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Desde o dia 20 até o dia 30 deste mês está acontecendo o 18º Fórum de Antropologia e Cinema, com mostras de filmes etnográficos e documentários.

Realizado em parceria com o Ministério das Relações Exteriores, o Fórum trouxe um dos cineastas mais ilustres de Israel, conhecido por seu compromisso com a justiça social, cultural e política do Oriente Médio.  Avi Mograbi é referência por seu experimentalismo e contribuição inovadora para a linguagem cinematográfica.

Hoje, no Cine Humberto Mauro, uma das mais prestigiadas obras de Avi será exibida: “Uma vez entrei num jardim”, às 21h. E o melhor de tudo é que o próprio diretor conduzirá os expectadores durante a exibição!

A entrada é gratuita e os ingressos serão distribuídos 30 minutos antes do inicio da sessão. Recomenda-se chegar com antecedência.

Cine Humberto Mauro: Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, Belo Horizonte.

Tel: (31) 3236-7400

Para saber mais sobre Avi Mograbi e conhecer o trabalho do cineasta acesse: https://www.avimograbi.com/#!watch-now/ck0q

Texto: Camila Lopes

Foto: Divulgação

Na última quarta-feira, 26, as ruas de Belo Horizonte ficaram coloridas de azul, preto e branco. O jogo da final da Copa do Brasil era inédito, uma vez que era o maior clássico entre Atlético e Cruzeiro de todos os tempos.

Com dois gols de vantagem para o Atlético, dificilmente o time celeste conseguiria vencer, e realmente, não conseguiu. Nem precisava de gol pra vencer, mas mesmo assim, o time alvinegro insistiu e marcou 1×0 sobre o Cruzeiro. Os foguetes não paravam as buzinas já estava virando rotina e os gritos de “GAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO” não cessavam mais.

Quando o Atlético ganhou a Libertadores, a massa atleticana desceu para a Praça Sete e foi uma festa que só. Ontem, não foi diferente. Beirava 1h da manhã e só descia mais gente e a felicidade era contagiante, até para quem não era torcedor. Durante a madrugada, quem é morador do centro com certeza teve dificuldades para dormir. Era bomba, foguete e muito, muito, muito grito e cantoria do hino do time.

O jovem Wagner Ribeiro, 21, explica que a paixão pelo time alvinegro praticamente nasceu com ele. “Meu pai sempre que tinha a oportunidade, me levava pro campo, desde que eu era novinho ainda. O amor foi crescendo sabe? Quando você se dá conta, já ta gritando e chorando pelo time”, explica.

O estudante de administração Lucas Vasconcelos, 19, afirma que ganhar uma Copa do Brasil já é maravilhoso, mas ganhar do maior rival dá um gosto ainda melhor. “Foi um sentimento inexplicável, de alívio, porque é um título tão sonhado pela massa atleticana e em cima do maior rival e no maior clássico da história. Um sentimento de vingança, já que o Cruzeiro ganhou o brasileirão esse ano, mas não conseguiu ganhar do maior rival, então, só lamento”, esclarece.

A massa atleticana sempre foi conhecida por ser muito apaixonada e fiel ao time, e agora, com o Atlético Mineiro ganhando cada vez mais campeonatos, a torcida vai agraciar ainda mais os craques que jogam no time.

Texto: Luna Pontone

Foto: Marcelo Fraga

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A IV Bienal do Livro passou pela capital mineira e deixou lembranças. De 14 a 23 de novembro o evento ocorreu no Expominas, região oeste de Belo Horizonte. Durante os dias da exposição várias atrações estiveram presente, como Gregório Duvivier, do Porta dos Fundos e a escritora Thalita Rebouças. Na última quinta-feira, foi a vez de Felipe Neto, do canal “Não Faz Sentido” e da produtora “Parafernalha”. O vlogger participou do “Conexão Jovem” na Bienal e falou da sua vida como youtuber e empreendedor.

Felipe Rodrigues Vieira Neto, ou apenas Felipe Neto, foi um dos primeiros vloggers do YouTube Brasil. Ele e o PC Siqueira, do “Mas Poxa vida”, deram inicio aos famoso canais que viraram uma febre. Entretanto, o jovem enfatizou que o objetivo não era manter o foco na produção de vídeos. “Eu percebi que alguma coisa ia acontecer, o YouTube estava virando onde jovens entravam para assistir conteúdo e a TV não”, explicou Neto. O crescimento na produção foi gerando novas ideias de investimento para Felipe, que foi desenvolvendo sua empreitada.

Tendo dado inicio no seu atual ramo profissional em 2010, o jovem afirmou que nunca pretendeu deixar as coisas só no “Não Faz Sentido”. Ao longo do bate papo, o empresário disse que sempre quis abrir um negócio. Desde que o primeiro vídeo ganhou visibilidade, teve a ideia de transformar em algo maior, mas destaca que é um processo de aprendizagem, tentativa e erro. “Na minha vida inteira eu fiz coisas que deram errado até eu dar certo. Eu fali três empresas antes de começar o “Não Faz Sentido”, disse Neto. “Eu tomei golpe de quadrilha, perdi dinheiro que eu tinha no banco. Eu era designer gráfico e perdi meus clientes todos em 2008 por causa da crise financeira”, acrescentou.

A partir do crescimento do primeiro canal, Felipe falou ter pensado criar algo que não dependesse dele. Assim que teve visibilidade, criou outro canal, também de humor, mas que não era baseado na figura dele. Nesse novo espaço outros artistas também teriam um lugar para expor seus trabalhos e, juntos, crescerem e aperfeiçoarem seus produtos. Com isso, deu-se início ao “Parafernalha”, um canal que, em pouco tempo, ficou duas vezes maior que o “Não Faz Sentido” e, por meio dele, outros youtubers tiveram um local onde é possível aperfeiçoar o formato de seus vídeos, e compreender melhor o fenômeno YouTube e, assim, se profissionalizarem.

Durante a conversa, Neto falou sobre um curso que está fazendo na faculdade de Harvard, nos Estados Unidos. Com o crescimento da “Parafernalha” e a criação da “Paramaker”, o empresário precisou estudar mais o mercado e se capacitar para continuar desenvolvendo sua empresa. “Para eu tocar a empresa, preciso ter o embasamento teórico e prático, o prático eu estou aprendendo no dia a dia, mas me faltava o embasamento teórico mais forte, por que eu não fiz faculdade”, contou Neto. “Então decidi fazer o curso em Harvard para ter mais condições de conduzir a minha empresa na rapidez em que ela está crescendo e não cometer bobagens e acabar prejudicando o meu negócio”, acrescentou.

Quanto ao seu inicio no YouTube, Neto ressalta que é trabalhoso. Ao fazer um vídeo e colocar na internet você fica suscetível às críticas. Para o vlogger a melhor forma de lidar com ela é focar no seu público alvo e procurar, nos comentários positivos ou não, aquilo que poder ser construtivo para seu trabalho. “O que for de xingamento, ofensa, não muda nada. Então eu foco só nas pessoas que gostam do meu trabalho, e as que não gostam eu filtro, se a pessoa está me falando uma dica legal, eu uso, senão ignoro. E eu acho que é dessa maneira que você tem que sobreviver nesse meio, cara, por que é um meio muito novo”, explicou.

Felipe Neto comentou ainda sobre o fim do “Não Faz Sentido”. Disse que desde sempre soube que um dia o canal acabaria. “Eu não podia apostar no mesmo formato pro resto da minha vida”, contou. A necessidade de adaptar o trabalho que fazia sempre fez parte dos planos de Neto. Mesmo sendo chamado de louco e de megalomaníaco por apostar em um coisa que seria criado do zero (Parafernalha) ao invés de algo que já estava dando certo (Não Faz Sentido). “Daqui a pouco eu sou casado, como cinco filhos, falando: “Previdência não faz sentido, aposentadoria”, entendeu? Então não ia fazer sentido nenhum (risos)”, brincou o empresário.

Texto e Foto: Umberto Nunes.

Entrevista: Italo Lopes.

O humorista, ator e escritor, Gregório Duvivier, 28, esteve na Bienal do Livro no sábado, 15, para um bate-papo com fãs. Em conjunto com a cantora Adriana Calcanhotto, 49, ele recitou poemas e falou de sua preferência por autores e livros. E entre um pedaço de pizza e um copo de refrigerante cedeu uma entrevista ao Contramão.

_”Vocês não importam de eu comer não né? Não comi nada o dia inteiro”.

Falou de suas influências literárias, sua fase como colunista e as polêmicas que esses textos trouxeram para sua carreira.

051116_010  (Gregório recita trechos do seu poema Ligue os pontos)

Literatura:

“É muito difícil falar livros da vida toda. Eu gosto muito de estrangeiros, do Philip Roth, um dos livros dele, O animal agonizante, é lindo. De literatura brasileira eu sou apaixonado com o João Ubaldo Ribeiro, o Viva o Povo brasileiro é magnífico. Rubens Figueiredo com Barco a Seco, Machado de Assis que é genial com Dom Casmurro,  do Campos de Carvalho tem a “Vaca de nariz sutil, gosto muito de todos esses.

Acho que tem muita coisa nova e boa de literatura hoje em dia. Antônio Prata e Fabricio Corsaletti eu sou apaixonado. Na poesia tem Alice Sant’Anna e Bruna Beber, e muitos outros bons.

Tem alguns livros que me fizeram gostar muito de ler, e acho que tem que começar por eles, não dá pra começar pelos clássicos. Gênio do Crime, lembra? Eu adorava, eu li ele com oito ou nove anos e fiquei apaixonado. Um tipo bom de livro pra cativar o leitor é Matilda do Roald Dah, adorava, li mil vezes, também é da literatura estrangeira. No Brasil tem ótimos livros juvenis, Adriana Falcão tem uns muito bons, “Luna Clara e Apolo 11” é um livro lindo.

Recentemente acabei de ler um livro da Chimamanda Ngozi, é uma autora nigeriana da Companhia das Letras, o livro fala sobre identidade nigeriana africana, o que é ser africano hoje em dia. É um romance maravilhoso.”

Identificação com a escrita

“Minha paixão pela escrita veio na faculdade mesmo, eu gostava de ler, mas escrever mesmo, só na faculdade. O professor que me motivou foi o Paulo Henriques Britto.”

A nova fase do colunista retrata bem um profissional que é multifacetado, do palco para a internet, de lá para o cinema e dele para as páginas do jornal.  E em todas as mídias trabalhadas por Duvivier ele sempre trouxe a temática do humor. Na entrevista foi questionado se agora nos textos há um limite no humor para que seu espaço no jornal não seja interpretado como brincadeira, e foi bem enfático ao responder.

“Eu gosto na verdade disso, de a pessoa ficar pensando se é uma brincadeira ou não. Eu acho que isso é bom, esse tipo de provocação. É bom porque todo mundo quando lê uma coisa tem que duvidar um pouco, as pessoas têm que parar de acreditar em tudo que lê. Então acho bom brincar com isso ‘será que esse cara está falando sério, ‘será que ele não está’, eu adoro esse lugar entre o humor e o jornalismo. Então como o jornal é um lugar de seriedade, quando você escreve, as pessoas acham que você está falando sério.”

Há diferença entre o público da internet e do jornal?

“Não! Eu não vejo muito assim, eu acho que é o mesmo público. O público que me lê na Folha é o mesmo que me acompanha. As pessoas volta e meia perguntam, ‘como vou escrever para um público adolescente?’. Aí fazem umas coisas bobas pra adolescentes, eles gostam de qualidade, como qualquer pessoa. Se você faz uma coisa boa o adolescente vai gostar, de verdade. Esse foco no adolescente eu acho ruim, por exemplo, quer focar na internet e fazer uma coisa bombar? Isso não existe, se for bom vai fazer sucesso na internet ou no cinema. Acho que o Porta dos Fundos, por exemplo, poderia acontecer no cinema ou na televisão. O que mais viraliza no mundo é a qualidade.”

Polêmica durante as eleições:

Durante o período eleitoral Gregório escreveu alguns textos que incomodou algumas pessoas adeptas a partidos políticos de direita. O motivo foi o humorista ter declarado apoio à candidatura da petista Dilma Rousseff, em alguns textos. Dá pra citar como exemplo a crônica “Chupa, Dado”, em que ele revida as críticas recebidas pelo ator Dado Dolabella, 34, e explica os motivos de ter declarado seu voto no PT.

A nova publicação também teve um grande número de visualizações e críticas, e o autor explicou à nossa equipe como interpretou e lidou com esse momento.

“Escrever pra jornal é outro tipo de relação com o leitor, porque as pessoas já leem jornal com pedras nas mãos. Já veem querendo te julgar e odiar. Na primeira crônica já tinha gente me xingando. Nas minhas crônicas gosto de expor a minha opinião, que é no geral mais de esquerda. E as pessoas tem ódio da esquerda no Brasil, a gente tem uma direita muita raivosa e medrosa no Brasil. Dizendo que tudo vai virar uma ditadura ou vai virar Cuba. Basta dar uma opinião um pouquinho mais forte que você vai ser xingado. Triste né?”

Gregório escritor:

“Estou escrevendo um livro, um romance. Na verdade nem tem nome ainda. É um projeto para o ano que vem.”

 

Texto e foto: Ítalo Lopes

Audio: Priscila Mendis

 

No sábado, 15, o agrônomo publicitário e ilustrador Alexandre Beck veio à Bienal do Livro e conversou com o Jornal Contramão sobre o seu trabalho com Armandinho. A tirinha de sucesso traz uma criança como personagem principal e, mesmo com os limites da idade, contesta o mundo como poucos fazem. Beck falou sobre como surgiu a tirinha, qual o seu futuro e o que é esperado dessa nova geração de leitores. Após a entrevista, o desenhista participou de um bate-papo com os presentes e realizou uma sessão de autógrafos com os fãs.

Como surgiu?

“O Armandinho nasceu de um momento de urgência. Eu tinha outros personagens de uma tirinha no jornal. E me ligaram da redação e falaram, ‘a gente precisa de três tiras pra ilustrar uma matéria que vai sair amanhã’, e não dava tempo pra desenhar. Eu tinha acabado de retornar para o Jornal e não me senti a vontade em dizer não. Então peguei um bonequinho que já tinha pronto de outro trabalho e coloquei no espaço das tiras, rabisquei as pernas e falei, aqui é o pai e aqui é a mãe, mandei pro jornal e funcionou. O jornal gostou e eu também.”

A construção do personagem:

“Eu não fujo muito da linha de raciocínio do Armandinho, tenho filhos e observo muito eles. Desde 2000 faço trabalhos aproveitando os conhecimentos da agronomia, sou formado na área. Comecei a fazer trabalhos de quadrinhos educativos, voltados ao meio ambiente, e usava personagens infantis. Nas tiras que tinha no jornal meus personagens eram adultos, mas eu fazia muitas críticas. Então desde 2000 venho me exercitando pra fazer esses trabalhos tentando ver o mundo do ponto de vista da criança, pra passar informação que era voltada pra crianças. Quando surgiu o Armandinho juntei essa experiência que tinha dos quadrinhos educativos com a experiência e visão crítica das tirinhas que eu tinha no jornal e coloquei em um personagem só. Acabou sendo assim, continuo aprendendo com as crianças até hoje, reaprendendo a ver o mundo como elas.”

O objetivo:

“Meu objetivo é discutir comigo mesmo, a principio. Na página do Facebook consigo discutir com muita gente, aprendo muito com isso, mas meu objetivo foi sempre discutir comigo mesmo, eu mesmo pensar e eu mesmo refletir.”

Ao ser questionado o autor também brincou sobre a possibilidade de inverter a visão nas tirinhas e sobre mostrar por completo os pais, já que nos quadrinhos é mostrado apenas as pernas desses personagens. “É uma boa ideia. Nunca tinha pensado nisso. Quando fiz as três primeiras tiras foi por acaso, foi na pressa, precisava dos pais ali. Depois eu considerei colocar. As pessoas pedem muito pra que eu deixe elas verem se o Armandinho é parecido com o pai ou com mãe. Cheguei a considerar desenhar eles, mas o fato de não desenhar os pais me dá muita liberdade de trabalhar preconceitos. O ponto de vista dos pais as vezes coloco naquela tirinha do pai ou a mãe falando com o Armandinho. É realmente algo a ser considerável, mas acredito que não passe a mostrar os adultos. Eu acredito que as crianças merecem ser mais vistas que os adultos”.

O protagonista é usado para retratar vários questionamentos da sociedade. Um deles é o preconceito. Primeiramente para gerar uma indagação do leitor ele colocou de uma forma que “ninguém sabe a cor de pele dos pais do Armandinho, do tipo de cabelo, se eles são gordos ou magros” explicou Beck.Também é usado um outro personagem recorrente no desenho para discutir essa questão. “O sapo é vítima de preconceito na sociedade. Dizem que o Sapo faz xixi e deixa a gente cego e o sapo é um bicho inofensivo, é muita crueldade. Alguns sapos tem um veneno na pele, mas é só não colocar na boca. Se não morder o sapo está tudo bem (risos)” disse.

O que o incêndio da Boate Kiss tem a ver com o personagem?

Quando saí de Santa Catarina e fui morar no Rio Grande do Sul, uma coisa que marcou muito a minha vida foi aquele incêndio que teve em uma boate em Santa Maria. A gente já morava lá, minha esposa era professora da federal e perdeu alunos com isso, e a gente sentiu toda essa angústia da cidade, a gente estava envolvido com aquilo. E isso me deu um certo sentido de urgência. Eu estava ali com o material que é uma espécie de comunicação, e podia usar isso pra questionar e rediscutir algumas coisas. Então a partir daquele momento o meu sentido de urgência aumentou. Acho que a gente tem que discutir algumas coisas e o Armandinho acabou me ajudando nisso. E essa tirinha foi um desabafo meu e depois a minha esposa disse que também era o que ela estava sentindo. Foi a primeira tirinha que foi largamente compartilhada e essa era a angustia que muita gente estava sentindo. E ela nunca foi publicada em um jornal, só na internet e assim se espalhou. Essa foi talvez a tirinha mais doída de ser feita, e ela serviu pra abrir um pouco o coração”.

           Armandinho


E essa nova geração…

“Quando começou a tecnologia e toda essa corrida tecnológica o objetivo era termos mais tempo pra coisas mais importantes, inclusive cuidar dos filhos. Mas aí todo mundo está em uma competição, numa correria e cada vez tem menos tempo. E os pais acabam dando uma tecnologia para os filhos como se ela fosse ocupar o espaço que ele tinha que ter com os filhos, e eu acho isso uma grande perda. E isso vai ter consequências. Ler um livro com o filho à noite, fazer o filho criar esse gosto, a gente tem universos incríveis nos livros. Eu acho que precisamos resgatar isso. Ou a gente resgata nisso ou vamos entrar por um caminho que daqui um tempo vai ter consequências muito ruins.”

Novidades?

“Em relação ao meu trabalho não. A grande novidade pra mim é que eu nunca estive em uma feira desse tipo. É a primeira vez que eu vim falar de um personagem aqui em Belo Horizonte. Pra mim é tudo novidade, acho que o mais espantado e ansioso aqui sou eu.”

Texto e foto: Ítalo Lopes

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O termo “torcida organizada” pode ser definido como um conjunto de pessoas que acompanham seus times frequentemente nos estádios  para motivar os jogadores e incentivar o restante da torcida. Durante algum tempo, no início do século passado, esse foi realmente o papel exercido por esse grupo de torcedores, mas nos últimos anos muito tem se relacionado o nome das organizadas com crimes violentos e atos de vandalismo. Porém, como não é bom generalizar, fica a pergunta: ainda há torcidas organizadas que focam no seu principal objetivo?

O eletricista cruzeirense participante da organizada Máfia Azul, Felipe Viana, 22, diz que as principais regras para participar de um grupo como esse é “não promover brigas, tumultos em nome da torcida e lutar pelo ideal de apoiar sempre seu time”. Questionado sobre as últimas punições aplicadas à organizada cruzeirense, Viana diz que “a Máfia azul está punida por seis meses de entrar em qualquer estádio com uniformes, baterias, faixas, bandeiras, nada da torcida, mas isso não impede de os integrantes irem com outra roupa”.

Mesmo tendo com preferência o rival, o estudante atleticano Pedro Souza, 24, frequentador assíduo dos jogos, concorda com o pensamento de Viana. Sendo membro da organizada Fúria Alvinegra, ele destaca que “a real função das organizadas seria se reunirem para ir aos jogos, fazer a festa e apoiar o time” e completa, “como já se tornaram grupos organizados fora do estádio, deveriam também usar isso para promover mais ações de âmbitos sociais, o que acontece pouco para quem consegue mover tanta gente”.

A recente divisão de torcidas nos últimos clássicos tem causado indignação por parte dos torcedores, já que agora, a maior parte dos ingressos, ou seja, 90% ficará com o time mandante da partida, e apenas uma pequena quantidade de ingressos se destinará ao time visitante (10%).

Hoje no primeiro jogo da final da Copa do Brasil, apenas a torcida do Atlético assistirá ao jogo no Independência, palco da partida, já que a diretoria celeste abriu mão da parte destinada aos seus torcedores.

“Na historia do Futebol Mineiro sempre teve, por que hoje que a segurança é mais equipada e mais preparada não pode ter? Sonhamos com esse dia, só precisa de um pouco mais de força de vontade das autoridades”, argumentou Souza.

A opinião do cruzeirense é bem semelhante ao de outros torcedores, “acho que poderia voltar sim. Por que antigamente tinha e agora não pode mais? A polícia não consegue manter a segurança? Acho que se modernizou tudo deveria mudar isso também, porque espetáculo mesmo é as duas torcidas no mesmo campo”, concluiu  Viana.

Ingressos

Outro fator que tem incomodado a maioria dos seguidores dos times é o preço salgado dos ingressos. O estudante Ravel Pimenta, 16, que foi no jogo do Atlético contra o Palmeiras pelas oitavas de final da Copa da Brasil contou que pagou cerca de trinta reais para entrar no estadio. Ontem na fila para adquirir o ingresso do clássico, o jovem acreditava que ”muita gente não iria, pela elitização”. De acordo com o estudante, essa “elitização” tem dificultado alguns torcedores a se manterem presentes nos campos, “principalmente porque as torcida organizadas geralmente são formadas de pessoas de classes mais baixas. Com a modernização do futebol dificultou bastante”, finalizou.

A esperança é que o futebol agrade dentro de campo, já que os dois clubes vivem uma boa fase, e são unanimidade em elogios no cenário nacional nas duas últimas temporadas. Contudo o antigo modelo do futebol vai fazer falta ao torcedor e o “Padrão FIFA” ainda incomoda. “Nós esperávamos festa lindas, Mineirão e Independência lotados. Isso até sair o valor das entradas. No primeiro jogo no Horto, por exemplo, o ingresso do setor onde fica as torcidas organizadas está R$800,00. Parece que os ingressos também estão bem salgados para o jogo da volta no Mineirão. Quem perde são os clubes, pois sabem da força das arquibancadas. Espero mesmo dois jogos de luta, e briga pela bola, dentro de campo. A rivalidade é lá, aqui fora não tem rivais, apenas adversários”, concluiu Pedro.

Texto: Ítalo Lopes

Capa: Centim Vicentim e Felipe Viana

Galeria: Arquivo pessoal dos entrevistados