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No início da tarde desta terça-feira, a Comissão de Prevenção à Violência em Manifestações Populares se reuniu na Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para avaliar a condução dos conflitos ocorridos durante a manifestação de sábado. Outra reunião foi convocada para às 17h para discutir as medidas a serem adotadas no ato marcado para esta quarta-feira, 26, visando garantir que as manifestações se desenvolvam de forma pacífica.

O deputado Rogério Correia, representante da ALMG na comissão, declarou que a comissão reconhece a legitimidade das manifestações e demonstra preocupação com a forma de reação da PM aos protestos. “O objetivo do encontro é debater mecanismos de prevenção de confrontos e demais atos de violência”, ressalta.

Também fazem parte da comissão membros do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), da Defensoria Pública, das Polícias Militar e Civil, da Câmara Municipal de Belo Horizonte e do Conselho Estadual de Direitos Humanos, além de representantes de movimentos sociais que participam das manifestações.

Ministério Público faz plantão durante manifestações

Durante o último final de semana, a ouvidoria do MPMG realizou plantão em conjunto com a Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos para receber denúncias de agressões perpetradas durante os atos de protesto. De acordo com a assessoria de comunicação do órgão foram encaminhadas quatro denúncias para a instauração de procedimentos investigatórios. Nesta quarta-feira, 26, também haverá plantão na sede do MPMG, que contará com integrantes da PMMG, do Corpo de Bombeiros, da Defensoria Pública e advogados da OAB/MG.

Na tentativa de evitar conflitos violentos durante as manifestações populares que ocorrerão nesta quarta-feira, 26, o MPMG encaminhou recomendação aos órgãos que integram o sistema de Defesa Social do Estado de Minas Gerais, em razão das recentes denúncias de possíveis excessos na conduta e abordagem policial.

Entre os itens está a integração entre as Polícias Militar e Civil, no sentido de que todas as pessoas que forem presas sejam levadas a um único local, evitando que os detidos sejam mantidos em unidades da Polícia Militar. Também consta do documento a orientação de que todos os agentes da força pública portem a etiqueta de identificação policial visível durante toda a operação.

Em relação ao uso de armas de baixa letalidade, o MPMG recomenda que sejam utilizadas apenas quando estritamente necessário. Ainda segundo o órgão, devem ser mantidas a salvo as atividades exercidas por repórteres, fotógrafos e demais profissionais de comunicação.

Por: Fernanda Fonseca

Foto: João Alves

A manifestação que ocorreu no sábado, 22, e reuniu 125 mil pessoas nas ruas de Belo Horizonte, mais uma vez terminou em conflito. Após serem recebidos, próximo a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e soldados da Guarda Nacional com bombas de efeito moral e tiros de bala de borracha, os manifestantes foram acuados e voltaram para o centro de Belo Horizonte, onde o conflito continuou por algumas horas. No caminho de volta ao centro da capital, concessionárias de carros, bancos, pontos de ônibus e uma universidade foram depredados por ações de vândalos.

No domingo, 23, às 14:00, os comandantes das Polícias Militar e Civil, deram uma entrevista coletiva para explicar as ações de sábado. Segundo o Comandante da PMMG, coronel Márcio Sant’Ana, “era preciso dispersar a turba enfurecida, que não deixou outra saída para a Polícia Militar”. Ainda segundo o coronel a PMMG não reagiu, “apenas se defendeu”.

Ainda na coletiva o delegado da Polícia Civil, Cylton Brandão, disse que existem vândalos de outros estados infiltrados nas manifestações. “Temos cerca de 30 pessoas já identificadas e estamos fazendo a correlação entre elas e os grupos organizados que têm praticado atos violentos na capital”, disse o delegado.

Rumos do movimento

Neste domingo, 23, foi realizada uma assembleia popular para definir as próximas ações dos manifestantes. Ficou acertado que a concentração do novo manifesto será na próxima quarta-feira, 26, na Praça 7, às 12:00hs. Quando serão definidas as propostas a serem feitas aos governantes. Entre os temas estão mobilidade urbana, minorias e direitos humanos, ação da polícia e meio ambiente.

Por João Vitor Fernandes

Foto: Heberth Zschaber

Manifestantes voltaram às ruas em diversos pontos de Belo Horizonte na tarde de hoje, 19. A concentração aconteceu na Praça Sete, mas não havia um destino certo para seguir a partir dali. A presença de grupos distintos, sem liderança definida, dificultou a tomada de decisões. Alguns membros pretendiam seguir para a Praça da Estação, outros queriam se dirigir até a Prefeitura. Uma certa desorganização foi percebida hoje, sem, no entanto, retirar a validade das manifestações.

 Um grande grupo saiu da Praça Sete e seguiu pela avenida Afonso Pena em direção à Praça da Assembléia. Parou em frente à Prefeitura Municipal e se dirigiu à avenida João Pinheiro, sentido Praça da Liberdade. Neste percurso, o grupo se dividiu duas vezes: na primeira,um pequeno aglomerado de manifestantes ficou na frente da Prefeitura, enquanto a massa seguia em direção à Praça da Liberdade. Neste trajeto, voltaram a se dividir em dois blocos quando passaram pelo Detran, se reencontrando na altura da Rua da Bahia com a Gonçalves Dias, por onde seguiram até a praça da Assembléia.

Por várias vezes o grupo se dispersou, não obedecendo a pedidos de outros manifestantes que davam instruções para seguir por outro caminho. As reivindicações eram também diversas. Várias bandeiras distintas foram erguidas: legalização da maconha, maior assistência governamental em saúde e educação, repúdio às despesas ligadas a Copa das Confederações e Copa do Mundo, defesa da população de rua, preço da passagem.

Não havia policiais fardados próximos à praça Sete. Eles se juntaram ao grupo na subida da avenida João Pinheiro, onde viaturas do tático móvel acompanharam a passeata. O ato foi pacífico. No entanto, ocorreram pequenas confusões pontuais, causadas por dissidentes, que eram expulsos pelos próprios manifestantes. Um grupo que soltou bombas foi reprimido e algumas pessoas foram entregues aos policiais militares. A cada ato de violência a massa de presentes bradava palavras de ordem como: “Sem violência”, “Sem vandalismo”, “Não me representa”, “Vacilão”. O grupo também evitou que um indivíduo subisse as paredes da Prefeitura.

A manifestação realizada hoje não foi organizada pela Comitê Popular de Atingidos pela Copa (COPAC). Via-se cartazes assinados pelo Movimento Câmara Transparênte BH e a Polícia Civil também montou uma tenda para apoiar os manifestantes, mas o movimento não tinha à frente nenhuma organização.

O perfil da COPAC será a responsável por criar eventos, conforme decidido na assembléia popular, que contou com a presença de cerca de 500 pessoas no Viaduto Santa Tereza, na terça-feira, 18. O objetivo é que o coletivo seja referência para os convidados. Até agora estão agendados dois atos, um amanhã, às 17 horas, e outro no sábado, às 10 horas. Em ambos a concentração será na Praça Sete. Além destas manifestações, outra assembléia popular foi marcada para domingo, às 15 horas, debaixo do Viaduto Santa Tereza. A COPAC, em seu perfil no Facebook, emitiu nota a respeito das decisões tomadas na assembléia realizada na terça-feira.

Por Alex Bessas e Fernanda Fonseca

Foto por Alex Bessas

Fui pautado pelos editores do jornal Contramão para cobrir as manifestações dos estudantes na Avenida Antonio Carlos, em frente ao campus da UFMG, às 17hs, da última terça-feira, 18. Cheguei ao campus da universidade com o movimento ainda no inicio. Os gritos que já ecoavam pela cidade há dois dias eram cantados pelas vozes que sonhavam em ser escutadas pela sociedade.

Fiquei por um tempo acompanhando as manifestações, porém, tive que voltar para a faculdade. As provas semestrais me tiravam da linha de frente e me faziam recuar e acompanhar as mobilizações pela internet. No campus da UFMG eram aproximadamente seis mil pessoas, na Praça Sete outras duas mil.

Mais uma vez a população tomou as ruas e os manifestantes começaram a marchar rumo a Praça da Liberdade, ponto simbólico do governo mineiro. Percebendo este movimento, termino minha prova e volto às ruas para acompanhar de perto a caminhada dos estudantes.

Neste caminho, por volta das 21:40hs, as coisas começaram a tomar outros rumos. Um pequeno grupo de vândalos infiltrados no movimento pacífico depredou o patrimônio público e privado da cidade. Identificados os arruaceiros, conversei com eles amistosamente, na tentativa de entender o motivo de tanta revolta.

O grupo, que preferiu ser identificado como sendo de anarquistas, disse que também é contra a depredação do patrimônio público, mas quebraram o relógio da copa porque é um monumento de uma empresa privada. Os componentes desse grupo disseram ainda que esta foi a forma que encontraram para protestar contra a copa organizada pela FIFA. Vale lembrar que a destruição não chegou somente ao relógio da Copa, atingindo ainda agências bancarias, o “Pirulito” da Praça Sete e o prédio da prefeitura de Belo Horizonte.

Após a represália do movimento aos vândalos, o protesto voltou aos trilhos e terminou com os manifestantes cantando o Hino Nacional na porta do Palácio da Liberdade. O povo está ocupando as ruas, os jovens querem gritar por seus direitos. Mas, infelizmente, algumas pessoas querem manchar este momento histórico do país!

Trabalhar na cobertura destes protestos está me fazendo acreditar a cada dia mais em um futuro melhor. Quando conseguir tirar as frutas podres do cesto, este movimento vai conquistar o que busca: respeito!

Por João Vitor

Foto: Hemerson Morais

Nesta segunda feira, 17, vi um dos momentos mais marcantes para mim na manifestação que levou 30 mil pessoas às ruas. Lembro que vi os olhos do Hemerson Morais, que fazia a cobertura fotográfica da manifestação comigo, ficarem vermelhos e vi sua boca tremer. Ele estava chocado, estava emocionado, estava chorando, no momento em que uma chuva de papel picado saudava os manifestantes no centro da cidade. Ele dizia para mim “esperei anos por isso, João”, enquanto espremia os dedos contra os seus olhos, emocionado ao ver o povo nas ruas.

Às 7:30 da manhã, o clima tenso já era visível em BH. As pessoas pareciam receosas. Creio eu que elas já sabiam do protesto que iria acontecer logo mais à tarde. Ao chegar à Praça Sete, ponto de encontro dos manifestantes, percebi que aquilo seria bem diferente da outra  manifestação que ocorreu no último sábado, 15. Tudo parecia maior, a quantidade de manifestantes, a determinação deles, o grito, tudo.

Fui ao encontro do meu colega de trabalho para que começássemos a nossa cobertura fotográfica. No começo foi um pouco difícil, pois ainda não havia uma organização por parte deles e muitos estavam entusiasmados. Tive a ideia de entrar em um dos prédios comerciais do centro e tentar tirar algumas fotos da sacada. Ao chegar à sacada, fiquei ainda mais impressionado com a quantidade de pessoas na manifestação. Mineiro é conhecido por comer quieto e ali estava a prova que não é bem assim. Milhares de pessoas se reuniam em volta da praça e elas só queriam uma coisa: serem ouvidas.

A passeata começou e eu ainda estava no prédio. Foi um corre-corre, pois não poderia perder nenhum momento. Depois de alguns quarteirões, consegui chegar na frente deles. Hemerson, avistou uma árvore na avenida Afonso Pena e sugeriu que eu subisse nela, afinal uma foto do alto seria bem melhor para registrar a amplitude da manifestação.

A partir daí, foi como se eu estivesse em um camarote e não era carnaval. As pessoas trocaram as alegorias por cartazes e gritavam bem alto os gritos de protesto. Ali não havia repressão ou censura, ali era a voz do povo. Depois de um tempo, desci , levando alguns belos arranhões, e segui o rumo da passeata.

As pessoas pararam em frente à Praça da Rodoviária e ali a concentração dos manifestantes só aumentava. Pequenos papéis começaram a cair dos prédios altos da redondeza e as pessoas começaram a ovacionar cada vez mais alto.

Chegando ao Viaduto da Lagoinha, me separei de meu companheiro de trabalho e segui em rumo diferente. A sensação de liberdade tomava conta de mim e de todos. Eu andava livremente em um dos maiores viadutos de BH, que todos os dias ficam abarrotados de carro e ônibus, mas ali só existíamos nós. Continuei com a cobertura fotográfica, cada hora era algo diferente. Se não era um cartaz, era um grito de protesto ou uma tribo diferente.

Caminhamos e os manifestantes prosseguiam entoando diversas frases ao som de uma turma que tocava tambores e apitos. Os manifestantes não pareciam nem um pouco cansados, ao contrario de mim. Eu estava correndo entre uma ladeira e outra para conseguir fotos mais panorâmicas. A solução foi subir em um viaduto em frente ao IAPI e fotografar aquela multidão que cada vez ia chegando mais perto e gritando “desce, pedreira”, fazendo referência ao aglomerado ali perto.

Ao longo do percurso, pequenas paradas para que as pessoas que vinham por ultimo não ficassem muito para trás. E aconteceu tudo que não podia acontecer com um fotógrafo: minha bateria acabou. Tentei conversar com alguns outros fotógrafos para que eles pudessem emprestar uma bateria, mas é claro que todos só tinham uma. Resolvi continuar acompanhado, mas agora registrava tudo na minha cabeça.

Ao chegar ao bairro Nova Cachoeirinha, os manifestantes se encontraram com o cordão da PM, que impedia a passagem deles.  Os moradores da redondeza saíram de suas casas e foram para rua ver o grande movimento. Algumas soltaram fogos de artifícios e levantaram cartazes a favor do protesto. Durante este período, transitei  por todos os lados da manifestação. Fui no meio, aos lados e na linha de frente. Ali percebi que tinha ficado de fora do grupo da imprensa que fazia a cobertura atrás do cordão policial. Tentei argumentar com um dos policiais para que eu pudesse atravessar e me juntar aos outros fotógrafos, mas não obtive sucesso.

O clima ali na frente começou a esquentar. Na verdade, as pessoas que estavam na frente se destacavam muito dos outros manifestantes, gritando que iriam avançar e que “protesto sem sangue não é protesto”. Os líderes e organizadores tentavam acalmar os ânimos desses manifestantes gritando “sem violência” e logo depois sendo ouvido o grito em coro.

A polícia cedeu e a passeata continuou rumo ao Mineirão.  Nesta hora, o sol começava a se por e eu começava a deduzir que aquilo ira render até à noite. O cansaço bateu e as minhas pernas começaram a pesar. Encontrei com um professor da faculdade que sugeriu que eu voltasse com ele de táxi. Logo pensei: “obrigado, Deus!”.

Deixei a manifestação de corpo, mas em mente parecia que eu ainda estava lá. O assunto dentro do táxi era a manifestação. O assunto nos ônibus parados no corredor era a manifestação. O assunto no Brasil inteiro era as manifestações.

Ao chegar na redação do jornal, recebi a noticia que a policia havia entrado em confronto com os manifestantes e que o clima estava pesado. Sinceramente não acreditei de primeira, mas quando me lembrei do aquele pequeno grupo que gritava “protesto sem sangue não é protesto”, me toquei que manifestantes sem foco talvez pudessem levar todo um ato pacifico  a se tornar um show de horrores.

 

Por João Alves

Foto: João Alves

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Mídias sociais como Facebook, Twitter, YouTube e Instagram têm sido uma das principais formas de propagação do surto de manifestações que tomaram conta do país. Além de ser uma forma de reunir e organizar os protestos, elas são usadas para relatar o que está acontecendo em tempo real, reunindo textos, fotos e vídeos. Os veículos de imprensa também tem feito largo uso dessas redes na cobertura das manifestações. O jornal Hoje em Dia, no decorrer da tarde de ontem, usou seu perfil no Facebook e Twitter para fazer postagens com links para as reportagens sobre a manifestação. Também publicaram tweets informando a situação de tráfego nas vias afetadas.

Assim como os demais veículos, o portal O Tempo mobilizou parte da equipe para acompanhar as manifestações in loco, fazendo várias fotos desde o início da passeata. Durante essa reportagem, o iPhone usado pelo jornalista Bernardo Miranda foi quebrado pelo major Jean Carlos, da Polícia Militar. O jornal Estado de Minas usou uma estratégia diferente, optando pela prática de jornalismo colaborativo, criando uma galeria com as fotos enviadas via Twitter por participantes do ato e outra feitas por jornalistas do EM. No caso do Estado de Minas, o uso do Facebook foi semelhante a estratégia usada pelo jornal O Tempo.

Mídias alternativas também fizeram a cobertura das manifestações pelas redes sociais. O BH nas Ruas convocou colaboradores a enviar material, utilizando o mote “Cobertura colaborativa das manifestações populares em Belo Horizonte. A revolução vai ser filmada por você“. No Twitter e Facebook, o grupo fez a cobertura em tempo real, usando as próprias redes como seu portal, veiculando vídeos e fotos feitos durante os protestos por colaboradores ou por manifestantes.

O Contramão foi o único jornal laboratório de Minas Gerais a fazer a cobertura em tempo real dos protestos em BH durante a tarde e noite de ontem. Através do perfil no Facebook e no Twitter, a equipe se empenhou em apurar fatos denunciados nas redes, os repórteres presentes na redação acompanharam as postagens através de hashtags nas duas mídias. Além disso, acompanhavam manifestações de perfis oficiais do Corpo de Bombeiros, Prefeitura de BH e de outros veículos. A equipe responsável pela cobertura em campo, além de produzir fotografias informavam constantemente sobre o que estava acontecendo através de contatos telefônicos, através dos quais transmitiam entrevistas e mais informações.

Por Alex Bessas e Juliana Costa