Renato Russo vence a barreira da finitude

Renato Russo vence a barreira da finitude

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Foto: Reprodução/instagram @barbariumpub

Quando foi que nos esquecemos de amar as pessoas como se não houvesse amanhã? Quando começamos a desacreditar que haverá um dia melhor? Será que foi por medo de que se por acaso, pararmos para pensar, na verdade não há? Esperança? Dia melhor? Não sei dizer, mas ainda me sinto entre a cruz e a espada.
Renato Russo lançou todas essas questões em 1989, na música Pais e filhos, do álbum As quatro estações. Questionamentos relativamente simples, diríamos, quando presenciamos esses debates com tanta frequência. Mas para a época, Renato foi – certamente – um revolucionário, mesmo com tantos motivos, para deixar tudo como esta(va).
Aquele era um tempo em que ainda ouvíamos nossas próprias queixas e dávamos sentido e atenção àquelas que aos poucos iam ganhando as trilhas sonoras da época. Era bonito de se ouvir que “não tinha medo o tal João de Santo Cristo, ele queria era falar para o presidente, para ajudar toda essa gente, que só faz sofrer”. E de Joãos assim andamos todos precisados, em doses tais que hoje nos sejam maiores de se ver do que ouvir, acredito.
Mas chegamos na época em que os bares pararam de tocar Renato, há jovens sequer o conhecem e, com isso, outros bares, também, se recusam a tocá-lo, sob o argumento (infundado) de que o mesmo não faz mais sucesso. Sucesso: aquela palavra simples, que hoje significa basicamente que uma maioria influente (?) ditará qual será o novo padrão. Será? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir (con)vencer?

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Parece que uma onda de esquecimento se instaurou e uma névoa turva de apatia paira sob nossas cabeças. Nessas horas, convenhamos, é impossível não se isolar e direcionar a atenção para aqueles que ainda enxergam algo além do próprio umbigo, numa tentativa desesperada de reavivar a esperança na humanidade. Uma busca por aqueles que ainda avistam o outro e (verdadeiramente) o enxergam. Ainda nessa mesma hora, eu sei, pensamos que tem gente que está do mesmo lado, mas (certamente) deveria estar do lado de lá.
Ainda assim, sinto que nos falta muito o grito mais do que o afastamento, o conformismo. As mudanças estão acontecendo, basta estar atento à elas. Quem me dera, ao menos uma vez, explicar o que ninguém consegue entender, como fez tão bem a estudante Ana Júlia, de 16 anos, na Assembleia Legislativa do Paraná, ao representar as mais de 850 escolas e institutos federais ocupados no estado. Veja aqui
. Como fez Zianna Oliphant, de 9 anos – em meio à lágrimas – na assembleia da cidade de Charlotte (EUA), relatando como é crescer como uma criança negra na cidade que foi palco de tensão racial, após o assassinato de um homem negro, desarmado, por um policial branco. Veja aqui Chorei com elas e agradeci pela voz, ainda que embargada, que tiveram frente a tantos outros que travam suas lutas individuais, silenciosamente. Benditos sejam os holofotes da internet, a visibilidade e a facilidade da viralização audiovisual que impera atualmente.
Nos deram espelhos e vimos um mundo doente, tentei chorar e não consegui. Preferi juntar trechos de canções na tentativa de reavivar a esperança de que esse mundo ainda tem jeito. Preferi citar novos exemplos, ainda que pequenos em idade, mas de tão grande visibilidade e repercussão que nos reanime sobre essa juventude. Somos tão jovens, eu sei. Mas, também, somos tantos, somos muitos, uma verdadeira Legião.
Que nos chamem de sonhadores, que falem de Renato como um otimista incurável, estranho e “diferentão” – não faz mal. Mas que também ouçam as músicas, o grito, muito mais que o choro. Enquanto eles dormem, não se importam e se esquecem, ficaremos acordados, imaginando alguma solução pra que esse nosso egoísmo, não destrua nosso coração.

 

Matéria produzida pelos alunos do 4º período de jornalismo, Jaqueline Guimarães, Pablo Abranches e Paloma Simões, na disciplina de TIDIR/JOR2B.

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