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*Por Ana Carolina Nunes Abreu

Por muito tempo – e principalmente antes da Segunda Guerra Mundial – a ideia de moda se concentrou na Europa, oriunda de maisons luxuosas na elite europeia, com tecidos raros, vindo das melhores grifes e produção feita à mão pelos estilistas, para os nomes da mais alta sociedade. Até hoje, por exemplo, a rainha Maria Antonieta é vista como o símbolo do pioneirismo da moda.

Com as guerras, os estilistas precisaram migrar para regiões pouco afetadas economicamente, como os Estados Unidos. Por esse motivo, foi necessária a criação de um modelo de compra e venda de peças que facilitasse tanto a produção, quanto a recepção dos artigos de moda. Assim, surgiu o prêt-à-porter. Pierre Cardin, estilista francês, criou este termo para denominar sua primeira coleção para uma loja de departamento. Ou seja, a primeira ideia de peças de roupas feitas de forma idêntica, apenas com tamanhos diferentes para a clientela. Foi o primeiro passo para o Fast Fashion e, também, para a democratização da moda.

O termo Fast Fashion foi criado em 1990, para denominar a produção massiva e industrial de artigos de moda, em grande escala, grande margem de lucro e baixa qualidade. Lembra das calças e jaquetas jeans que sua mãe usava e se gabava dizendo que duravam 10, 20 anos? Pode esquecer.

A ideia é criar lançamentos frequentes, sazonais e que buscam suprir o mercado com as tendências atuais e que, com a mesma velocidade que é feita, pode ser descartada. A cada segundo no mundo, o equivalente a um caminhão de lixo de roupas é descartado ou queimado em aterros sanitários no mundo inteiro. Em 2014, um consumidor médio comprou 60% mais artigos de moda do que em 2000.

A revista Environmental Health realizou, em 2018, uma pesquisa apontando que aproximadamente 85% das peças de roupa consumidas pelos norte-americanos são enviadas para o aterro sanitário como resíduo sólido.

Você consegue imaginar o impacto ambiental de tudo isso? Apenas para ilustrar: para fabricar uma camisa de algodão, são necessários 2.700 litros de água. O bastante para uma pessoa beber por 2,5 anos. Toda produção de roupa enquadrada no modelo de “moda rápida” exige gastos em água, emissão de poluentes e desmatamento, para a plantação de algodão, por exemplo.

A luta para conscientizar e diminuir o consumo do Fast Fashion começou há pouco tempo. Para amenizar os danos, foi criado um movimento, em 2004, que vai de encontro com o modelo anteriormente citado: O Slow Fashion.

Promovendo uma consciência socioambiental, valorizando e priorizando comércios e recursos locais,  essa produção visa a prática de confiança entre os produtores e seus respectivos consumidores, praticando preços reais, muitas vezes com os custos sociais, estimulando uma criação de pequena e média escala. De acordo com a professora Valesca Sperb Lubnon do curso de Design de Moda do Unipê, “Assim como houve na primeira Revolução Industrial, quando saímos do artesanal e fomos para a produção em escala, agora estamos em um início de uma nova era, na qual voltamos nossa atenção à qualidade do produto, à valorização do profissional e do conhecimento”. 

Este novo cenário fez as gerações mais atuais repensarem o conceito de moda, principalmente a facilmente descartada. E bem antes desse movimento ser considerado, já havia um modo de consumo que partia da sustentabilidade, baixo preço e apreciação do comércio local, os brechós e bazares.

Existentes desde o final do século XIX, esses comércios visavam atender a população mais carente, que não tinha condições financeiras de ostentar produtos de departamentos, mesmo aqueles com preços mais baixos. Com peças e artigos usados e de segunda mão, os brechós eram, antes de tudo, a única forma de consumo de roupas que muitas pessoas tinham.

Vislumbrando as décadas mais antigas, os comércios de segunda mão passaram a ser vistos como espaços retrôs e vintages, usado por jovens para reconstruir o estilo de gerações anteriores. Isso mesmo, roupas de cós alto, alfaiataria, oxfords, blusas estampadas de botões, jaquetas jeans e outros acessórios que compõem looks conhecidos como “anos 80”, já faziam parte do vestuário de quem não podia consumir em lojas conhecidas em shoppings e demais malls, mas não com a visão crítica da moda, e sim por necessidade.

Uma reflexão acerca desse estilo de vida se baseia nas estruturas excludentes das lojas de departamento aliadas ao Fast Fashion. E por mais informal que a loja seja, ainda tem, em si, atributos capazes de afastar a população de classes mais baixas. Desde a modernização das lojas aos acontecimentos cotidianos e estruturais, como pré conceitos estabelecidos de acordo com o padrão de consumidor que a loja espera. Frequentemente você pode ouvir um atendente falando para outra pessoa “é pra parcelar de quantas vezes?”, mesmo diante de uma compra com o valor baixo. Já parou pra pensar nisso?

Com a ascensão do brechó, muitas vertentes da discussão acerca da moda surgiram. “Por que eu compraria uma peça por R$100,00, se eu posso comprar por R$10,00 em um brechó?”, questionam os novos consumidores. Esse comportamento, apesar de contribuir para os pequenos comerciantes e donos de brechós, traz consigo a problemática de outro consumo massivo e vazio, aquele no qual você usa de pretexto a sustentabilidade, mas consome o dobro de peças por ser mais acessível, por ser mais “cool” e por ser pauta de elogio dos seus amigos em bares.

Esse tipo de consumo pode, consequentemente, encarecer os brechós, que entendem que seus consumidores atuais são, na verdade, pessoas mais preocupadas com a estética do que realmente um público que tenha a necessidade de comprar ali.

As vendas diretas no mercado de peças usadas passa por um momento de aumento expressivo no Brasil. Nestes últimos 10 anos, o consumo cresceu de forma quase exponencial. O mercado dos brechós, conhecido também como second hand, deve dobrar até 2025. De acordo com a pesquisa do GlobalData, o valor desse segmento deve ir de US$ 24 bilhões para US$ 51 bilhões.

Você, consumidor de brechó ou apenas um curioso, já entrou em uma loja com essa denominação, mas ao conferir os produtos e os preços percebe que, além de terem em sua maioria peças de primeira mão, precificam as roupas de forma a beirar o absurdo com o pretexto de “curadoria e garimpo bem feitos”? É o reflexo do consumo acelerado, que dita aos proprietários dos brechós a glamourização daquele ambiente, já que atualmente é tendência.

Entenda: não é para você parar de consumir em brechós e bazares. Mas esses dados aqui servem para abrir seus olhos diante do seu consumo. Ele é consciente, ou você só compra usando o conceito e a tendência como seus aliados?

Outra forma de mudar seus hábitos de consumo é, também, conhecer lojas e comércios que buscam a produção desacelerada e sustentável dentro do Slow Fashion. Não só roupas, mas também produtos de beleza, sapatos, acessórios etc. Esses ambientes podem, muitas vezes, apresentar um preço maior, mas em troca oferecem um produto eco consciente, sem grandes danos ao meio ambiente e, muitas vezes, não testados em animais.

Como dica para se inserir nesse movimento e conhecer ainda mais sobre essa proposta, listamos algumas lojas com a política Slow Fashion.

Confere aí:

Gioconda Clothing 

Comas

Pântano de Manga

Nuu Shoes 

 

*A matéria foi produzida sob a supervisão da jornalista Daniela Reis

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Um dos pratos do grupo Elementar - vencedor da mostra. Foto: Luísa Bonfioli

Evento aconteceu no dia 18 e contou com grandes nomes da gastronomia mineira

Por: Italo Charles 

A 9ª edição do GastroUna que aconteceu no dia 18 de junho, proporcionou aos alunos uma nova experiência. O evento que pela sua primeira vez foi totalmente online, teve transmissão via Facebook e alcançou mais de mil espectadores, incluindo internautas internacionais. A mostra acadêmica celebrou a conclusão do semestre, viabilizando o contato dos alunos com o mercado. 

De acordo com a idealizadora do GastroUna, professora Rosilene Campolina, o evento é formulado a partir do conceito de inovação e sustentabilidade. “Foi um grande desafio organizar a mostra nesse formato virtual, tendo em vista que os alunos estão habituados a participar do evento fisicamente, produzindo os pratos, recebendo o público e interagindo com o mercado. Mas, como nossa premissa básica é a inovação, buscamos sempre a renovação. Através disso, construímos o evento com parceria entre os núcleos da Una, para transmitir ao público um conteúdo sem perdas”.

Com este novo formato, os alunos dos cinco grupos participantes, apresentaram aos jurados suas propostas de empreendimento gastronômico, que incluem a idealização, gestão, logística, desenvolvimento de cardápio e o preparo dos pratos. Assim como nas edições anteriores, os discentes tiveram que apresentar seus conhecimentos de cardápios e bebidas que contêm as Pancs (plantas alimentícias não convencionais).

A bancada de jurados foi contemplada por vários nomes conhecidos da gastronomia e do turismo mineiro, como: Ana Gabriela Baêta, Carlos Henrique, Eduardo Maya, Isabela Lapa,  Márcia Nunes, Miriam Furtado, Ricardo Rodrigues e o Vice presidente acadêmico do grupo Ânima, Rodrigo Neiva. O Chef e empreendedor Eduardo Maya, que participa como jurado desde a primeira edição, fala sobre o desenvolvimento do projeto durante os anos. “Cada semestre que passa, a cada ano, cria-se uma surpresa agradável, existe uma melhora. O que mais me encanta é o que eu venho dizendo há nove anos que a gastronomia não é só ser Chef, ela vai muito além e os alunos têm entendido isso”.

O vice-presidente acadêmico do grupo Ânima, Rodrigo Neiva, que compôs a bancada de jurados pela primeira vez, ressalta que eventos como o GastroUna, são de extrema importância  para a formação  dos alunos. “Ao participar de mostras desse formato, os formandos desenvolvem competências fundamentais para um gastrônomo, que é pensar a gastronomia em um aspecto mais amplo, considerando a preparação dos profissionais para os desafios do mundo contemporâneo”.

Ainda sobre a fase preparativa para o GastroUna, o aluno Recleir Moreira conta sobre o processo.  “O maior desafio foi fazer as pessoas se sentirem conectadas ao estabelecimento, vivenciando as experiências gastronômicas oferecidas. Para que isso fosse possível, criamos o Instagram com fotos e elementos visuais, além de muitos conteúdos que ilustram nossos pratos, conceitos, ações sustentáveis e a cidade escolhida para a criação do Elementar”.

Falar sobre gastronomia é criar um elo entre a culinária e a cultura de onde está sendo produzida, gerando sensações que refletem na afetividade. A partir disso vemos o turismo como uma linha tênue. “A gastronomia é um importante indutor da atividade turística na cidade, é elemento importantíssimo, é considerada a riqueza de um povo, ela perpetua culturas. Quando a gente fala sobre eventos como esse que promovem o contato entre os acadêmicos e o mercado, contribuímos para que essa cultura seja reproduzida, contribuímos também para a elevação dos empreendimentos, pois eventos assim oportunizam a inserção dos alunos nesse mercado que é dinâmico” comentou a Diretora de Marketing da Belotur, Ana Gabriela Baêta.

Criar um Gastrobar na cidade Mariana, a partir de olhar diferenciado para a gastronomia regional com a utilização de plantas alimentícias não convencionais no cardápio e drinks autorais, garantiu ao grupo “Elementar” composto por Caio Marcini, Clareane Brandão, Daniela Galastro, Gustavo Vasconcelos, Laura Vasconcelos, Luisa Bonfioli, Michele Novaes e Reicler Moreira, a vitória na competição. “O maior aprendizado, sem dúvidas, foi o trabalho em equipe, à distância. Com toda essa experiência, chegamos a conclusão que cada um sempre tem algo a acrescentar, e que um empreendimento tem maior potencial de sucesso se for construído por uma equipe capacitada”, comentou Reicler.

O segundo lugar das batalhas ficou com o grupo “Q Harmoniza”, que apresentou a proposta de empreendimento que preza pela harmonização de suas geleias com queijos e vinhos. A representante do grupo Natália Carvalho comentou sobre sobre o aprendizado adquirido para a formação  profissional dos componentes do grupo. “Não é fácil começar um empreendimento do zero, ainda mais com uma ideia original. O processo envolve muita pesquisa, trabalho e números. E  mesmo que o produto seja bom, ele se torna inviável se não encontrarmos o seu público alvo. Tivemos um semestre para realizar esse projeto e ainda assim foi muito corrido! Foi uma experiência incrível e que levaremos para o resto de nossas vidas!”, finalliza. 

Premiação
As equipes vencedoras foram premiadas com almoço nos restaurantes Dona Lucinha e Jotapê, kits de produtos da Cristina Misk, do Chefachef com Cafés Segafredo, Cimsal Flor de Sal, vouchers para eventos no Mineirão pós-pandemia, Camisas Atlético/Cruzeiro/América e kit love wine oferecidas pela professora de Eventos Priscilla Machado, convite para participação na Feirinha Aproxima e em festejos juninos de BH, kit da Sabarabuçu, : convite para aula show no Instituto Gourmet, vouchers Assacabrasa, cursos Academia Nova Safra e certificados personalizados da Una.

 

Não assistiu ao GastroUna? Então clique no link e assista o evento completo.

 

*A matéria foi produzida sob a supervisão da jornalista Daniela Reis

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Por: Ruth Pires

Pensar na população negra LGBTQIA+ é pensar para além de acolhimento, amor, representatividade, resistência e diversidade. A partir disso, os extensionistas dos projetos Pretança e Una-se contra a LGBTfobia do Centro Universitário Una,  promoveram entre os dias 21 e 26 de junho a ação “Pessoas Negras LGBTQIA+ que nos inspiram” em prol da celebração do mês do orgulho LGBTQIA+, que teve como objetivo evidenciar a memória de pessoas negras que fizeram e fazem parte do movimento em Minas Gerais.

O ato buscou enaltecer a existência de pessoas negras LGBTQIA+ importantes no contexto local. Por meio de publicações diárias, foram noticiadas a vida e carreira desses representantes que são fundamentais para o movimento LGBTQIA+ no estado por lutarem pela construção cotidiana de espaços, potencializando debates e conscientização.

Para integrar essa campanha, foram convidados dez representantes. A ação contou com a participação da Sindicalista e fundadora da Parada LGBT de BH e Associação das lésbicas Soraya Menezes, o ativista político Dú pente, a comunicadora e historiadora Giovanna Heliodoro, o produtor cultural e ativista Elian Duarte, a Doutoranda em Comunicação e coordenadora do projeto de extensão “Pretança” Tatiana Carvalho, a psicóloga Dalcira Ferrão, a escritora e mestranda em comunicação Olívia Pilar, a estudante de Cinema e audiovisual Lua Zanella e a ativista e transfeminista Gisella Lima.

A coordenadora do Pretança, Tatiana Carvalho, falou sobre a importância de campanhas como esta.n“Primeiro, acho importante porque promove o reconhecimento das ações de algumas pessoas que são de gerações anteriores à atual nas universidades, e é importantíssimo reconhecer que há um caminho que foi percorrido por outras pessoas para chegar até onde a gente está. Outra ponto é a sensação de pertencimento ver outras pessoas como nós”.

Mês do Orgulho LGBTQIA+

O mês de junho faz menção à Revolta de Stonewall, uma série de manifestações da comunidade LGBTQIA+, que enfrentou a frequente violência policial de caráter lgbtfóbico na época. A partir de então, o episódio, que ocorreu no dia 28 de junho de 1969, se transformou em uma luta pelos direitos da comunidade de uma forma mais ampla: passou a ser considerado como o ato da libertação e o dia 28 de junho foi considerado como  “O Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+”.

 

Serviços:

Você pode acessar todo conteúdo no instagram do projeto de extensão Pretança  e Una-se contra Lgtbfobia. 

 

*Matéria supervisionada por Italo Charles e Daniela Reis

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Receita prática e deliciosa para fazer em casa

*Por Daniela Reis 

O prato de hoje além de delícia é muito especial! A receita foi transmitida ao vivo durante uma live produzida na edição do ExpoUna, que aconteceu na última semana. Quem apresentou essa gostosura foi o aluno do curso de Gastronomia do Centro Universitário Una, Júlio César Cândido.

O sucesso foi tanto que o Contramão não poderia deixar de compartilhar com você! A receita é simples e você pode fazer na sua casa para aquele almoço do fim de semana, afinal mesmo na quarentena a gente pode fazer uma comidinha especial.

Ahhh e para harmonizar com o prato, o chef também traz um drink ma-ra-vi-lho-so: mojito de vinho branco.

Vamos ao que interessa?

PRATO:

Arroz de abóbora e porco

INGREDIENTES:

– 500 g de arroz branco
– 200 ml de leite de coco
– 150 g de queijo meia cura
– 100 ml de vinho branco

– 3 dentes de alho
– 1 cebola
– 1 molho de cheiro verde (salsinha e cebolinha)
– ½ abóbora cabotia

– 500 g de lombo de porco
– 200 g de torresmo pré frito (pururuca)

PASSO A PASSO:

1) Tempere o lombo à gosto
2) Descascar e cortar as abóboras
3) Cozinhar as abóboras, usando as cascas na hora de cozinhar para garantir o sabor de todo vegetal
4) Refogue a carne em panela separada
5) Retirar a carne e na mesma panela vamos cozinhar o arroz
6) Retirar os pedaços de abóbora da água e amassar com garfo
7) Refogar o arroz, com alho e cebola
8) Acrescentar o vinho branco
9) Colocar água da abóbora até cobrir o arroz e deixe cozinhar
10) Quando a água secar colocar mais água de abóbora e o leite de coco
11) Quando cozido colocar a carne de porco
12) Fritar o torresmo
13) Finalizar o arroz com queijo, cheiro verde e torresmos

DRINK:

Mojito de vinho branco

INGREDIENTES:

– 500 ml água com gás
– 100 ml de vinho branco seco

– 2 unidades de limão tahiti
– Folhas de hortelã

PASSO A PASSO:

1) Cortar rodelas de limão e espremer o suco
2) Misturar na taça com açúcar
3) Colocar hortelã, gelo e as rodelas de limão
4) Colocar uma dose de vinho
5) Completar com água gasosa

COM A PALAVRA, O CHEF

“Sou Júlio César Cândido, aluno de gastronomia da faculdade Una e confeiteiro em Sr. Doces.
A live que realizei durante o expouna foi muito gratificante para mim, achava que não levava jeito com a câmera e tive um belo retorno, gostei muito das experiência com o público e de interagir com eles, fizemos uma prato rápido para que as pessoas consigam reproduzir em casa e um drink pra acompanhar”.

 

 

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*Por Ana Flávia da Silva 

O mercado de trabalho é um ambiente onde a desigualdade está presente, principalmente se olharmos para questões como raça e gênero. A mulher negra dentro deste âmbito encontra inúmeros desafios, que estão diretamente relacionados ao racismo estrutural e institucional.

A desigualdade no mercado de produção está diretamente associada ao desequilíbrio social que vivemos no Brasil. Os dados apontam um crescimento do número de pessoas negras alfabetizadas e concluintes do ensino médio. Contudo o índice de analfabetismo entre as mulheres negras é duas vezes maior do que as mulheres brancas, segundo uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2014. No mercado de trabalho não seria diferente, tendo em vista de que o acesso à educação ainda é muito precário. Grande parte das mulheres negras que se formam do ensino médio encontram dificuldades de ingressar no ensino superior, os dados apontam que apenas 10% conseguem se formar na faculdade.

Segundo dados da Previdência Social, 39,08% das mulheres negras estão inseridas em relações precárias de trabalho, fazendo parte também do maior número de pessoas que trabalham sem carteira assinada e recebendo os menores salários. Em diversas áreas do mercado a presença de trabalhadoras negras é praticamente inexistente. Um bom exemplo é o Cinema Brasileiro, até o momento apenas duas cineastas negras conseguiram lançar longas-metragens.

“Embora vivamos em uma sociedade multirracial e haja muitos discursos de que no Brasil não há racismo, as mulheres negras têm grande dificuldade em se inserir em determinados lugares. Basta observarmos quantas mulheres trabalham em atividades de maior retorno financeiro. Quantas ocupam cargos políticos ou mesmo estão em altos escalões do governo?”, questiona Yone Gonzaga, Consultora em Relações Étnico-Raciais e de Gênero e Doutora e Mestra em educação pela UFMG.

A mulher negra ao buscar uma vaga de emprego por muitas vezes poderá ser julgada pela cor de sua pele, por seu cabelo entre outros atributos físicos. “Outra barreira é o fato de os Setores de Gestão de Pessoas ou Recursos Humanos das empresas, não estarem aptos tecnicamente para compreenderem a dimensão racial como um entrave para o ingresso de pessoas negras no mercado de trabalho”, conta Yone.

Dentro das empresas elas são a minoria, sendo que pouquíssimas conseguem chegar aos cargos de liderança. Conversando com um grupo de mulheres negras, foi possível encontrar alguns pontos em comum em seus depoimentos. O principal deles é de que dentro das empresas muitas vezes elas têm sua forma de trabalho questionada, e precisam sempre se reafirmarem para não terem suas ideias ou opiniões invalidadas.

O racismo estrutural como consequência do nosso processo de colonização corrobora com a situação de desigualdade dentro do mercado de trabalho. É interessante observar que o racismo muitas vezes não ocorre de forma explícita, e sim através de um comentários considerados inofensivos. Essas pequenas atitudes do cotidiano precisam ser reavaliadas, essa é uma batalha constante que precisa ser combatida por todos.

Ainda de acordo com Yone, a melhor forma de derrotar o racismo estrutural é a denúncia. “O silêncio em relação às diversas formas de discriminação racial e de opressão de gênero permite a reincidência. Penso que a questão racial é um problema que deve ser enfrentado por toda a sociedade brasileira e não somente pelo segmento negro. Afinal, não basta as pessoas fenotipicamente brancas fazerem discursos de que não são racistas. Elas precisam se posicionarem e agirem contra todas as formas de discriminação e opressão que têm no pertencimento racial a sua origem”, afirma.

O feminismo negro

A pauta da igualdade de gênero e racial está sendo discutida constantemente. Podemos dizer que o feminismo tem sido um grande auxílio para que as mulheres negras possam alcançar seus objetivos em suas respectivas carreiras. Está havendo uma ruptura nos padrões impostos pela sociedade, isto fica claro quando observamos o fenômeno da transição de cabelos. É possível perceber que esse foi um grande marco do feminismo negro no Brasil, colocando em evidência outros assuntos que estão diretamente relacionadas à diversidade. A rede de apoio que foi possível criar através do feminismo, tem servido de inspiração para que mulheres negras possam discutir os principais desafios que enfrentam na sociedade e partir disso encontrar soluções para mudar o cenário atual.

 

*A matéria foi produzida sob a supervisão da jornalista Daniela Reis

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Ana Carolina Nunes de Abreu

Ninguém quer mudar seus costumes. Digo: sair da rotina somente por sentir vontade de tal feito. São raros os impulsos de vontade do diferente. Dar-se ao trabalho de sair logo pela manhã, quando os olhos ainda doem, acostumando-se com a cintilação do dia, e passar por um caminho diferente – rua acima, rua abaixo. Observar gritos silenciados e estampados nos muros de chapisco, com o cantarolar dos pássaros ao fundo, que sobrevoam ou observam o nada. Sentir a brisa-quase-vento que passa pelo canto das orelhas e coça o braço com o dançar dos pelos. Não, ninguém quer sentir essas coisas se é preciso chegar no horário em um ofício qualquer.

A saída da comodidade exige esforço. Durante as festas carnavalescas, me deparei com o gosto aguçado por uma dança que, antes, só era conhecida por nome. É absurdamente lindo e instigante ver o ritmo e a cadência de um Vogue. O corpo se move como se entrasse nas partituras e abraçasse todas as notas.

Recebi o convite despretensioso para participar de uma aula. Apesar do interesse, jamais tivera empenho suficiente para seguir com novidades que me demandassem tempo, deslocamento e, principalmente, dedicação. E o convite ficou para trás, como quem lê uma carta que lhe palpita o coração e faz o Zigomático maior tracionar-se ao canto da boca em direção às orelhas, com a sinceridade de quem respira fundo e sente a nostalgia nas pontas do dedo, e na textura do papel. Logo depois, porém, guarda numa caixa, com certo desleixo, e encaixa no único canto disponível dentro do guarda-roupa, próximo a outros pertences que nunca são usados, nem pra servir de decoração.

No entanto, o descontentamento com a situação fez com que eu escolhesse esse espaço para revelar minhas palavras. Não que seja digna, ou que sejam as melhores. Que eu possa, contudo, dar minha contribuição, e que não seja na irregularidade de meus passos e na falta de malemolência de quadris, braços, pernas e desconhecimento musical. Lembro-me de ter decidido ir, numa sexta-feira qualquer, entre trabalhos, happy-hour e a necessidade de um cigarro, ao Centro de Referência da Juventude, onde as aulas de Vogue são realizadas, a partir das 18h, ministradas por uma moça-talvez-menina com um corpo traçado pelo padrão, tal como a pele e o fenótipo. Bonita, além de se aparentar uma pessoa agradável.

Por fora, o contraste de rotas. Pessoas acumuladas em um canto da Praça da Estação, com malas, bolsas e sacolas no chão. Pessoas acima de cinquenta anos, diria. Suas bagagens são coloridas, bem como seus papos e amenidades. Esperam, pacientemente, por um ônibus que as levará a uma cidade do interior de Minas Gerais, da-qual-não-me-recordo-o-nome, para a festa de uma padroeira, à qual também não me atentei o bastante para anotar.

De fora, observo a dança que já havia começado. O grupo, majoritariamente de negros e LGBTs, une-se por uma vontade comum. Seus saltos parecem sapatos comuns, pela facilidade com que os usavam. São 15 cm que, para eles, complementam a performance, perfeitamente. O suor da dança respinga pelo cabelo e traça o maxilar dos rostos, evidente em corpos que se mexem com facilidade, ao passar da música que não ouço, devido ao barulho externo, de carros e pessoas. 

Não há coreografia, até porque tudo vem de orientação própria. É seu corpo a conversar com você, e você a conversar com a música. Um diálogo que exige “o querer”, pernas próximas uma da outra e fôlego para um death drop — um fragmento da dança em que eles, simplesmente, se jogam ao chão, virando uma das pernas para trás, e, logo em seguida, levanta-se, como se nada acontecera. Você, não. Você, mero espectador, demora alguns segundos para absorver tamanho movimento.

As pernas se abrem no chão, fora da preocupação do relógio. Pernas, essas, que não cabem em outro sentimento que não seja o amor à dança (a não ser que, claro, elas queiram,). Não há obrigação de continuidade dentro de seu momento performático. Só a linearidade do que se quer tornar linear. Eles caminham como quem passa por uma famosa passarela, sobre a qual o foco são os movimentos e o que se decide fazer com o que aprendeu. Ficao perplexa ao perceber como o corpo faz traços estranhos, incrivelmente lindos. Lá de fora, o cheiro de um final de semana no centro traz os sussurros de quem passa por ali, a observar, pelos vidros do CRJ, as habilidades que também são meu foco. Decido entrar.

A elegância agora tem som, e um som familiar, conhecido por vídeos aos quais já assisti. Misturam-se e entrelaçam seus corpos com a música, do funk brasileiro ao hip hop gringo. De perto, tão mais leves em seus passos, causam certa inveja, ao passar pelos espaços do salão, enquanto esticam seus braços para o alto e fazem círculos, quadrados. Ali está toda a geometria existente, e não existente. Uma alma concreta; almas que podem ter lá seus problemas, mas, ali, parecem esquecê-los. 

O Centro é repleto de movimentos. Caminhadas mais à frente, no corredor de um espaço branco, mostram passos de hip hop, funk, e, mais ao fundo, capoeira. Um alívio percorre meu corpo, ao saber que existem tantas pessoas dispostas a descobrir, em seus corpos, o próprio limite. O contraste que faz total sentido. Crianças, sorrisos, gritos de felicidade e estilos que agradam a meus olhos, mesmo na maior distância. Ali, um sentimento de pertencimento, que pertence a eles.

Transmissão de corpos tão encantadora me faz ter vontade de abaixar a câmera e fazer minha própria dança, dentro de estilos que fogem aos padrões e acendem chamas em qualquer um. E me faz perceber que, talvez, aquela ali seria a comodidade deles. E a simpatia, mesmo que distante, é tão grande, que gostaria de convidá-los a também conhecer outras situações. Assim como os vi encantados ao final da noite, enquanto perguntam pelas fotos que me viram tirando, bem como sobre o que eu anotava numa caderneta, de forma rápida e precisa. Não necessito de muito. Afinal, as palavras sairiam com naturalidade e amor nesse registro de uma paixão que nasceu.

Esta é uma história pré-quarentena, quando os sentimentos à flor da pele me traziam a sensação de estar viva, e de poder observar a vida que pulsava além de mim. Esta é uma história que foge à falta de abraços, beijos e suores. Esta é uma história de aglomeração, contato do qual sinto falta, diariamente, e que só pude perceber no isolamento, sem pessoas em seus trajetos à casa, ao bar, à cidade do interior ou à linha de frente de um Vogue.

 

*A crônica foi produzida sob a supervisão do professor Maurício Guilherme Silva Jr.