precisos principalmente entrega e amor pela história e pelo outro. É como se fosse uma troca de presentes”, declara a contadora.

A contadora revela a arte contida, por trás de quem conta as e interpreta as histórias. “Narrar histórias é uma arte e a arte pressupõe a surpresa o inusitado. Aquilo que tira o tapete debaixo do pé do outro, você tem que fazer aquilo que vai deixar o outro boquiaberto”. afirma Beatriz.

As histórias são também uma forma de falar de grandes autores para todas as idades. Beatriz nos conta que em uma de suas apresentações, se deparou com uma situação inusitada. Ela preparou um poema de Drummond para crianças entre 7 e 9 anos, mas, ao chegar no lugar onde se apresentaria, viu crianças de 2 anos sentadas aguardando. Ela mudou a voz, pediu acompanhamento da trilha sonora e encantou as crianças citando um poema de Drummond.

 A narração das histórias por Beatriz Myrrha ocorre na Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães até o dia 24 sempre às 14:00hs. Com visita guiada destinada aos alunos de escolas da região metropolitana de Belo Horizonte.

 Texto Ana Carolina Nazareno e Hemerson Morais

Foto Hemerson Morais