Praça Sete

O carnaval não é o mesmo sem as tradicionais escolas de samba. O desfile de Belo Horizonte só foi oficializado em 1980, mas já animava a cidade desde a década de 1940, logo depois do surgimento dos blocos caricatos. A festa foi crescendo e esse ano, entre agremiações e blocos, é aguardado cerca de 1,5 milhão de pessoas nas ruas, 500 mil a mais do que no último ano. O desfile das agremiações será no dia 17 de fevereiro.

De acordo com a assessoria da Belotur, a base do Carnaval é a mesma para esse ano. “Tanto o número de blocos caricatos quanto de escolas de samba se manteve o mesmo do ano passado, ou seja, 6 escolas de samba e 9 blocos caricatos”, informou a assessoria.

Expectativa

Cidade Jardim, das cores vermelho e branco, é uma das mais clássicas escolas da capital, o presidente, Alexandre Silva, 45, fala sobre a ansiedade com a aproximação da festa. “Procuro todo ano fazer o melhor em prol da grandeza do carnaval da cidade, e sempre haverá muita ansiedade”, disse.

As novas agremiações também têm seu espaço na avenida. A Força Real desfilou pela primeira vez em 2013, e avalia a experiência desse ano para ir à Afonso Pena buscar o título. “A responsabilidade e perspectiva aumentam, cada ano que passa a cobrança é maior, temos que nos superar sempre, em busca do desfile perfeito”, contou o presidente, Felipe Diniz, 28.

Preparação e críticas

A equipe da experiente Cidade Jardim começou a se organizar no segundo semestre e encontrou dificuldades para terminar o trabalho. “Começamos a nos preparar em setembro, com o lançamento do samba enredo, e encontramos dificuldade nas compras de materiais, pois em BH não têm”, relatou o presidente da agremiação alvirrubra.

Por outro lado, o clima de carnaval mal tinha acabado, e a agremiação da região noroeste da capital, Força Real, já começava a se preparar para a festa desse ano. Diniz conta que também teve dificuldades em finalizar o trabalho. “Foi complicado, a falta de estrutura do carnaval de Belo Horizonte compromete muito o trabalho das escolas de samba. Começamos em abril, quando escolhemos o enredo, em maio já estávamos fazendo fantasias. Não temos barracão e nem quadra de ensaios, as fantasias e alegorias são feitas em sua maioria na garagem da minha casa”, explicou.

Competitividade e premiação

Os critérios para avaliação das escolas são: bateria; samba-enredo; harmonia; evolução; enredo; conjunto; alegorias e adereços; fantasias; comissão de frente e mestre-sala e porta-bandeira.

Com um enredo produzido pelo carnavalesco Flávio Campello, e que exalta as belezas de Minas Gerais, pela visão da conhecida personagem mineira Sinhá Olímpia, a Força Real, soma à grande competitividade entre as agremiações que vão parar uma das principais avenidas da capital. O presidente destaca que “a competitividade é muito grande entre as escolas, todas querem ganhar, todas são ‘vaidosas’, é o famoso ‘espelho espelho meu existe escola mais bela do que a minha’. Porém muitos dos presidentes e diretores são amigos fora da avenida, e se visitam durante todo o ano”. Silva destaca o mesmo que o adversário, “durante o ano fazemos reuniões entre os presidentes das agremiações para a melhoria do carnaval e das agremiações”.

Toda essa disputa, além da paixão pelos escudos e cores, se deve ao prêmio pago às escolas. Segundo a Belotur “as três primeiras escolas de samba serão premiadas com R$50 mil, para a primeira, R$25 mil, para a segunda e para a terceira R$12,5  mil”.

Veja a programação completa do desfile:

Texto: Ítalo Lopes                                                                                     Imagens: Acervo Força Real/ Nelio Rodrigues; Acervo Belotur

 

Todo fim de ano a história se repete. Pessoas felizes se preparando para o Natal, uma expectativa imensa para o ano que está por vir e o aumento da tarifa do transporte público. No ano de 2013, milhares de pessoas foram as ruas protestar contra o aumento das tarifas. Porém, nada mudou, os valores ficaram congelados por um tempo. Em abril de 2014, o reajuste foi aprovado e as passagem foram de R$ 2,60 para R$ 2,85.

No dia 28 de dezembro de 2014, os belorizontinos foram pegos de surpresa com o novo aumento das tarifas, que passaram de R$ 2,85 para R$ 3,10, causando revolta nas redes sociais. O estudante João Paulo Barbosa, 20, estava viajando e não sabia do aumento da tarifa, somente quando foi subir no transporte coletivo, sentiu o peso do aumento. “Estava descendo na rodoviária e como estava cheio de malas, separei o dinheiro. Quando o cobrador me informou que era R$ 3,10, levei um susto, foi pra um valor muito alto.” destacou o jovem.

Atos contra a Tarifa

Manifestações contra o aumento da tarifa foram programadas após a mudança nos preços. A primeira concentração, próxima a uma estação do BRT MOVE, teve pouco mais de 30 pessoas. A última manifestação, que ocorreu na sexta-feira, 09, cerca de 500 pessoas participaram do ato. A reunião foi no quarteirão fechado da Av. Afonso Pena, entre a Praça Sete e a rua Tamoios. Durante o protesto, os manifestantes fizeram uma passeata até uma estação do BRT na Av. Antônio Carlos.

Ainda na sexta-feira, 09, o desembargador Elias Camilo, da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), decretou a suspensão do aumento das tarifas para as linhas suplementares da capital. De acordo com ele, a decisão do aumento da passagem para os ônibus dessa linha é dever do chefe do poder executivo do município e não da BHTrans. Contudo, as linhas regulares e metropolitanas mantém o aumento realizado pela  portaria BHTRANS DPR Nº 144 de 26 de dezembro. O coletivo Tarifa Zero BH já organiza um 2º Ato Contra a Tarifa. O proposito da manifestação, de acordo com o evento marcado nas redes sociais, é tornar a suspensão definitiva e fazer com que englobe as outras linhas também. A concentração está marcada para está sexta-feira, dia 16, às 17hs na Praça Sete.

Texto: Luna Pontone

Foto: Yuran Khan

Na última quarta-feira, 26, as ruas de Belo Horizonte ficaram coloridas de azul, preto e branco. O jogo da final da Copa do Brasil era inédito, uma vez que era o maior clássico entre Atlético e Cruzeiro de todos os tempos.

Com dois gols de vantagem para o Atlético, dificilmente o time celeste conseguiria vencer, e realmente, não conseguiu. Nem precisava de gol pra vencer, mas mesmo assim, o time alvinegro insistiu e marcou 1×0 sobre o Cruzeiro. Os foguetes não paravam as buzinas já estava virando rotina e os gritos de “GAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO” não cessavam mais.

Quando o Atlético ganhou a Libertadores, a massa atleticana desceu para a Praça Sete e foi uma festa que só. Ontem, não foi diferente. Beirava 1h da manhã e só descia mais gente e a felicidade era contagiante, até para quem não era torcedor. Durante a madrugada, quem é morador do centro com certeza teve dificuldades para dormir. Era bomba, foguete e muito, muito, muito grito e cantoria do hino do time.

O jovem Wagner Ribeiro, 21, explica que a paixão pelo time alvinegro praticamente nasceu com ele. “Meu pai sempre que tinha a oportunidade, me levava pro campo, desde que eu era novinho ainda. O amor foi crescendo sabe? Quando você se dá conta, já ta gritando e chorando pelo time”, explica.

O estudante de administração Lucas Vasconcelos, 19, afirma que ganhar uma Copa do Brasil já é maravilhoso, mas ganhar do maior rival dá um gosto ainda melhor. “Foi um sentimento inexplicável, de alívio, porque é um título tão sonhado pela massa atleticana e em cima do maior rival e no maior clássico da história. Um sentimento de vingança, já que o Cruzeiro ganhou o brasileirão esse ano, mas não conseguiu ganhar do maior rival, então, só lamento”, esclarece.

A massa atleticana sempre foi conhecida por ser muito apaixonada e fiel ao time, e agora, com o Atlético Mineiro ganhando cada vez mais campeonatos, a torcida vai agraciar ainda mais os craques que jogam no time.

Texto: Luna Pontone

Foto: Marcelo Fraga

Uma batalha de rimas, a disseminação da cultura do Hip hop em BH, o Duelo de MC’s será nesse sábado, 18, a partir das 14h, na Praça 7 de Setembro, no centro da capital mineira. Após todas as complicações que os organizadores do evento enfrentaram na Prefeitura de BH com a liberação dos alvarás de funcionamento e a isenção dos impostos, o duelo acontecerá mais uma vez, e estará arrecadando fundos para a disputa nacional desse ano.

Iniciado há sete anos, o duelo acontecia toda sexta-feira no Viaduto Santa Tereza, no baixo centro de BH. Entretanto, no início do ano, a Prefeitura de Belo Horizonte fechou-o para implantação do Circuito de Esportes Radicais Santa Tereza e recuperação estrutural do viaduto.

Desde então o duelos aconteciam em espaços públicos da capital, como forma de protesto à prefeitura por não ter cedido um novo lugar para o evento e pela isenção dos impostos cobrados para a realização dele. “A prefeitura cobra uma taxa de 0,85 centavos, se não me engano, por metro quadrado pelo uso do espaço, fora a questão dos banheiros, da segurança, sei que dá mais ou menos uns 600 reais que não temos condições de pagar, pois o duelo acontece de forma independente e gratuita”, explicou Izabela Egídio, 22, colaboradora do coletivo Família de Rua que organiza o duelo.

Importancia cultural

O duelo de MC’s em BH foi o primeiro evento que apoiou a cultura Hip Hop na capital. Iniciado na Praça da Estação em 2007, o evento era uma pequena reunião de amigos que faziam suas rimas. Ao passar do tempo, foi-se ganhando destaque e notoriedade tanto na qualidade da produção quando na importância para o reconhecimento da cultura urbana na capital.

A cada duelo, mais gente se agregava ao movimento, com isso não era mais possível fazê-lo na praça. Então o movimento migrou para o vão do Viaduto Santa Tereza onde fez sua casa. O local, antes, era conhecido como um ponto de uso de drogas, o movimento do Duelo transformou o ambiente. “Muitos no início não tinham noção do que estava acontecendo ali, mas aos poucos começaram a também ser parte daquilo”, contou Trax Machado, 20, estudante de Produção Multimídia.

O Duelo ganhou uma enorme proporção e foi agregando gente sempre que acontecia. Intensificou-se o movimento e gente de todos os cantos de BH participavam. “É gente de todas as classes sociais, etnias e crenças, que estão juntos no mesmo lugar se respeitando. O encontro não é só de MC’s, o encontro é feito de gente do bem e que tem em comum o rap e a diversidade”, ressalta Julia Portuense, 23, estudante de jornalismo.

Infelizmente não são todos que veem a importância cultura do Duelo. “Eu vejo o duelo como uma ligação entre a galera do morro e do asfalto. Infelizmente rola um preconceito”, contou o estudante Lucas Silva, 21. Entretanto, o movimento falou mais alto e permaneceu, sendo um percursor dos movimentos culturais da capital mineira. “Depois do Duelo diversas mobilizações urbanas surgiram, e no meu ponto de vista ele foi um divisor de águas”, ressaltou Trax Machado. “Existe BH antes e depois do Duelo de MC’s. Hoje temos mobilizações culturais de todos os tipos, gostos, em locais e horários diversos rolando na cidade”, acrescentou o estudante.

O duelo nacional

Esse ano ainda está em projeto o Duelo de MC’s Nacional 2014. Uma batalha entre rimadores de oito estados do Brasil (Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal) que vão se reuinir em Belo Horizonte para a disputa. O vencedor leva o título de Melhor MC Improvisador da Cultura Hip Hop e o prêmio de R$ 5 mil. O evento ainda não teve a data divulgada. A arrecadação de fundos para a disputa nacional está acontecendo de forma coletiva. A data do duelo será divulgada assim que a meta dos R$ 25 mil necessários para a realização seja atingida.

Amanhã, 18, ocorrerá mais uma edição do Duelo na Praça 7 de Setembro, no centro de BH. A disputa começa às 14h. Ao final do duelo será sorteado um Kit Cultural, uma rifa no valor de R$ 5,00 para ajudar na arrecadação de fundos para a competição, e no dia 02 de novembro, os organizadores realizarão “Uma Batalha De Todos Nós”, na Casa de Shows Granfinos (Av. Brasil, 326. Santa Efigênia, Belo Horizonte).

Saiba mais sobre o Duelo e sobre a organização da competicação nacional em: https://www.catarse.me/pt/duelodemcsnacional.

Texto: Umberto Nunes

Foto: Divulgação.

Era Dia dos Namorados e o caminho para casa incluía a Praça da Liberdade como rota. Dessa vez, havia algo no ar e não era o “enamoramento” dos vários casais que já tem o costume de estar na praça com ares de romantismo europeu. Dezenas de policiais circulavam por todas vias no entorno, várias viaturas chegavam fechando as ruas, cercos eram montados: uma praça de guerra era montada bem à minha vista. Me aproximei mais rápido para ver o que acontecia.

Um saxofonista, que pensava em faturar uns trocados na data, mudou de música quando a polícia tomou a praça. Não tenho ideia se era sua intenção, mas a marcha fúnebre que saiu tocando combinou com o clima que se instaurou naquela momento. Muitos casais dispersaram antes ainda de entender o que estava acontecendo; talvez até mesmo Cupido esteja mais precavido nos dias de hoje. Pouco tempo depois depois da chegada da polícia, vi as bandeiras vermelhas subindo a Avenida João Pinheiro. Mesmo imbuído da minha função (apurar todo o desenrolar da manifestação) e embora estivesse calmo, não pude evitar um arrepio de temor diante do cenário que se desenhava.

A polícia se posicionou em toda praça, com efetivo suficiente para fechar todas as ruas em volta e ainda sobrava gente para ficar em frente ao relógio da Copa – sim, falo do relógio que a Coca-Cola instalou por lá para fazer a contagem regressiva da temporada de futebol (se esse fosse um relato gonzo, eu escreveria “temporada de medo e delírio” no lugar). Ao contrário da força policial, os manifestantes não estavam em número tão expressivo. O grupo se aproximava enquanto a última porta do Xodó era fechada. O barulho não entrou bem em meus ouvidos.

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Eram exatamente 16h, quando uma linha invisível delimitou o posicionamento de manifestantes e policiais na praça; frente a frente, ambos os lados esperavam por algum movimento, alguma ação, uma faísca. A faixa invisível só não era respeitada pela imprensa, que sempre se embrenhava entre os dois grupos para ter bons registros. A linha de frente do grupo que protestava era formada por alguns mascarados, um pessoal com estilo punk e cabelos espetados, jovens e senhoras – destaco senhoras, por que não vi nenhum senhor por lá, pelo menos não à frente. Os policiais estavam imóveis, bravamente posicionados (atrás de escudos e bem armados) defronte ao fatídico relógio. Ninguém tocaria nele desta vez, nenhuma pedra o arranharia, diferente do que aconteceu nas Jornadas de Junho no ano passado. Havia forte aparato policial para garantir sua segurança desta vez.

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Contra a barreira policial os manifestantes puxaram gritos, como “olha que idiota, tá defendendo o relógio da Copa!”. Os agentes permaneciam imóveis. Até que, em certo momento, um pequeno aglomerado de manifestantes começou a queimar a bandeira do Brasil, mas o vento atrapalhou, apagando a intenção deles. Foi nesse momento em que ouvi os primeiros disparos, juntamente com o corre-corre, o gás lacrimogêneo e as pedras. Consegui ver que um manifestante havia se machucada e outro voltava para socorre-lo, mantendo as mãos sempre para cima. Ao redor: bombas de gás versus pedras. Difícil escrever “enfrentamento” para definir isso.

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Enquanto agentes policiais marchavam, uma senhora desabafou aos berros: “a população está ferida, mas o relógio está intacto! Parabéns, vocês conseguiram!”. Uma outra debochou: “a gente só queria dar um abraço no relógio, mas vocês não deixaram”. Com a praça esvaziada, mantendo formação, escudos à frente, a polícia passou a cercar outras vias.

Eram 16h20 quando um grupo de policiais saiu da praça, passou pelo prédio da biblioteca pública para enfim bloquear a Rua da Bahia. De mãos dadas com a namorada sigo para o programa romântico da tarde: vou atrás deste destacamento. Lágrimas correm pelo meu rosto e não é choro sensível pela data comercial, é o efeito do gás que já me cega. Ela assume a câmera até que eu me recupere.

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Os policiais cercaram a Rua da Bahia, mantendo duas filas de agentes. Estamos logo atrás dessa sólida formação. Afora os policiais, somos três: dois estudantes de Jornalismo – no meio de confusão de sentimentos – e um repórter de O Tempo. Enquanto acompanhamos e registramos a ação, dois policiais saíram de suas posições oficiais e se aproximaram de nós. Eu carregava uma mochila e não tinha credencial de imprensa, além disso, fotografava do celular; Guilherme Ávila, o jornalista do O Tempo, tinha credencial, uma GoPro na cabeça, câmera profissional na mão e nada de mochila. Não sei se eu usava um manto de invisibilidade ou se um repórter de jornalão, naquele momento, era mais visado para a abordagem policial, mas o caso é que os agentes me ignoraram e foram direto até Ávila. Só depois de ver a credencial, pedir seu documento de identidade, fazer vistoria corporal e fotografá-lo é que os PMs se lembraram que eu estava lá e pediram para ver o que havia na mochila sem se importar muito com o conteúdo.

Depois da revista, fizemos trajeto contrário ao ato e seguimos pela Rua da Bahia até a proximidade do Minas Tênis Clube, trocando informações com a redação. Sabíamos que com a mochila passaríamos por revistas constantemente e precisávamos nos desfazer dela. Em todo o trajeto havia circulação de policiais. Um professor universitário aparece afobado querendo saber o que estava acontecendo, o som dos tiros o assustaram. Quando explicamos ouvimos uma resposta que me fez cogitar que ele pudesse ser a própria Joana Havelange: “acho que agora não tem mais que protestar, afinal, já gastou muito dinheiro, o que tinha que ser roubado já foi roubado. Agora é nas urnas”.

De novo, o caminho de casa é o caminho da manifestação. Seguimos pela Avenida Bias Fortes. Alguns moradores estavam fora de suas casas com cara de medo. Observamos algumas pichações novas nos muros. “Vocês estão nas manifestações?”, indaga uma senhora. Explicamos que estávamos cobrindo o ato. “Tá uma bagunça, uma baderna, eu se fosse vocês passava por outro caminho”, disse ela. Expliquei que aquele também era nosso caminho para casa. “Boa sorte”.

  Texto por Alex Bessas
  Fotos: João Alves, Alex Bessas e Franciele Carvalho

Em junho de 2013, o Brasil saiu às ruas e mostrou o seu descontentamento com o momento político pelo qual estávamos passando. Em meio a gritos e protestos que lotaram as ruas, os brasileiros reivindicaram transparência dos políticos e melhorias na educação, saúde e no transporte público. Quase um ano depois, pouco mudou, mas é possível ver um rumo diferente para o país.

Após as “Jornadas de Junho”, como ficaram conhecidos os protestos dessa época, os grupos sociais ganharam força nas grandes capitais. Com o engajamento desses grupos, a população obteve conquistas perante os “mandatários” das cidades. Em Belo Horizonte, os destaques foram a conquista contra o aumento das passagens (Não é pelos 20 centavos) – apesar da tarifa ter sido reajustada em maio -, o Espaço Luiz Estrela (na Região Leste) e a ocupação dos espaços públicos da cidade.

Os grupos sociais não se abateram pelo revés perante o aumento da passagem e continuam com as ocupações nos espaços públicos, ato que vem conquistando adeptos por BH e propondo transparência da prefeitura em suas manifestações pela cidade. No dia 15 de maio, as avenidas Amazonas, Afonso Pena e João Pinheiro foram palco de uma manifestação que demonstrou solidariedade entre os grupos, onde todos se alternavam na liderança e coordenavam gritos por mudanças e apresentavam as suas propostas. No entanto, não houve grande adesão, mas isso não fez com que a manifestação perdesse a importância.

A luta contra o aumento das passagens teve uma reviravolta no ultimo mês. No início de abril, o Ministério Público conseguiu uma liminar que suspendeu o aumento temporário das passagens de ônibus, previsto para o dia 6 do mesmo mês. O grupo Tarifa Zero, junto com os belo-horizontinos comemoram a conquista que durou por pouco tempo. No inicio de maio, a justiça negou o pedido que tornaria a suspensão definitiva. Sendo assim, no dia 10, as passagens de ônibus passaram de R$2,65 para R$2,85.

Questionado a respeito das próximas manifestações, o jornalista Geneton Moraes Neto, atento observador da onda política que se estendeu de junho do ano passado até agora, é categórico. Para ele, “há um óbvio cansaço diante de um absurdo que se repete há décadas: o brasileiro paga impostos altos, mas não vê um retorno em forma de educação, segurança e medicina pública de qualidade”.

Geneton também considera que houve excesso tanto por parte dos manifestantes quanto pelos policiais, esperando que, mesmo com o clima de confronto que se anuncia, que haja bom senso. “De qualquer maneira, aquelas manifestações gigantescas do ano passado terão cumprido um papel se conseguiram de alguma maneira abrir os olhos dos governantes em todos os níveis”, analisa o jornalista.

Texto e Foto: João Alves