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A partir desta sexta-feira,18, a Academia Mineira de Letras receberá a exposição “Dalí – A Divina Comédia” que será agraciada com 100 ilustrações do artista surrealista Salvador Dalí.

A mostra, que teve sua estreia em julho de 2012, no Rio de Janeiro, já percorreu diversas cidades como Curitiba, Recife, São Paulo e Salvador, agora traz a Belo Horizonte a experiência de ver os trabalhos do artista espanhol.

A partir da década de 50, para cada parte do poema “A Divina Comédia”, do escritor Dante Alighieri, o pintor Salvador Dalí criou centenas de aquarelas para retratar as três fases do poema: Inferno, Purgatório e Paraíso. Além de conhecer as obras de Dante com a partir da visão de Dalí, os visitantes poderão saber aprofundar um pouco mais nos traços surrealistas do pintor.

Encomendada pelo governo italiano, a obra de Dalí tinha como objetivo celebrar os 700 anos do nascimento de Dante. Porém, devido a nacionalidade do pintor, os artistas italianos não concordaram com a maneira que Dalí tinha de expressar “A Divina Comédia”, o governo decidiu então encerrar o projeto, mas isso não impediu o artista espanhol de continuar a manifestar seus sentimentos pela obra.

De acordo com a curadora da mostra, Ania Rodrigues, a exposição traz o encontro de dois grandes gênios que revolucionaram a literatura e as artes visuais. Assim como Salvador Dalí, diversos artistas retrataram A Divina Comédia em seus trabalhos, tais como Botticelli, Doré, Bouguereau e Barceló, o que traz aos amantes do poema uma ajuda maior no entendimento da obra de Dante.

Para a estudante de produção de Moda, Mariana Nascimento, 19, Belo Horizonte está abrindo as portas para muitas exposições diferentes. Para ela “Dalí – A Divina Comédia”, seguirá essa mesma premissa. “Minha vontade de visitar a exposição é de ter contato com algo inspirador. Acho que a arte mexe muito com o imaginário, coloca nossa cabeça para funcionar. E como faço produção de moda, acho importante ter um repertório artístico bacana”, finaliza a estudante.

A entrada na exposição é gratuita e permanecerá na Academia Mineira de Letras de quarta a domingo, de 09h às 19h até o dia 17 de agosto.

 Por: Luna Pontone
Foto: Divulgação

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Os serviços oferecidos pelos taxistas vêm sendo fundamentais para a população devido a sua praticidade na hora de chamar um táxi. A BHTrans, uma das empresas responsáveis pela mobilidade e transporte na Capital, preza pelo melhor atendimento envolvendo esse sistema de locomoção. Os avanços tecnológicos e os cursos ofertados pela empresa vêm sendo um dos maiores investimentos feitos em prol dos taxistas e da população.

Para que houvesse uma melhora no atendimento dos taxistas nesta Copa do Mundo, foram oferecidos vários cursos, não obrigatórios, tendo a participação voluntária do condutor. Além disso, foram realizadas campanhas para os operadores do serviço de táxi com a participação da BHTrans, do Serviço Social de Transporte (SEST) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT), que constou um DVD sobre os principais locais de interesse turístico de Belo Horizonte. A BHTrans diz ser a favor de qualquer inovação tecnológica que traga benefício ao sistema. Exemplo disso é a aderência dos taxistas pelos aplicativos de celular: Easy Taxi, Way Taxi e BH Táxi utilizando-os no lugar do rádio táxi. Esses aplicativos facilitam a comunicação entre os usuários e operadores e aperfeiçoa a operação do serviço.

No ano de 1990, Belo Horizonte foi considerado a cidade com o melhor serviço de táxi da América Latina. Já neste ano, no período de Copa, não podemos dizer o mesmo. Foram constatadas diversas falhas no atendimento tanto em BH quanto nas outras cidades sede dos jogos. Tarifas caras, cobranças indevidas, taxistas infratores e carros mal conservados foram um dos pontos destacados pelos turistas. De acordo com a BHTrans, a respeito da busca por um melhor atendimento, eles trabalham para que o serviço de táxi atenda as necessidades dos usuários e operadores e além de orientações que são repassadas eles também utilizam o avanço tecnológico para a regularidade e confiabilidade na prestação do serviço. Desde o dia 1º de junho de 2012, os veículos táxis de permissões outorgadas através da Concorrência Pública 02/2012, por força de Edital, possuem a biometria e atualmente o sistema de táxi é composto por 745 veículos com essa tecnologia.

Biometria nos táxis

 Para a BHTrans, a tecnologia da biometria nos táxis tem objetivo de monitorar, eletronicamente, a operação do serviço e melhorar a sua confiabilidade com a identificação digital do condutor. Vários dispositivos compõem a tecnologia, dentre eles um rádio móvel de comunicação com antena, instalado no carro, onde são feitos os registros e o armazenamento de todas as informações referentes à operação do veículo e aos dados do condutor. Essas informações são coletadas pela BHTRANS, via wireless, quando o taxista comparece com seu veículo na sede da BHTRANS. Isso vem ocorrendo desde o início de novembro de 2013. Segundo o órgão, o uso desta tecnologia é fundamental para que se garanta a qualidade dos serviços ofertados aos usuários do Sistema de Táxi do município de Belo Horizonte.

 Aceitação dos taxistas

Isaías Pereira, taxista há 50 anos, utiliza os aplicativos disponíveis há um ano. Segundo ele, esse novo sistema é espetacular principalmente porque é gratuito. Pereira disse não ter presenciado nenhum problema em relação ao sistema e escuta muitos elogios por parte dos passageiros. Tal aceitação vem pelo fato do passageiro ter condições de saber que o carro está indo para atendê-lo, sendo totalmente ao contrário do rádio táxi. Ao utilizar o sistema de rádio, o passageiro acaba esperando enquanto o atendente acaba retornando a ligação para a própria pessoa que pediu o táxi informando que não conseguiu um, enquanto no aplicativo ele consegue visualizar que a pessoa está indo atender seu chamado.

Isaías Pereira – Taxista

Texto e Foto: Bárbara Carvalhaes

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O Centro de Arte Popular – Cemig abriga até o dia 5 de outubro a exposição Brasil Indígena – Herança e Arte, que mostra através de fotografias e objetos indígenas, os costumes de diversas aldeias indígenas do Brasil. Meios de subsistência, artefatos relacionados a atividades agrícolas de caça e pesca e, alguns utilizados em rituais mágicos e lúdicos.

O antropólogo e documentarista Pedro Portella, que participa do Projeto Vídeo nas Aldeias, destaca que já conviveu com mais de duas dúzias de índios em diversas aldeias do Brasil. Segundo ele, exposições como essas são fundamentais, pois a arte ameríndia está completamente ligada à vida do índio por ser parte do seu cotidiano.  Suas artes são feitas para suprir as necessidades sociais e não são como obras europeias que possuem sua produção voltada para os museus.

“O estudo aprofundado sobre os indígenas deveria fazer parte da grade curricular das escolas e universidades, pois é um universo muito rico”, ressalta o antropólogo.  Para ele, os indígenas em geral são no mínimo bilíngues, por que a comunicação com os outros grupos é vital. Portanto ao contrário de nossa sociedade, que coloca as crianças em cursos de inglês, no caso deles isso vem do berço, ou é consequência dos casamentos Inter étnicos.

 Adereços e Ritos de Passagem

 O cocar (adereço utilizado pelos índios) dentre outros artigos usados em celebrações e ritos de passagem podem se relacionar com alguns costumes urbanos. O rito de passagem, por exemplo, que o índio sofre na fase adolescente-adulto pode ser considerado através da primeira menstruação de uma índia e, aqui pela sua festa de 15 anos. Para Portella, esses ritos são de extrema importância, “Sem eles uma aldeia ou grupo pode perder sua identidade”, destaca.

 Vídeo nas Aldeias

O projeto em que o documentarista e antropólogo Pedro participa, ensina os indígenas a ter presença no universo audiovisual de modo em que levam câmeras para as tribos e ensinam os índios a manusear os equipamentos.

Ao contar de suas experiências nas aldeias indígenas, Portella disse ter ido vacinado, tanto de febre amarela que é obrigatório quanto por ter lido vários livros e artigos sobre o assunto. Conforme ele tem que ir de cabeça aberta para esses estudos e trabalho, porque acaba enfrentando várias situações,  como ter que fazer suas necessidades fisiológicas no mato.

Conheça mais sobre o projeto Vídeo nas Aldeias

Texto: Bárbara Carvalhaes
Foto: Divulgação

Conexão BH está chegando ao fim de sua 14ª edição. A programação extensa seguiu por toda a Copa do Mundo. Durante os meses junho e julho, o projeto vem conectando diversos estilos musicais e ocupando lugares inusitados, como as Estações do BRT-Move, Mercado do Cruzeiro, Mercado das Borboletas, Casa dos Jornalistas e o já conhecido, Parque Municipal Américo Renné Giannetti.

“A ocupação da cidade em 27 dias em lugares distintos, contou com uma programação descentralizada, dando oportunidade tanto para os artistas se apresentarem em locais que nunca imaginaram e para o público que nunca pensaria em ver um show numa estação, por exemplo,” diz o produtor Maurílio Kuru Lima. A programação foi focada na cena musical e cultural da capital mineira, tendo em vista sua diversidade, a produção do evento buscou “conectar” forró, samba, rock, música eletrônica, rap e vários outros estilos em uma extensa programação agradando a todos.

 A tradição do Conexão BH no Parque Municipal não poderia ter sido melhor! Em três dias de programação, a estrutura contava com dois palcos, um espaço de música eletrônica, barracas de restaurantes e uma feirinha. O show mais esperado, segundo o público, era do cantor e percussionista pernambucano Otto. “Não é a primeira vez que o Otto toca em BH, mas é sempre como convidado de outra banda. Agora ele está aqui, com um show só dele, isso é fantástico”, ressaltou a estudante Mariana Rios.

 Além da grande atração do Parque, bandas independentes e de outros países puderam se apresentar. Durante os intervalos dos shows, o Samba da Meia Noite com todo seu batuque fazia um cortejo pelo Parque, acompanhado pelo público que sambava e se divertia. Durante 27 dias de programação, 130 atrações ocuparam a cidade.

 Conexão consciente!

 Nesta 14ª edição, foi pensado uma campanha de conscientização ambiental #MeuCopoEco. Um sistema de empréstimo de copos reutilizáveis, onde o público tem a opção de comprar ou alugar o um copo no valor de R$ 5,00 reais. Ao final do evento, quem alugou, pode devolver e pegar o dinheiro de volta ou levar o objeto como recordação.

O Conexão BH chega ao fim no dia 13 de julho. Para comemorar o dia mundial do Rock, a programação de encerramento será no Mercado das Borboletas, com o evento chamado Virada do Rock.

 Mais informações: https://www.facebook.com/conexoeslivres?fref=ts

Texto: Lívia Tostes

Foto: Luis Gustavo Lima

Belo Horizonte é a terceira cidade que mais tem recebido estrangeiros durante a Copa. Pouca sinalização de placas e pessoas mal preparadas para atender os visitantes em outro idioma fazem parte deste cotidiano. Não é apenas os hoteleiros que precisam de uma boa preparação nesse período mas os taxistas também.

O taxista João Batista, que exerce a profissão há 17 anos, faz uma grave denúncia ao falar sobre a preparação dos profissionais para receberem os turistas durante  o mundial. Segundo ele, a demanda de drogas, prostituição e bandidagem subiu muito neste período. Esse aumento não foi acompanhado, segundo ele, por um crescimento no número de corridas, ponto estas que estão sendo feitas, em sua maioria, por parte de translado. João alega que a única preparação que teve  veio por meio de uma orientação que recebeu por parte das Policias juntamente com a BH Trans no qual proíbe, que eles (taxistas) levem qualquer estrangeiro na Delegacia. Em caso de comparecimento eles seriam detidos com seus carros, enquanto o gringo seria liberado e eles continuariam na delegacia até todos os fatos serem apurados. Outro problema que, de acordo com João, os taxistas estariam enfrentando seria a diferença entre os câmbios. Ao realizarem a conversão de moedas, os taxistas não estariam conseguindo vender pelo preço real.

A partir da denúncia recebida, procuramos o Centro de Apoio aos Taxistas. José Estevão, presidente do Centro, nos passou algumas informações sobre a frota de táxis de Belo Horizonte. Esta que sofreu um aumento de 40% no número de corridas no período que vem recebendo a Copa do Mundo. De acordo com ele, a falta de informação para os estrangeiros ocorre devido às poucas placas de sinalização na cidade e que a provável dificuldade que os taxistas possam enfrentar ao lidar com os turistas dentro do carro é por parte do idioma. Para que essa dificuldade de comunicação não acontecesse, foram ofertados vários cursos de turismo e idiomas antes da Copa, mas para que a realização destes cursos causassem efeitos, dependia apenas da boa vontade de cada taxista participar do projeto.

Rogério Siqueira, que é taxista há 6 anos, disse que o número de corridas realmente não aumentou como o esperado pois os estrangeiros já possuem responsáveis que fazem seu descolamento ou então fazem isso por conta própria, principalmente os que estão hospedados da região do centro. Ele confirma que realmente houve um oferecimento de cursos de idiomas, no qual presenciou aulas de espanhol já que fazia curso de inglês por conta própria e disse que isso o tem ajudado bastante ao se comunicar com os estrangeiros que fazem viagem com ele.

A BH Trans não quis se pronunciar sobre o assunto, alegando que apenas a Polícia Militar poderia responder. Esta também não se pronunciou sobre as acusações.

 Texto e Foto: Bárbara Carvalhaes

Em Belo Horizonte as manifestações este ano tiveram uma baixa adesão em comparação com o mesmo período em 2013. Para entender essa mudança de comportamento o jornal Contramão conversou com o sociólogo Yurij Castelfranchi e o colunista Pedro Munhoz, que fizeram uma análise sobre os protestos em Belo Horizonte e seus possíveis desdobramentos.

 Em 2013 as manifestações mobilizaram um grande número de pessoas às ruas, neste ano em BH o número reduziu consideravelmente, você observou com surpresa essa redução do número pessoas?

Nenhuma surpresa era exatamente o esperado. Como sociólogo, desde os fatos das manifestações de setembro e sua repressão, não tinha dúvida de que as manifestações atuais tivessem essas características, embora como cidadão que participa das manifestações torci e tentei contribuir para um alcance e participação maior.

A polícia especificamente em BH age de forma intimidadora, você vê como uma violação a constituição ou é somente uma ação preventiva à minoria que vai a esses movimentos a fim de depredar o patrimônio público\privado?

Infelizmente, a polícia agiu de forma bastante irregular, e foram denunciados diversos abusos que não podem ser justificados de forma alguma a partir do comportamento ilegal de alguns manifestantes. Se até a polícia viola a lei, não tem esperança para a política e a democracia.

 A violência da polícia contribuiu para o aumento das manifestações?

No ano passado sim, foi um dos vários gatilhos que contribuíram para a avalanche.  Neste ano não, porque a grande maioria dos manifestantes do ano passado já não encontrava nas pautas atuais e na forma atual motivação para a ação.

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

A necessidade inadiável e imprescindível de reformar a politica, a justiça, a polícia.  De repensar a máquina de decidir que chamamos de democracia.

 Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

Um desafio e um perigo: caso esta necessidade, este grito das ruas não seja levado a sério, o risco é a degenera da vida política, o surgimento de uma antipolítica e de formas radicais de populismo fundamentalista, como já aconteceu, por exemplo, na Itália. Os partidos políticos têm que voltar a pensar mais em programas e ideais, e menos em alianças e marketing.

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

 As manifestações de junho de 2013 serviram como uma primeira experiência de ação política nas ruas para toda uma geração de brasileiros. Nesse sentido, por mais difusas e contraditórias que fossem as pautas levantadas por manifestantes de diferentes interesses, pode-se dizer que o saldo, de uma forma geral, foi positivo. As ruas se transformaram em uma ampla arena de trocas (e de enfrentamentos), onde pessoas desde sempre mais ou menos alheias às reivindicações dos movimentos sociais se confrontaram com aspirações e demandas antigas de vastos setores da sociedade que, na verdade, nunca tinham saído das ruas. Além disso, parece ter aflorado em parte dos brasileiros o hábito de trazer a política para mais perto de seu cotidiano. Isso é perceptível: pessoas que se enxergavam como alheias ao processo político ou enxergavam a política como um ente essencialmente maligno, corruto e distante, sentem-se agora mais aptas para discutir o assunto. Os protestos ajudaram a gerar nos mais jovens a consciência de que eles mesmos são e devem ser agentes políticos.

Por outro lado, as manifestações acabaram abrindo espaço para discussões urgentíssimas, como a relativa à desmilitarização das polícias e o direito à fruição dos espaços públicos. Os protestos acabaram por levar a realidade da violência policial para a classe média e isso leva uma discussão antes restrita às pessoas e entidades que militam pelos Direitos Humanos para um público mais amplo.

Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

 A presença de pessoas nas ruas diminuiu consideravelmente em 2014. Em parte isso se deve à postura da grande imprensa, que insiste em pintar os protestos como se fossem o tempo todo um cenário de guerra. Ajudou-se a criar essa imagem de que quem vai às ruas é sempre violento e isso, naturalmente, amedrontou as pessoas. Não se enfatizou que boa parte dos confrontos, na verdade, começaram com a atuação desmedida das forças policiais, o que levou muita gente a concordar com ações policiais absurdas, como as que vimos recentemente em Belo Horizonte e São Paulo.

Pedro Munhoz

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

 As manifestações de junho de 2013 serviram como uma primeira experiência de ação política nas ruas para toda uma geração de brasileiros. Nesse sentido, por mais difusas e contraditórias que fossem as pautas levantadas por manifestantes de diferentes interesses, pode-se dizer que o saldo, de uma forma geral, foi positivo. As ruas se transformaram em uma ampla arena de trocas (e de enfrentamentos), onde pessoas desde sempre mais ou menos alheias às reivindicações dos movimentos sociais se confrontaram com aspirações e demandas antigas de vastos setores da sociedade que, na verdade, nunca tinham saído das ruas. Além disso, parece ter aflorado em parte dos brasileiros o hábito de trazer a política para mais perto de seu cotidiano. Isso é perceptível: pessoas que se enxergavam como alheias ao processo político ou enxergavam a política como um ente essencialmente maligno, corruto e distante, sentem-se agora mais aptas para discutir o assunto. Os protestos ajudaram a gerar nos mais jovens a consciência de que eles mesmos são e devem ser agentes políticos.

Por outro lado, as manifestações acabaram abrindo espaço para discussões urgentíssimas, como a relativa à desmilitarização das polícias e o direito à fruição dos espaços públicos. Os protestos acabaram por levar a realidade da violência policial para a classe média e isso leva uma discussão antes restrita às pessoas e entidades que militam pelos Direitos Humanos para um público mais amplo.

 Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

A presença de pessoas nas ruas diminuiu consideravelmente em 2014. Em parte isso se deve à postura da grande imprensa, que insiste em pintar os protestos como se fossem o tempo todo um cenário de guerra. Ajudou-se a criar essa imagem de que quem vai às ruas é sempre violento e isso, naturalmente, amedrontou as pessoas. Não se enfatizou que boa parte dos confrontos, na verdade, começaram com a atuação desmedida das forças policiais, o que levou muita gente a concordar com ações policiais absurdas, como as que vimos recentemente em Belo Horizonte e São Paulo.

Como você vê a ação da polícia durante as manifestações de 2014?

No primeiro dia de protestos, no dia da abertura da Copa, um imenso contingente policial foi deslocado para a Praça da Liberdade para proteger o Relógio da Copa. A imagem era chocante: centenas de policiais protegendo aquilo que, para muitos, era um símbolo da FIFA. O comando da PM parece ter se descuidado de deslocar seus efetivos para as proximidades e isso resultou em danos ao patrimônio público e privado. Depois, desconhecendo o caminho do meio e se negando a fazer qualquer esforço minimamente razoável para permitir as manifestações e o patrimônio, a polícia foi a outro extremo. Ao invés de cercar o relógio da Copa ou qualquer outro único bem, cercou os manifestantes e os impediu de sair de um espaço restrito por horas. A tática é conhecida como Caldeirão de Hamburgo, por ter sido utilizada para conter manifestantes na Alemanha da década de 80. Cercaram os manifestantes com pesadíssimo aparato policial armado e os impediram de sair dali, frustrando ao menos dois direitos constitucionais: o direito de ir e vir e o direito à de manifestar-se em espaços públicos. Embora muita gente aprove, temos que ter em mente que é ilegal e que a polícia precisa se esmerar para cumprir suas funções institucionais sem atropelar as liberdades constitucionais de ninguém. Junte-se a isso várias denúncias de prisões irregulares, provas forjadas e violência injustificada e teremos a certeza de que a PMMG, assim como as demais polícias militares brasileiras, são completamente despreparadas para uma democracia.

Você considera a ação inconstitucional?

 Sim, pelos motivos que listei acima.

A liminar foi derrubada, no seu entendimento há chances de uma reviravolta?

Embora eu tenha a convicção de que a razão está do lado dos movimentos sociais que impetraram o Mandado de Segurança para impedir a adoção da tática pela polícia, sou pessimista. É possível que se consiga a revogação da decisão que cassou a liminar, mas temos visto tantos e tão recorrentes atropelos dos direitos constitucionais tanto pela polícia quanto pelo judiciário, que começo a crer que quem deveria resguardar as leis a estão ignorando por mera conveniência política. Ou por costume, não sei. Veja-se o caso de Rafael Vieira, condenado pela justiça carioca por portar água sanitária e pinho sol, para citar um caso.

Entrevista Gabriel Amorim e Luna Pontone

Foto: João Alves