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Por Igor Tiago Ribeiro

Você já se perguntou hoje quem está mais exposto a este tiroteio que é a pandemia de covid-19? Conheço quem tenha a coragem de dizer “eu”, ou “todos nós”. Mas, infelizmente, os dados provam que essa não é uma verdade absoluta. A periferia tem sofrido cada vez mais porque o mal que a acomete não é somente a pandemia de covid-19, a distância dos centros de saúde, a falta de acesso ao saneamento básico, a quantidade de pessoas que moram na mesma casa, mas também a falta de acesso à educação, o aumento da presença messiânica da igreja nas comunidades e o quanto isso, infelizmente, a aproxima do discurso negacionista escancarado no mais alto escalão da política brasileira.

Pode soar conspiracionista demais que estes fatores se somem aos péssimos que já existem e resultem em uma chacina da população menos favorecida de um país, mas onde já vimos estes fatores acontecer, a história posterior fez questão de mostrar que nunca é somente só o fato, mas, sim, tudo o que está por trás dele. E eu, como jornalista, seria um irresponsável se não estivesse atrás da origem do fato de o Brasil ter ultrapassado mais de 300 mil mortes por covid-19, e elas estarem, em maioria, na população mais pobre.

Você ainda lembra que a primeira vítima fatal de covid-19 no Brasil foi uma empregada doméstica? Essa cena se repetiu outras milhares de vezes e foi um estudo publicado pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde da PUC-Rio que primeiro confirmou tudo. Levando em conta as primeiras 30 mil notificações de casos de covid-19 disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, o estudo concluiu que quanto maior a taxa de escolaridade, menor era a letalidade da doença, ficando em 71,3% entre pessoas sem escolaridade e 22,5% em pessoas com nível superior.

Se aprofundarmos os dados e cruzá-los com as características de raça, vemos que pardos e pretos sem escolaridade representam 80,35% dos dados de frente, com 19,65% dos brancos com nível superior. E esse é apenas o resultado de uma pesquisa no início da pandemia, em maio de 2020. O problema mesmo está no fato de que, com a permanência da pandemia, os dados ficam mais específicos e confirmatórios – por vezes, até mais assombrosos.

Pesquisa do estúdio de inteligência de dados Lagom Data, feita em exclusividade para o jornal El País, comparou os dados de 2020 com os de 2021 e confirmou aumento de até 60% das mortes entre as pessoas com vínculos profissionais comprovados que não puderam ficar em casa. Em especificidade, as profissões que não exigem formação de nível superior e não ganham o suficiente para sair das regiões marginalizadas onde habitam são as mais afetadas.

Mas o que a igreja tem a ver com isso? É meio difícil imaginar como a religião possa impactar numa crise humanitária quando seu papel, na história da sociedade, sempre foi o de passar uma imagem humanizada para a sociedade que a cerca [e a sustenta].

Segundo pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha, em janeiro de 2020, pré-pandemia, 60% das pessoas que compõe o perfil do brasileiro evangélico se autodeclaram pretas ou pardas. Isso é resultado do crescimento da presença dessas igrejas nas regiões onde essa população está, em sua maioria, nas regiões mais periféricas. Essa representatividade não existe somente nesta população. Pelo contrário, está, até mesmo, no cenário político brasileiro, no qual compõe 20% do Congresso, em Brasília.

Só nas eleições municipais de 2020, foram, aproximadamente, 13 mil candidatos espalhados pelo Brasil, que usaram a própria religião como bandeira política, segundo o Instituto dos Estudos da Religião. E o maior problema é que a religião faz oposição à ciência, e, quando forma representatividade política, colocamos os estudos científicos em xeque na mão dos representantes do povo. Afinal, a voz do povo é a voz de Deus.

É com esse discurso que o próprio presidente Jair Bolsonaro conseguiu puxar para si a taxada irresponsabilidade social durante a gestão da pandemia. Principalmente, porque representa o combo perfeito entre negacionismo, religião e poder. E, quando esse discurso ecoa entre as pessoas que frequentam os centros religiosos neopentecostais, que é são as mesmas, mas sem acesso à educação, e representam a maioria entre os seus eleitores, temos o resultado catastrófico de um número maior de mortes nesta população.

Infelizmente, ainda estamos numa realidade longe do ideal de conseguir separar política de religião, formar cada vez mais pessoas em ensino superior, e voltar a investir em educação pública para aumentar o acesso da população mais pobre a melhores oportunidades de vida. Em 2021, já não bastava que brasileiro, o que, no geral, já é difícil? Também ser pobre e preto é a certeza de que não há como sobreviver a mais uma pandemia.

 

*Edição: Professor Maurício Guilherme Silva Jr.

 

 

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Por Keven Souza 

Desde de 2020, devido à pandemia do Coronavírus, com o decreto municipal anunciado pelo prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), uma das medidas adotadas para conter o avanço do Covid-19 na cidade, foi o fechamento do comércio, parques e escolas.  

Com a decisão, diversas instituições de ensino superior se organizaram e se adaptaram para o ambiente digital, com o intuito de manter as atividades e os trabalhos ativos. O ciberespaço foi a solução encontrada para que as aulas continuem a distância. 

Entretanto, o famigerado ensino online, que para alguns pode ser uma tarefa simples, é um desafio para aqueles estudantes que estão em cursos superiores voltados para segmentos mais exatos de atuação, tendo seu foco em habilidades práticas e técnicas específicas, sendo eles os cursos superiores de modalidade tecnólogo. 

Para os alunos do curso de Gastronomia do Centro Universitário Una, o período é de incerteza, visto que ainda em 2021, estamos em um cenário contínuo de pandemia, e a insegurança da maioria é perceptível , já que o curso é prático, e que trabalha todos os sentidos dos estudantes, principalmente o paladar. 

A preocupação presente acontece por não conseguirem utilizar o laboratório de aprendizagem, que é fornecido para aulas práticas para a absorção de conteúdos, até mesmo com a adaptação do ensino online, dado que algumas demandas são de atividades manuais.

Laboratório de Gastronomia

Cristina Nogueira Moreira, que é estudante do segundo período do curso de Gastronomia, diz que migrar para o ensino remoto não foi difícil, mas que em alguns momentos sentiu falta de interações desempenhadas na cozinha do campus que possui toda a estrutura para desenvolvimento e montagem dos mais variados pratos, incluindo panificação e também bebidas. 

“Sinto muita falta e necessidade de estar nos laboratórios, imaginando como seria estar ali com os professores e colegas de sala tendo aquela troca, que é muito presente na nossa profissão. Juntamente com o sentimento de ‘uau’ por ser um espaço ótimo, mas também de tristeza por conta de não poder usá-lo no momento”, desabafa a estudante. 

Segundo ela, este período atípico de pandemia trouxe não só problemas técnicos com o computador, mas também o receio da experiência no curso não ser completa, já que no presencial haveria prova dos pratos, absorção de críticas construtivas e criação de novas receitas tendo auxílio físico dos professores e também dos colegas.

Mas, está confiante de que o mais próximo possível aconteça o retorno presencial. 

“Há confiança em quem está me ensinando, o fato de que ainda vamos ter todas as aulas presencialmente… amenizou essa sensação “, completa Cristina. 

Atividade prática para além do laboratório 

A Una, percebe que continuar o sonho dos estudantes, mesmo que de forma remota, é essencial para a qualidade na formação dos alunos, por isso, aproximá-los do Laboratório de Gastronomia, é uma maneira imprescindível de fortalecer o aprendizado e a relação instituição/aluno. 

Pensando nisso, a universidade iniciou no mês de Maio, uma alternativa que possibilita tarefas práticas no ambiente domiciliar, de forma segura e eficaz e para os discentes. 

A proposta é a distribuição de kits para os alunos(com que diversos insumos alimentícios, como itens folhosos, frescos e carnes) que acontece semanalmente como forma de praticar desde o preparo de alimentos e bebidas, até mesmo a união de ingredientes de modo que se tornem resultados mais elaborados remotamente. 

A produção dos kits varia de acordo com a demanda e os cronogramas de cada Unidade Curricular (UC), mas a equipe técnica do Núcleo de Suporte aos Laboratórios (NSL), liderado por Daniel Sucasas, organiza em média de oitenta a noventa unidades por semana. 

Estão elegíveis a solicitação dos insumos os alunos matriculados em UC’s que possuem conteúdo prático, e a disponibilidade é feita através de inscrição em um link, indicando o interesse em retirar um ou mais kit dependendo de sua grade curricular. As entregas acontecem às quartas-feiras, na unidade  Una João Pinheiro II. Todo esse processo acontece seguindo as normas de segurança contra a Covid-19. 

Na visão do professor de Jornada do curso de Gastronomia, Sinval do Espírito Santo, a proposta é excepcional para que o aluno consiga ter a sensorialidade de criação dos pratos. Ele completa que além da prática com os kits ser um método pedagógico seguro neste momento, é uma forma também dos estudantes gerenciarem os insumos de acordo com as demandas das aulas práticas. 

“A gestão desses insumos é algo que se assemelha muito a um restaurante. Eu como proprietário, e que já trabalhei sendo chef em outros lugares, essa gestão acontece. Tem dia que você recebe os laticínios, o Ceasa e em outro um pequeno produtor”, explica o professor. 

Segundo ele, é uma injeção de ânimo pro curso. Uma oportunidade focada em maior interação nas aulas, e que os problemas comuns que antecedem as preparações dos pratos, agora podem acontecer em seus lares, sem deixar a prática de lado. 

“Vejo isso como algo extremamente positivo, tanto pedagogicamente falando, quanto em termos de logísticas de entender uma realidade grande de que vai ser a profissão deles”, complementa Sinval.

A ideia é ir para além da educação online, é trazer um método diferente de absorção de conteúdo, e também sintetizar os meios possíveis de ter contato com as atividades práticas, sendo no conforto de sua residência sem faltar apoio pedagógico, como já acontece nas aulas remotas pelas plataformas digitais.

E o kit, dentre o cenário, está sendo um sucesso. 

Para Maria Valentina Cássia Oliveira Moreno, que tem 21 anos e é estudante do segundo período do curso de Gastronomia, antes de ter acesso aos insumos era complicado praticar as teorias ensinadas, por isso o fator decisivo para ela foi o aumento no preço dos alimentos, já que a falta de dinheiro complicou na hora da compra dos ingredientes para as aulas.

E com o auxílio dos insumos, hoje, a maioria dos pratos que faz para aprender a técnica, foi após a disponibilidade do kit.

“Para mim os kits melhoram as experiências e ajudam muito! Queria que tivessem começado semestre passado, porque tive uma Unidade Curricular chamada ‘Cozinha Brasileira’, e gostaria muito de ter feito os pratos”, informou Maria.

Resultado gera parceria entre a universidade e instituição social

É notável o esforço da gestão em buscar ferramentas e alternativas para minimizar a sobra e desperdício de quaisquer insumos. Por isso, enfatizar que o aluno está tendo uma oportunidade afinca para o seu aperfeiçoamento, é dizer também que, a busca do estudante em participar da tarefa é fundamental para que não haja compras indevidas e um grande número de sobra. 

Entretanto, como todo processo de logística, o Núcleo de Suporte aos Laboratórios (NSL), procura estocar aqueles insumos possíveis de utilização, amparado pelas normas regulamentadoras, mas aqueles que não se enquadram ou se aproxima da data de vencimento, é doado para instituições beneficentes.

E é nessa cooperação em torno de solidariedade e empatia, ocorreu uma possibilidade de parceria, e a Una, neste momento delicado, “abraçou” a Casa de Apoio Chico do Vale.

A Casa de Apoio Chico do Vale, que reside no bairro Ouro Preto, em Belo Horizonte, acolhe pacientes em tratamento médico e acompanhantes, imigrantes e refugiados. O trabalho da instituição tem um impacto social único, posto que através do abrigo, ajudam a comunidade local com doações de Sacolão, com aproveitamento de roupas e outros produtos doados.

É um projeto amplo e favorece em vários setores, inclusive na sustentabilidade ambiental.

“Na realidade, é muito importante esta ação, pois, para realizar este trabalho,só contamos com a colaboração da comunidade civil e de ações como esta”, diz Helienice Natalina Silva, responsável pela instituição, sobre a parceria.

 

Casa de Apoio Chico do Vale 

Rua Aluísio Davis, 10, Ouro Preto – Belo Horizonte/MG
(31) 3418-6219
(31) 99994-6980
[email protected]
*Edção: Daniela Reis

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Por Daniela Reis 

O Dia dos Namorados é uma data perfeita para aquele jantarzinho especial com quem a gente ama. E em tempos de isolamento o ideal é comemorar em casa, por isso, o Contramão trouxe uma receita especial para você preparar e arrasar na comemoração!

A delícia de hoje é um Risoto de Bacalhau da chef e professora do curso de Gastronomia da Una, Rosilene Campolina.

Vamos ao passo a passo?

Risoto de Bacalhau 

Ingredientes

  • 2 xícaras de (chá) de arroz para risoto (tipo arbório)
  • 500g de bacalhau da Noruega tipo Saithe dessalgado e lascado grosseiramente
  • 1500ml de caldo de legumes ou da água quente usada para aferventar o bacalhau
  • 1 cebola média picadinha em cubinhos (brunoise)
  • 1 colher (sopa) de alho bem picadinho
  • 4 colheres (sopa) de azeite
  • 1 pitada de açafrão ou colorau
  • 1 cálice de vinho branco seco (cerca de 150ml)
  • 1/2 pimentão vermelho em cubinhos (brunoise)
  • 1/2 pimentão amarelo picado em cubinhos (brunoise)
  • 100g de azeitonas verdes em rodelas (sem caroço)
  • 100g de azeitonas pretas em rodelas (sem caroço)
  • 1 colher de manteiga (reserve 1 bem gelada)
  • Flor de Sal ou sal comum, pimenta dedo de moça e do reino a gosto
  • Salsinha e cebolinha o quanto baste
  • Azeitonas portuguesas, pimentas dedo de moça e ciboullete para decorar

Modo de Preparo 

Ferver a água do cozimento do bacalhau. Numa frigideira ou caçarola funda e grossa, colocar o azeite e dourar a cebola e o alho. Adicionar o arroz e mexer com uma espátula até ficar translúcido. Colocar o açafrão e deglaçar com o vinho. Deixar apurar. Usando uma concha, acrescentar aos poucos o caldo de legumes ou a água do próprio bacalhau. Continuar mexendo, abaixar o fogo.

Quando o arroz estiver cozido al dente, colocar o bacalhau, os pimentões, as azeitonas e a pimenta dedo-de-moça. Acertar os temperos com flor de sal e Finalizar com a manteiga reservada e cheiro verde. Servir imediatamente em prato fundo, decorado com azeitonas portuguesas, pimenta dedo-de-moça e ciboullete (cebolinha francesa).

 

Agora é só comprar os ingredientes, preparar a receita e arrasar com o mozão!

 

 

*Revisão: Bianca Morais

 

 

 

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Por Keven Souza

Há uma grande questão no Brasil que é o impacto da violência na vida de pessoas que utilizam o transporte público. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), até setembro de 2019, uma pessoa foi assaltada dentro do ônibus a cada 33 minutos na capital carioca. 

E o nosso TBT de hoje é de um caso desse tipo de violência que aconteceu há vinte anos e foi manchete em todo Brasil e também no cenário internacional. O famoso e trágico sequestro do ônibus 174, na cidade do Rio de Janeiro. 

Na tarde do dia 12 de junho de 2000, o jovem Sandro Barbosa do Nascimento protagonizou o sequestro de dez reféns na linha 174, rota para Gávea-Central. O indivíduo, que usava roupas simples, embarcou no bairro Jardim Botânico com a finalidade de efetuar um assalto

Às 14h20min, com ação motivada por sinal de um dos passageiros, uma patrulha da Polícia Militar interceptou o veículo e a partir daquela operação o pânico já havia se instalado. Sem ter para onde fugir, Sandro fez passageiras de reféns, com o intuito de chamar a atenção da mídia e negociar a preservação da sua vida junto aos policiais. 

O sequestrador que naquela altura  estava sob vários holofotes da mídia e com transmissões ao vivo pela televisão, utilizou a estudante Janaína Lopes Neves, 23 anos, como porta-voz e escudo dentro do coletivo.  Ali apontou a arma na cabeça da vítima e a fez escrever nas janelas, com batom, frases como: “Ele vai matar geral às seis horas” e “ele tem pacto com o diabo”. 

Após horas de tensão dentro do veículo, aproximadamente às seis da tarde, o assaltante decidiu sair do ônibus usando a professora Geísa Firmo Gonçalves como escudo. Ao descer, um policial do Grupamento de intervenção tática, obteve uma ação precipitada, que almejou pará-lo com uma submetralhadora, acabou errando o tiro e acertou a refém de raspão no queixo. Tendo em vista a confusão, a moça de 20 anos levou outros 3 disparos nas costas promovidos por Sandro, e acabou falecendo.

Resultado do sequestro

A situação ao todo durou cerca de cinco horas consecutivas, e Sandro por sua vez foi morto por asfixia mecânica, quando cinco policiais militares tentaram imobilizá-lo no camburão que seguia rumo ao Hospital Souza Aguiar. Após alegações de que sua morte foi ocasional por parte da familia, os policiais responsáveis pelo óbito de Sandro foram levados a julgamento por assassinato e foram declarados inocentes. 

O caso do ônibus 174, desencadeou uma série de ações, iniciativas, eventos e mobilizações por partes civis e da população carioca. A sociedade, na época, se mobilizou em algumas passeatas, uma delas realizada pela organização não-governamental (ONG) Viva Rio, que promoveu um calendário de manifestações a partir do slogan “Basta! Eu quero paz!”.

É notável o esforço da prefeitura do Rio de Janeiro, na troca da linha, visto que no ano seguinte (2001), a linha 174 mudou de número para 158 e no ano de 2016, para Troncal 5. O objetivo talvez seja fazer com que a linha inicial do coletivo não desencadeasse, na sociedade, lembranças daquele episódio violento que foi o sequestro do ônibus 174.

Conheça a história de Igor Raboni que saiu praticamente do zero e conseguiu realizar o sonho de montar o próprio negócio, com investimento inicial de R$172https://www.youtube.com/aoraboni

*Por Flávio Figueiredo, Patrick Ferreira eTales Ciel

Em 2014, Igor Raboni iniciou a construção de um sonho, lavando carros. Desde sempre apaixonado pela estética, sempre fez mais do que lavar e passar um “pretinho” no pneu. Aproveitando a popularização do YouTube, em parceiria com a esposa Maria Luiza criou seu canal Ao Raboni em 2018, com a proposta de trazer o universo da estética automotiva além do que se vê. No canal eles comentam desde custos até como desinfetar o veículo para beneficiar a  saúde dos passageiros. Em 6 meses, o canal já havia atingido a marca dos cem mil inscritos. Hoje, são mais de 680 mil inscritos no Youtube e no Instagram, eles já reúnem mais de 200 mil seguidores.

O empresário é de Belo Horizonte e conseguiu realizar o sonho de montar o próprio negócio saindo praticamente do zero. As portas se abriram quando Raboni resolveu pegar mangueira e balde para começar a lavar carros, juntou vontade e mais R$ 172,00 em um negócio desacreditado até pelos mais próximos. Igor conta que após a sua decisão de empreender, até a sua família se posicionou contra. Nesse bate-papo, vamos conversar com esse jovem que está revolucionado o mercado automotivo mineiro e faturando o seu primeiro milhão em meio a pandemia.

Igor Raboni e a esposa Maria Luiza
  • Como aconteceu essa mudança de lava-jato para estúdio de estética automotiva?

No começo do meu negócio, investi apenas R$ 172, na porta de casa, com muita determinação e com ajuda da minha esposa, Maria, que me ajudava na captação de novos clientes, bem como no atendimento, o lava-jato foi crescendo com a utilização da internet, principalmente com o nosso canal no YouTube, que hoje possui mais de 600 mil inscritos, que abriu caminho para divulgação e expansão do negócio que virou um estúdio de sucesso.

 

  • Em decorrência da pandemia, várias cidades tiveram lockdowns. De que forma o seu negócio se adaptou a esse desafio?

Foi um momento de levar conscientização para os nossos clientes de como poderíamos trazer soluções pra vida deles no combate ao vírus. Fizemos, inclusive, uma ação de um dia inteiro com tratamento de ozônio gratuito no carro deles, essa estratégia impactou muito, mas com os clientes o desafio foi menor pelo fato de sempre reforçarmos em nossas redes sociais a importância do cuidado e higiene do carro.

 

  • O seu estúdio tem uma pegada bem diferente dos demais, provavelmente isso contribuiu para que vocês alcançassem o lucro de R$1,7 milhão em plena pandemia. Além da temática automotiva, o que mais você oferece no espaço?

Com o crescimento do negócio, sempre almejei oferecer serviços diferenciados para os meus clientes, tendo isso em vista, criamos barbearia, lanchonete, e uma plataforma de cursos online e presenciais, gerando capacitação acessível e mão de obra para o mercado de trabalho, tudo no mesmo complexo. A nossa ideia é oferecer um grande espaço de convivência, enquanto o cliente espera o seu carro ficar pronto.

 

  • O que você fez para se reinventar em meio a pandemia e crescer o seu negócio?

Nessa pandemia o crescimento foi de aproximadamente 314%, isso devido a agilidade da nossa empresa ao criar as estratégias para o período, e por antes da pandemia já termos estruturado um curso online, que tinha como respaldo nossa própria empresa como case de sucesso da eficiência do método que ensinávamos, isso unido ao fato de várias pessoas perderem seus empregos, resolveram investir naquilo que amam, e esse fato nos fez ter um crescimento exponencial, com mais de mil alunos formados.

 

  • Como você avalia ver o capital de R$ 172,00 investido se multiplicar em 10 mil vezes ao longo de seis anos de trabalho intenso?

Esse sucesso pra gente significa muito mais que os números de um faturamento, é uma quebra de tabu, pra gente que veio de família simples, ver que há 6 anos começávamos com 170 reais. Nosso propósito sempre foi pessoas, transformar e impactar a vida delas de alguma forma, o dinheiro é uma das várias consequências positivas de executar um projeto de forma bem-feita. Por isso sempre dizemos a todos, tenha um propósito que vai além do dinheiro e dos boletos, é esse propósito que te fará levantar da cama nos seus piores dias.

 

  • O que você espera para o futuro?

Com certeza em crescer, após essa pandemia, já temos em mente uma ideia de criar franquias do nosso empreendimento em várias cidades do país. Quero fazer muito mais do que se imagina com R$ 172,00 reais.

 

  • E qual o conselho você daria para quem está começando agora o seu próprio negócio?

Sempre digo que o segredo não é o negócio, e sim a estratégia. Não é o que se faz, e sim como se faz. Todos nós precisamos aprender a fazer de um jeito diferente e assim encantar nossos clientes de um jeito diferente.

 

Mais detalhes da história de Igor Raboni nas redes sociais:

Instagram: https://www.instagram.com/aoraboni/

YouTube: https://www.youtube.com/aoraboni

 

**Edição: Daniela Reis

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Desfile LAB no SPFW - Fotos retiradas do site Lillian Pacce

Por Fernanda Moreira

Não é de hoje que a humanidade evolui em relação aos discursos em prol da igualdade. Movimentos como a luta pela equidade racial, o feminismo e os debates sobre gênero começam a se destacar não só nas mídias contemporâneas, como, também, ocupam espaços antes inexistentes nos meios de comunicação mais convencionais. Apesar do que podemos chamar de progresso, em meio a todos esses movimentos que ganharam destaque, com muita luta, ao longo dos anos, um ainda recebe atenção limitada: o combate à gordofobia.

Levando em consideração a força e a responsabilidade da indústria da moda sobre essa temática, seja pela produção em massa de peças e estilos, seja pelo poder de imagem que carrega – por meio de desfiles, ensaios, outdoors etc. –, é fácil enxergar o papel que tal indústria precisa desenvolver nessa luta. Será, porém, que ela preenche bem as lacunas do preconceito?

Em 2016, foi realizado o primeiro desfile com modelos Plus Size no São Paulo Fashion Week (SPFW). A LAB, marca do rapper brasileiro Emicida, que se destaca na luta pela busca de igualdade, foi quem tornou isso possível, com a aparição de três modelos com manequins +56, em parceria com o coletivo de moda “África Plus Size Brasil”.

Desfile LAB no SPFW – Fotos retiradas do site Lillian Pacce

Quando me deparo com uma narrativa real como essa, fico muito esperançosa de que, a cada dia, estejamos mais perto de uma moda plural e sem preconceitos. Mas alguns anos depois, em 2020, uma cena lastimável na luta contra a gordofobia demonstra que só um – SPFW mais inclusivo – não é o suficiente para dizimar o preconceito incorporado nesse mercado.

Dessa vez, a manifestação de ódio, que ainda assombra corpos gordos, data de janeiro de 2020, no Grammy Awards. A modelo Tess Holliday escolheu uma peça assinada pela estilista Lirika Matoshi, para abrilhantar o tapete vermelho dessa grande premiação. Tratava-se de lindo vestido longo, estampado por morangos, que remetia a um estilo bem folk. Ela chega a dizer, em sua conta do Instagram, que nunca se sentiu tão bonita quanto naquele dia. Não demorou muito, contudo, para que Holliday virasse uma grande “piada”. O motivo era, uma vez mais, a manifestação de que corpos gordos não foram feitos para se vestir da forma como gostariam.

Tess Holiday para Lirika Matoshi no Grammy Awards – Jon Kopaloff FilmMagic

Em agosto do mesmo ano, em meio às últimas tendências do Tiktok, a hashtag #strawbaerrydress chegou a mais de 13 milhões de visualizações. Isso porque o mesmo vestido usado por Tess, na premiação de meses atrás, entrou na onda dos corpos padrões e obteve grande alcance positivo nas mídias digitais. Dessa vez, ela se manifestou e deixou uma reflexão: “Adoro como esse vestido me fez entrar para a lista das ‘mais malvestidas’ quando o vesti em janeiro, no Grammy. Mas agora, porque um monte de pessoas magras o está usando no TikTok, todo mundo está”, comenta a modelo.

Esse cenário me fez pensar se a inclusão que a moda plus size propõe, de fato, acontece. Gostaria que esse processo fosse mais real, mas, depois de tantos anos enfrentando manifestações de ódio em ambientes online ou offline, e observando que a contribuição dessa indústria ainda é mínima diante da caminhada que temos pela frente, ainda me pergunto se a aceitação da pluralidade de manequins – desde sempre ridicularizada – é algo que realmente interesse a esse mercado. Porque, aparentemente, além de ridicularizados, são taxados como insuficientes para lançar e/ou sustentar quaisquer tendências e estilos.

Até quando a indústria da moda terceirizará a responsabilidade social e não assumirá seu papel de atender e respeitar todos os corpos, independentemente da condição de cada um? E, sobretudo, até quando compreenderá que esse discurso atemporal precisa e merece ser ouvido e destacado pelas grandes marcas e personalidades do meio, para que a inclusão aconteça, efetivamente, em todos os polos e contextos da sociedade?

 

*Edição: Professor Mauricio Guilherme Silva Jr. e Daniela Reis