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Mídias sociais como Facebook, Twitter, YouTube e Instagram têm sido uma das principais formas de propagação do surto de manifestações que tomaram conta do país. Além de ser uma forma de reunir e organizar os protestos, elas são usadas para relatar o que está acontecendo em tempo real, reunindo textos, fotos e vídeos. Os veículos de imprensa também tem feito largo uso dessas redes na cobertura das manifestações. O jornal Hoje em Dia, no decorrer da tarde de ontem, usou seu perfil no Facebook e Twitter para fazer postagens com links para as reportagens sobre a manifestação. Também publicaram tweets informando a situação de tráfego nas vias afetadas.

Assim como os demais veículos, o portal O Tempo mobilizou parte da equipe para acompanhar as manifestações in loco, fazendo várias fotos desde o início da passeata. Durante essa reportagem, o iPhone usado pelo jornalista Bernardo Miranda foi quebrado pelo major Jean Carlos, da Polícia Militar. O jornal Estado de Minas usou uma estratégia diferente, optando pela prática de jornalismo colaborativo, criando uma galeria com as fotos enviadas via Twitter por participantes do ato e outra feitas por jornalistas do EM. No caso do Estado de Minas, o uso do Facebook foi semelhante a estratégia usada pelo jornal O Tempo.

Mídias alternativas também fizeram a cobertura das manifestações pelas redes sociais. O BH nas Ruas convocou colaboradores a enviar material, utilizando o mote “Cobertura colaborativa das manifestações populares em Belo Horizonte. A revolução vai ser filmada por você“. No Twitter e Facebook, o grupo fez a cobertura em tempo real, usando as próprias redes como seu portal, veiculando vídeos e fotos feitos durante os protestos por colaboradores ou por manifestantes.

O Contramão foi o único jornal laboratório de Minas Gerais a fazer a cobertura em tempo real dos protestos em BH durante a tarde e noite de ontem. Através do perfil no Facebook e no Twitter, a equipe se empenhou em apurar fatos denunciados nas redes, os repórteres presentes na redação acompanharam as postagens através de hashtags nas duas mídias. Além disso, acompanhavam manifestações de perfis oficiais do Corpo de Bombeiros, Prefeitura de BH e de outros veículos. A equipe responsável pela cobertura em campo, além de produzir fotografias informavam constantemente sobre o que estava acontecendo através de contatos telefônicos, através dos quais transmitiam entrevistas e mais informações.

Por Alex Bessas e Juliana Costa

O “deitado eternamente em berço esplêndido” da capital mineira e do país acordou. Na tarde para noite de ontem, 17,  uma multidão considerável foi novamente para a Praça Sete e fechou o cruzamento mais importante do centro de Belo Horizonte. A maioria era de jovens com máscaras, cartazes nas mãos e muita raça e vontade de mudança. Mais cedo, a partir das 13h,  já havia ocorrido o primeiro protesto da capital com mais de 20 mil pessoas. Não satisfeitos, os manifestantes voltaram ao ponto principal e reavivaram a voz do movimento.

Por volta das 19 horas o protesto retomou voz e vez, quando os participantes gritaram frases de protestos, mostrando descontentamento com o atual cenário político e econômico do país. A Polícia Militar que havia rechaçado os manifestantes mais cedo, agora  acompanhava todo o movimento a mais ou menos 100 metros de distancia. O quarteirão das avenidas Afonso Pena e Amazonas foi cercado e fechado pela cavalaria e pela frota de carros da PMMG. O protesto se manteve pacífico em todo o trajeto.

Uma peculiaridade marcante estava no fato de que varias faixas etárias faziam parte da passeata. Um cordão humano foi feito por alguns estudantes na Avenida Afonso Pena. Logo depois, eles sentaram-se ao redor do Pirulito na Praça Sete, como forma de mostrar que não tinham a intenção de sair do local. O último protesto da noite terminou  por volta de 23:00, na porta da prefeitura, com uma certa exaltação dos ânimos, porém, logo em seguida, os manifestantes retornaram ao ponto inicial, retomando os gritos de guerra.

Por: Aline Viana

Fotos: Aline Viana

Vídeo: Ana Paula Gonzaga

O sol refletia nas janelas dos carros parados no sinal, os carros que fechavam o cruzamento. E batia também na minha pele que já começava a ficar vermelha. No momento em que o motorista se aproximou do meio fio, foi obrigado a abrir as portas para que as pessoas pudessem descer e caminhar até seu destino final. Percebi que alguns deles estavam a caminho da manifestação, esperando ansiosos pela oportunidade de gritar pelos direitos que estão sendo praticamente negados. Para os outros, restava avisar a seus chefes o atraso.

O que se ouvia eram buzinas e reclamações de motoristas, passageiros, pedestres e trabalhadores do local, que não entendiam o que estava ocorrendo poucas quadras acima, na Praça Sete. Quem estava informado tentava repassar a informação. Enquanto isso, comerciantes da região aglomeravam-se na porta de suas lojas, alguns com buzinas e perucas verde-amarelas, participando quase sem querer daquilo que marcaria a cidade de Belo Horizonte e todo Brasil na segunda feira, 17.

Aos poucos, o transito fluía e pude observar, mesmo que de longe, uma pequena parte de manifestantes gritando em meio a Avenida Afonso Pena. Nunca tinha viso nada igual, nem quando criança, nas oportunidades em que meus pais me traziam ao centro para assistir o desfile de Sete de Setembro. Confesso, me arrepiou. Aquela imagem não saia mais da minha cabeça: jovens com cartazes desconectaram-se dos 140 caracteres, desligaram-se do Facebook para fazer, de fato, uma revolução.

Até que ponto a realização de um grande evento esportivo pode contribuir para uma cidade? Até que pontos estes eventos beneficiam o cidadão, em dia com seus impostos e em hora com seus tributos? Era isso entre várias outras coisas que eles reivindicavam. E saíram pra isso, rumo ao Mineirão, cheios de toda a coragem do mundo e seguidos de toda energia positiva de quem organizava, ajudava e informava nas redes sociais a primeira das várias manifestações previstas para essa semana na cidade.

As imagens mostraram a pacificidade do movimento. Estudantes, professores e a população em geral participavam da caminhada pela Avenida Antônio Carlos. Superando barreiras, literalmente falando, eles se aproximaram do Mineirão, e foi em frente ao campus Pampulha da UFMG que aconteceram os confrontos. Foram cenas de guerra lamentáveis. Uso da força por parte da polícia e uma pequena parcela dos manifestantes que não respeitavam as ordens, transformando uma bela causa em um triste fim de tarde. Era pra acabar melhor, mas infelizmente teve gente ferida e outros presos. Neste momento, confesso que senti medo. Bombas, fogo, tudo aquilo me assustava. Não esperei que essas coisas fossem chegar até o ponto que chegaram. A geração conectada me surpreendeu.

Enquanto isso, mais protestos aconteciam no centro. A Praça Sete estava mais uma vez tomada e quem pôde, voltou da Pampulha para se juntar aos manifestantes do centro.

Na volta pra casa mais uma surpresa. Pessoas engajadas numa discussão até divertida no ônibus. Todos comentavam. Motorista, cobrador e os poucos passageiros que restaram no deserto do centro após as 23h, falavam da importância deste tipo de ação e os próximos passos para uma efetiva mudança política no Brasil.

Quem participou é suspeito pra falar. Eu ouvi, acompanhei pela internet. Me assustei em alguns momentos, mas me orgulhei muito dessa juventude frustrada. Tá certo que uma parcela é por modinha, mas é bom ver que também são influenciados por algo além de publicidade, algo que vale a pena correr atrás.

Por Ana Carolina Vitorino

Foto: Ludmila Teixeira

A Avenida Antônio Carlos se tornou praça de guerra na tarde da última segunda feira, 17, quando houve um confronto entre a Polícia Militar e os manifestantes. Os confrontos foram em um local delimitado como limite amarelo para o Mineirão durante a Copa das Confederações. Qualquer pessoa sem ingresso, de acordo com as normas e perímetro de segurança da FIFA, não poderia avançar além daquele lugar. Em caso de ser morador da região, a pessoa deve apresentar comprovante de residência para poder passar.

Pouco antes, mais ou menos a dois quilômetros do local do conflito, já havia acontecido uma primeira ameaça de atrito, quando a polícia fez um cordão de isolamento impedindo que as pessoas prosseguissem na caminhada que até o momento era pacífica. Após a negociação entre policia e manifestantes, foi permitida a retomada da marcha que seguia em direção ao Mineirão, chegando quase às portas da UFMG, onde os manifestantes foram impedidos. Foi a partir daí que as cenas de guerra começaram.

Correria, desespero e pânico tomaram conta de grande parte dos que estavam ali. Quando a primeira bomba gás foi lançada, muita gente buscou fugir dos efeitos dessa arma de efeito moral.  À medida que uma bomba nova era lançada, mais assustados os manifestantes ficavam, se afastando cada vez mais do conflito.

Porém, alguns resolveram enfrentar a ação repressiva da polícia. Enquanto os policiais lançavam bombas de gás lacrimogêneo e atiravam com armas de bala de borracha, os manifestantes colocaram fogo em alguns materiais para evitar o avanço da policia. Nas redes sociais, nesse momento, era apontada a orientação do comando da corporação para que fosse evitado o uso desse armamento durante a manifestação. A policia, informou em nota, que eles apenas reagiram aos manifestantes e que os vídeos da ação estão sendo analisados para ver se houve algum excesso por parte dos policiais envolvidos.

Confira os vídeos produzidos por um dos correspondentes no local, Hemerson Morais:

Vídeo Confronto 17-06

Confronto2

Por Hemerson Morais

Foto: Pedro Luiz

Vídeos: Hemerson Morais

Inicialmente pacífico, o protesto que ocorreu na tarde e noite do dia 17 do centro de Belo Horizonte à região do Mineirão, em Belo Horizonte, acabou em confusão em frente à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O que devia ser uma passeata tranquila foi substituída por bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e cassetetes para quem não obedecia as ordens de recuo da PM. Reivindicando a melhoria do transporte público, saúde e educação, além de contestar os gastos com a Copa das Confederações, os 20.000 participantes do evento foram fortemente contidos, apesar do pouco registro de ocorrência. Três pessoas foram presas e três saíram feridas, como um estudante de 18 anos que caiu do viaduto da Avenida Abrahão Caram.

Com gritos de protestos, palavras de ordem e entoando o Hino Nacional, a população saiu da internet e ocupou as ruas da cidade. “Eu realmente estou orgulhosa da nossa geração finalmente fazer alguma coisa. O povo gritando foi de arrepiar”, comenta a estudante Nathalia Terayama.

Para Terayama o movimento precisa se organizar para ter algum efeito. “Eu acho que a gente não pode é perder o foco e ficar andando pelas ruas tomando fumaça na cara sem pedir, de fato, alguma coisa concreta”, argumenta.

O Trajeto percorrido foi tranquilo até as imediações do Mineirão. Quando os manifestantes chegaram à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e tentaram prosseguir com a passeata, foram coibidos por tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogênio.

Em nota, a PMMG disse que a violência partiu dos manifestantes e os policiais agiram para conter o tumulto.

Tropa de choque fez cerco para impedir o acesso às proximidades do Mineirão, pelos manifestantes. (FOTO: Fred Karklin)

Novos protestos

Nas redes sócias estão sendo organizados novos protestos pela cidade. O próximo ato é hoje, as 17hs, em frente a UFMG, onde os manifestantes entram em conflito com a polícia na manifestação desta segunda.

Veja abaixo o calendário das próximas manifestações:

ATO NA UFMG – BH ACORDOU
Dia 18 de junho – terça feira ás 17:20
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O GIGANTE ACORDOU E NINGUÉM PODE FICAR PARADO
Dia 19 de junho – quarta feira ás 15 horas

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MAIS VINAGRE E MENOS VIOLÊNCIA
Dia 20 de junho – quinta-feira ás 17 horas

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CONTRA A PEC 37 – Nacional Dia Do Basta
Dia 22 de Junho – sábado

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O GIGANTE ACORDOU – BH
Dia 22 de Junho – sábado ás 15 horas

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SE A PASSAGEM AUMENTAR A CIDADE VAI PARAR – BH
Dia 26 de Junho, quarta-feira ás 18 horas

 

Visite a página do Contramão no Facebook e confira a cobertura completa das manifestações.

Por Joao Vitor Fernandes

Foto: Joao Alves

Belo Horizonte, uma das capitais que vai sediar, na próxima semana, a Copa das Confederações e, no próximo ano, a Copa do Mundo de futebol, é o cenário de uma série de assassinatos de pessoas em situação de rua, de acordo com lideranças de movimentos sociais. Com as duas mortes na madrugada da última terça-feira, 11, o número de moradores de rua assassinados desde 2011 foi a 100, o que corresponde a 5% dessa população na capital. Os números são do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis (CNDDH) que emitiu uma nota de repúdio aos atos de violência.

Clique para ler a nota

O Instituto Helena Greco de Direitos Humanos (IHG/BH) também se manifestou, ontem, 12, através de uma nota de repúdio à repressão contra a população em situação de rua. Lê-se na nota: “Belo Horizonte mantém sua terrível tradição de grupos de extermínio e de grupos de policiais a paisana que reprimem moradores de rua patrocinados por empresários.”.

A PBH, em nota divulgada hoje, lamenta o ocorrido: “A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte vem a público externar sua completa indignação diante da violência praticada contra moradores em situação de rua nos últimos dias, na capital mineira, culminando, lamentavelmente, com a morte de duas pessoas na cidade.”.

Denúncias

Desde a semana passada, integrantes de movimentos sociais – como a Pastoral de Rua e o Consultório de Rua – denunciavam uma possível ação de remoção forçada da população com trajetória de rua, que poderia acontecer a partir da segunda-feira, 10, em função da Copa das Confederações. De acordo com esses grupos, pessoas que desenvolvem trabalhos assistenciais junto à essa população, relataram supostas ações de remoção. “Estamos vendo que isso acontece. Soubemos de uma remoção no dia 11. Tem alguma coisa acontecendo, moradores que a gente conhece não estão mais onde costumávamos vê-los”, afirma a cientista social e integrante do coletivo de teatro urbano Paisagens Poéticas, Rita Boechat.

Na quinta-feira, 6, foi convocada uma reunião na sede do Conselho Regional de Psicologia (CRP), ocasião em que se articulou uma mobilização via Facebook. Na rede social, foi criado o Grupo de monitoramento de ações higienistas, e através dele os apoiadores que se dispuseram a fazer rondas noturnas poderiam denunciar ações arbitrárias e/ou violentas contra pessoas em estado de rua. Além disso, convocaram a população a registrar e denunciar ações ilegais, como o recolhimento de pertences e a remoção forçada. (ver imagem)

A Secretaria Municipal Extraordinária da Copa do Mundo (SMECOPA) garante que não existe nenhum tipo de remoção por parte da prefeitura tendo por motivação os eventos esportivos na cidade e, por meio de assessoria de imprensa, informa: “O que a Prefeitura de BH faz é um trabalho social junto com as populações de rua. Existem leis, e a prefeitura as cumpre. Elas determinam que não podem acontecer remoções forçadas, todo mundo tem o direito de ir e vir”. A assessora Raquel Bernardes classificou a denúncia de “boato oportunista”.

Ações

O educador social da Pastoral de Rua, Jadir de Assis, informa que, durante as abordagens, são entregues aos moradores em situação de rua cartões com endereços e telefones para que eles possam se mobilizar e entrar em contato com apoiadores e lideranças de movimentos que se alinham na luta contra a suposta remoção forçada. Foi através desta estratégia que membros do Movimento Fora do Eixo souberam que um morador de rua havia sido levado, na madrugada de terça-feira, 11, por uma kombi branca, credenciada pela PBH. O grupo gravou um vídeo, nele uma testemunha afirma que policiais militares participaram da ação e chegaram a algemar o morador de rua. A denunciante afirma que houve a tentativa de levar mais três homens que conseguiram fugir.

Assista ao Vídeo feito por integrantes do coletivo Fora do Eixo.

A cientista social Rita Boechat afirma que pessoas ligadas aos movimentos sociais acreditam que os moradores de rua que sofrem esse tipo de remoção – como a denunciada no dia 11 – são conduzidos às clínicas de tratamento para dependentes químicos. Ainda segundo Boechat, o Movimento dos atingidos pela Copa também tem apoiado as rondas. O coletivo realizará uma manifestação na segunda-feira, 17, na Praça Sete, a partir das 13h. Entre as questões levantadas neste ato está a luta contra ações higienistas. Neste sábado, 10, o mesmo coletivo convoca a população para o Copelada, na Praça da Savassi, a partir das 10h. Além da realização de uma competição de futebol, haverá debate sobre a FIFA, futebol e supostas violações de direitos humanos.

Desfecho

O Ministério Público mediou um acordo entre a PBH e o CNDDH, há duas semanas, em que ficou estabelecido que nenhuma ação agressiva de retirada da população de rua poderá acontecer, conforme noticiou o Jornal O Tempo.

Na reunião do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política para a População de Rua da prefeitura, realizada hoje, 13, a coordenadora Soraya Romina afirmou que a PBH aceita o direito da população de rua ficar na rua, mas não o de se estabelecer. “Os objetos que possam obstruir o trânsito – colchões, por exemplo – deverão ser recolhidos”, informa.

A PBH, ainda em nota, defende que as ações violentas não são uma prática da gestão pública. Na nota lê-se: “as políticas públicas voltadas para o atendimento ao segmento desta populção em Belo Horizonte são considerados referencia em todo o país e são construídas em conjunto com as entidades representativas e movimentos sociais que atuam no campo da promoção, defesa e garantias de direitos da população em situação  de rua”.

Por João Vitor Fernandes e Alex Bessas

Fotos: Hemerson Morais