Por Jaqueline Dias

Manter-se até o fim da graduação hoje em dia é um desafio diário. Não só nas questões de saúde mental, mas principalmente na financeira. Além de ter que se preocupar com as mensalidades do curso, existem os gastos “diários” como transporte; lanches/almoço/comidas; xerox, entre outros. 

Existem estudantes que precisam sair da sua cidade por morar longe e não contar com a ajuda de um familiar ou amigo, essa conta aumenta ainda mais com aluguel, contas de água, condomínio e etc. Sem contar a internet, principalmente depois da pandemia, onde aulas online em algumas instituições são uma prática bem comum, e claro, como nem só de estudos vive o universitário, existem as contas dos momentos de lazer.

Nessa reportagem, iremos entrevistar o aluno de Direito da PUC Minas, Igor de Oliveira, para entender melhor como ele faz para ter controle do seu financeiro, qual forma de ingresso na faculdade ele optou, como ele faz para gerir o dinheiro entre faculdade, gastos pessoais e se de alguma forma sobra para ele guardar um troco e o que ele acha do valor da mensalidade, valor oferecido em estágios e a sua expectativa de remuneração futura.

“Sempre tenho que cogitar o quanto estou gastando e o quanto gastarei para conseguir ter um controle das despesas. Isso inclui a passagem do ônibus, alimentação, vestimenta (muito porque a área do Direito exige certo formalismo), lazer (livros, jogos etc) e contas em geral.”

Igor Oliveira. Foto: arquivo pessoal.

1 – Qual foi a melhor forma de ingressar na faculdade? Por que você optou por essa modalidade de financiamento?

R: No Brasil, felizmente, existem diversas formas de ingressar no ensino superior, graças às políticas sociais introduzidas nos últimos 20 anos. Sabendo disto, cogitei entrar na Federal, mas pela deficiência do ensino médio e extrema dificuldade que empregam no ENEM, não obtive êxito em minhas duas tentativas. Posteriormente, soube que a PUC Minas tinha ‘bolsas sociais’ que continham o limite de 50% do valor da mensalidade e, após conversar com minha mãe, prestei o vestibular e consegui a bolsa integral (50%) para o curso de Direito. Optei pela bolsa porque não conseguiria pagar a mensalidade do curso em sua integralidade, muito menos com a ajuda de familiares, uma vez que todos passam por dificuldades comuns a todos os cidadãos nos últimos 6 anos. 

2 – A PUC é uma das maiores faculdades, não só do estado, e em consequência ela é cara. Além disso, o curso que você faz é por si só caro, como você conseguiu um bom financiamento? Foi apenas pela nota do vestibular? Ou a renda familiar também foi um fator?

R: Após a prova de vestibular, submeteram-me a uma entrevista para checarem se me adequa ao ‘tipo’ de pessoa que devia receber o auxílio de 50%. Não somente a nota foi um fator importante, porém expus as dificuldades que minha família estava enfrentando, principalmente financeiras. A partir da análise, consegui a bolsa totalmente. Depois de alguns anos cursando Direito, um amigo próximo, Eustáquio, em suporte com a Província Agostiniana Nossa Senhora da Consolação do Brasil, sabendo de minha dificuldade financeira mesmo com a bolsa, ofereceu-me um auxílio por um ano; aceitei, por óbvio. Com esse auxílio e a bolsa, ainda tenho que pagar um certo valor, porém ínfimo. Isso revela o quão caro é o ensino no Brasil. 

3 – Quais as dificuldades financeiras que você encontrou nessa jornada até aqui? 

R: Às dificuldades, acredito que são as mesmas que muitos jovens enfrentam diariamente. Sempre tenho que cogitar o quanto estou gastando e o quanto gastarei para conseguir ter um controle das despesas. Isso inclui a passagem de ônibus, alimentação, vestimenta (muito porque a área do Direito exige certo formalismo), lazer (livros, jogos etc) e contas em geral. Então, sempre tento gastar o mínimo e o necessário para poder ter o controle de todas essas especificidades que mencionei.

4 – E estágio? A gente entende que alguns cursos têm exigências grandes para conseguir um bom estágio. Você teve que passar a procurar desde cedo? Ou de certa forma morar com os pais te deu um alívio para poder procurar com mais calma?

R: Sempre me preocupei em ajudar financeiramente em casa, contudo, infelizmente, os estágios na área do Direito são exigentes e eu não tinha, à época, sequer vestimenta para me apresentar nesses ambientes. Então, logo no 4° período, consegui meu primeiro estágio na Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e com o pouco que ganhava, construí o básico para procurar um estágio que remunera melhor e ainda ajudar em casa, incluindo o pagamento do restante da ‘bolsa’. Lembrando sempre que tinha de guardar para a tarifa do ônibus. Em relação à alimentação, levava e ainda levo comida feita em casa, voltando a comer apenas quando retorno da faculdade, à noite, também em casa.

5 – Você hoje faz estágio no TRT-3ª região, como você, como estudante, enxerga esse salário que você recebe? Atende bem as suas necessidades?

R: É melhor que o anterior, sem dúvidas. Todavia, não atende completamente às necessidades porque não conseguiria pagar o curso sozinho e ainda manter todas as coisas acessórias que decorrem da vida de um universitário ou sequer ter lazer (que acredito que seja o mínimo). Diria que o salário, para uma jornada de 4 horas, é justo. Agradeço sempre porque sei que existem estágios com as mesmas condições, ou com jornada superior, que pagam menos que R$ 800,00 mensais.

6 – O que você acha do salário recebido hoje pelos estagiários? Acha um valor “justo”? Ou é muito pouco mesmo para quem está começando?

R: Não existe um controle para os salários dos estagiários, pois a lei dos estagiários é omissa neste ponto. Aliás, poucos sabem, mas a remuneração de estagiários não é obrigatória, podem, na verdade, serem pagos com os chamados salários in natura, isto é, livros, cursos, etc, ou sequer serem pagos. Por esse motivo e devido a vários outros fatores externos que são recorrentes no Brasil, os estagiários recebem pouco, longe de ser ‘justo’.

7 – Como você consegue economizar? Você tem lazeres ou outros tipos de gastos? Explica como você gere o seu dinheiro entre faculdade, gastos pessoais, lazeres, contas e etc.

R: Como dito anteriormente, faço o controle de quanto gasto e os gastos no mês seguinte, com tudo incluso, seja com as contas, o lazer (mesmo que não compre coisas todos os meses, pois acho desnecessário) e tarifas de ônibus. Algo diferente que faço desde o primeiro salário é guardar 20% do montante que recebo, não o utilizando para nada, apenas emergências, mas não é algo que acontece com facilidade. Além das emergências, esse valor, hoje significativo, traz uma tranquilidade enorme porque posso usá-lo como bem entender. E algo óbvio, não gasto todo o meu salário, ou seja, tenho dois montantes que vieram da forma como manejo os valores que recebo.

8 – Para finalizar, qual a sua expectativa de remuneração no futuro? O que você espera saindo da faculdade e de certa forma passando esse “sufoco” financeiro? Na sua visão de futuro, acha que isso vai ter retornos significativos?

R: Ao sair da faculdade, espero receber o correspondente ao mercado atuando como advogado, mesmo que seja um início ínfimo, mas melhor que a remuneração de estagiário, progredindo e recebendo cada vez mais (apenas em um futuro próximo). Ao passar do tempo, pretendo ocupar o cargo de Juiz de Direito não me preocupando com tudo que passo atualmente e ajudando minha família, sem pensar se terei dinheiro no dia seguinte, sendo além de significativo, na minha opinião. E não deixarei de economizar mesmo recebendo valores maiores, pois acredito que seja uma questão de responsabilidade financeira com minha pessoa e àqueles à minha volta.

Claro que cada caso é um caso. Universitários têm vivências financeiras diferentes, cada curso é específico em tempo até ter oportunidades em estágios, mas sempre é possível ter uma sobra para as obrigações da vida universitária, da vida de jovem adulto e ainda ter uma “sobra” para guardar e ter um lazer, até porque, nem só de estudo e estágio vive um universitário.

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