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No final de semana, 25 e 26 de abril, Belo Horizonte recebeu a visita do cineasta Ardiley Queiróz, que vem se destacando no cinema independente do Brasil.

Queiróz recebeu o público no centro cultural Cento e Quatro, onde exibiu o mais recente trabalho ‘Branco sai, preto  fica’ (2014) e o curta ‘Dias de Greve’ (2009). Mineiro de nascença, o cineasta reside desde os sete anos em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal. E é bem ali que mora seus atores, e onde os trabalhos acontecem.

Ardiley fala rápido e direto: “Por que faço cinema? Pra me divertir! A gente não ganha mais que 4 mil por mês – é muito mais que muita gente, mas não dá pra ficar rico! Trampo nisso porque eu gosto. Parte do lugar da diversão, de poder falar o que quiser.” E encoraja todos que têm vontade e vocação para fazer cinema, mas que é bloqueado pelo medo.

“O primeiro filme é filme de coletivo, de cumplicidade, de parceria com os poucos que estão envolvidos. Estávamos todos aprendendo, arriscando. Igual à cena do pessoal bebendo e jogando bola (em Dias de Greve), o sol estava fazendo uma luz bonita no campo, a gente tinha uma lata (rolo de filme) e estávamos bebendo aquele vinho, não pensamos muito e decidimos filmar! Por isso parece documentário. O som vai aprendendo, a fotografia vai aprendendo. O que se tem que ter é pesquisa. Não existe documentário, filme de ficção sem muita pesquisa. Precisa de uma imersão profunda, apesar de não ter currículo.”

Quando perguntado sobre como foi feito a famosa cena do sofá pegando fogo, imagem que estampa o cartaz de divulgação do filme “Branco sai, preto fica”, Ardiley respondeu sério: “a gente só tinha um sofá e 4 ou 5 pessoas – nunca passa disso para fazer a cena, incluindo o ator. Mas teve todo um cálculo. O Marquinho calculou, mas não falou como calculou. Mas diz ele que é acostumado
a queimar sofá”, concluiu rindo.

Texto: Camila Lopes Cordeiro

Foto: divulgação

Foi aprovada hoje, dia 24, a resolução que assegura o uso do nome social para alunos e alunas travestis e transsexuais pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Una.

Desde fevereiro do ano passado já se podia ter o nome social nas carteirinhas de identificação usadas para entrar na faculdade.  Mas com a aprovação de hoje foi regulamentado o uso do nome social dos estudantes também nas listas de chamadas e boletos bancários.

Tramita no Congresso Nacional desde 2013 o projeto de lei JOÃO W NERY, elaborado pelos deputados Jean Wyllis e Erika Kokay que propõe sobre o direito à identidade de gênero.

A lei discorre sobre o direito que toda pessoa tem de ser reconhecida pela sua identidade de gênero – o gênero com o qual ela se identifica que não é necessariamente o gênero que nasceu. A lei também garante que todos sejam tratados de acordo com a sua identidade de gênero. Isso significa que todos os instrumentos para identificação como nome, pronome, imagem e registros oficiais devem refletir a escolha de gênero de cada individuo.

“Vale lembrar que essa utilização de nome social me ajuda até hoje, porque não é só na lista de chamada e no sol que muda, muda também nos boletos e nas malas diretas que a faculdade envia pra gente, e isso produz dados que mostra que você usa o nome social no seu cotidiano, 80% da minha petição foi com esse material que recebi da UNA.” escreveu o aluno Carl Benzaquen.

A resolução aprovada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Una é uma conquista para todos.

Texto por Camila Lopes Cordeiro

Na manhã desta quinta-feira, 09, a Assembleia Legislativa de Belo Horizonte recebeu a primeira audiência pública em que se debate o conceito contemporâneo de família.  Em 2013, o deputado Anderson Ferreira (PR-PE) relator do projeto conhecido como ‘Cura Gay’, apresentou o projeto de lei sobre O estatuto da família, que propõe o reconhecimento de apenas um núcleo familiar pautado pela união do homem-mulher unida pelo matrimônio ou união estável, excluindo todas muitas outras variações naturais de uniões familiares: mães solteiras, casais gays com filhos, casais sem filhos.

Ao reconhecerem apenas um modelo de família, o projeto de lei está automaticamente anulando todos os direitos que o Estado já garantiu à população, independente do arranjo familiar, como: o direito da união estável, o direito da adoção, o direito da pensão, o direito da herança.

Se este estatuto for aprovado na Câmara dos Deputados no formato em que está, ele aponta para um retrocesso. De acordo com o coordenador do núcleo dos Diretos Humanos e cidadania LGBT UFMG, Marco Aurélio Prado, “não é apenas conservador o estatuto da família, mas é, sobretudo uma violência a boa parte da população porque implica numa exclusão de direitos. A família nunca teve um formato só, ela sempre foi mutante”.

Para ele, é importante que o Estado intervenha sobre determinadas formas de regulação sobre direitos da família, por exemplo, a intervenção do Estado em episódios de violência contra crianças, adolescentes e mulheres na família.

Existem muitos modelos de família, e não é função do estado decidir sobre as formas de família, mas sim a proteção dela. Para presidente do Instituto Brasileiro de Direito a Família, o IBDFAM, Rodrigo da Cunha Pereira,  o projeto deveria apresentar outro nome: “Quanta ignorância desse projeto de lei! Quanta violência! Deveria se chamar “estatuto contra as famílias”. A bancada religiosa está cada vez mais conservadora impondo a sua religião ao próximo. O estado se separou da igreja 1891, mas até hoje não é um estado laico. Esse estatuto é retrocesso histórico. Família não é isso! Pode até ser isso, mas não é só isso. E a manipulação na pergunta! A população foi induzida a isso!” ressaltou Pereira referindo-se a enquete realizada pela câmara dos deputados. (imagem abaixo)

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“É claro que os 62% dos brasileiros que responderam esta questão estão certos, sim. Mas não existe apenas um modelo familiar”, finalizou o presidente.

O jornal Contramão foi às ruas para saber das pessoas delas relacionadas ao conceito de familiar.

https://goo.gl/4HScyP

O sinal mudou do amarelo para o vermelho, mas dois motoristas não pisaram no freio. Pelo contrário, aceleraram mesmo vendo o sinal gritando “PARE!”. A senhora ao lado da repórter do Contramão comentou: “Quanta falta de respeito!”.

Na  Rua Gonçalves Dias esquina com Bahia, durante um dos horários de maior pico de carros da cidade, foram flagrados 27 infrações de trânsito em apenas 20 minutos pela repórter do Contramão. Das 18:25 às 18:45, enquanto o sinal abriu e fechou 12 vezes, 8 carros e 1 moto avançaram o sinal vermelho, outros 18 carros bloquearam ou a faixa de pedestres ou o cruzamento.

Assista ao vídeo:

Parar na faixa de pedestres ou parar na área de cruzamento na mudança de semáforo, prejudicando, assim, a circulação de carros e pedestres consiste em infração média, perde-se quatro pontos na carteira, além de receber a multa de R$ 85,13. Enquanto que avançar o sinal vermelho é uma infração gravíssima, é abatido sete pontos na carteira e é gerado uma multa de R$ 191,54.

Atualmente, exitem 49 detectores de avanço em funcionamento nas 967 interseções semaforizadas de Belo Horizonte. Apesar dos poucos detectores, foram registrados nestes 48.555 motoristas furando o sinal no ano de 2014, segundo dados da BHTrans. Mas não há histórico para comparação, de acordo com a assessoria de imprensa da empresa.

Assim, como não existe histórico de infrações pelo banco de dados BHTrans, é um problema de todos os órgãos responsáveis pela falta de coleta e organização das informações. Segundo a assessoria de imprensa da  da Polícia Militar, o que há de disponível no banco de dados é um levantamento geral sobre acidentes causados por desrespeito à legislação, qualquer que seja esta, nada detalhado e somente os casos que foram registradas em boletins de ocorrência.

INFORMAÇÃO OU SUPOSIÇÃO?

“Embora não existam estatísticas oficiais, o sono ao volante pode ser uma das maiores causas de acidentes, comparada até as ocorrências provocadas por motoristas alcoolizados.” publicou o site da BHTrans em 2009. Como podem fazer afirmações sem dados comparativos? Como fazer e adereçar ações preventivas e educativas efetivas de trânsito quando não se tem nenhum tipo de informação robusta sobre a realidade dos acidentes?

Em entrevistas, autoridades afirmam categoricamente que as principais causas de acidentes são: imprudência, excesso de velocidade, ingestão de bebidas alcoólicas e desrespeito à sinalização. A falta de estudos aprofundados faz dessas informações, suposições.

Márcia Pontes, profissional da Segurança no Trânsito e Especializada em Planejamento e Gestão de Trânsito, pesquisadora do ensino e aprendizagem significativa e preventiva na formação de condutores, esclareceu a falta de informações pelos órgãos responsáveis em entrevista exclusiva para o Contramão:

Contramão: Existe algum banco de dados confiáveis para se obter informações sobre o trânsito brasileiro hoje?

Márcia Pontes: Existem bancos de dados confiáveis como aqueles administrados pelo DENATRAN, o DPVAT, PRF, DETRAN, PM, Sistema de Informação de Mortalidade, do SUS, e Portal Estatístico do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), mas utilizam critérios diferentes de coleta de dados que não são padronizados. Isso faz com que nem todas as informações de que a sociedade necessita estejam disponíveis e atualizadas.

Contramão: Como assim? A senhora pode ser mais específica?

Márcia Pontes: O DPVAT faz a estatística com base nos pagamentos de indenizações por morte, invalidez permanente ou despesas médicas. Quem não dá entrada no DPVAT fica de fora das estatísticas.

O Sistema de Informação de Mortalidade do SUS é um dos mais completos, mas os dados são divulgados com até 2 anos de atraso. Se baseia nas mortes em acidentes de trânsito registrada pelo atendimento no SUS.

A base de dados da PRF também é bastante completa, mas se refere só a acidentes nas rodovias federais.

Nem todos os municípios brasileiros são municipalizados, ou seja, não se integraram ao Sistema Nacional de Trânsito, de modo que não têm setores responsáveis pelas estatísticas e sequer fiscalização de trânsito.

O Denatran deveria reunir as informações estatísticas de todo o Brasil, mas as dificuldades de coleta e alimentação do banco de dados pelos demais órgãos de trânsito na esfera estadual e municipal ainda não foi possível. Por exemplo, o último anuário estatístico é de 2008 e já estamos em 2015, portanto, com 7 anos de atraso e o trânsito mudou muito de lá para cá. Os únicos dados atualizados são sobre a frota nacional. Com isto, a ideia de uma base nacional de registros de acidentes de trânsito e suas causas ficam seriamente prejudicadas.

Contramão: Qual é a necessidade de se ter dados detalhados sobre causas de acidentes?

Márcia Pontes: É fundamental, pois uma base atualizada de dados sobre acidentes de trânsito possibilita conhecer a realidade da acidentalidade e da segurança viária no país. Sem essas informações, não é possível intervir de forma planejada e pontual e a situação foge do controle.

Contramão: Qual é o maior problema causado pela precariedade de dados sobre causas de acidentes?

Márcia Pontes: O maior problema é este que se vê: não existe uma base de dados completa e atualizada sobre acidentes e estatísticas, apenas dados localizados e incompletos.Não se sabe hoje ao certo a quantidade de acidentes no Brasil: o DPVAT fala em cerca de 60 mil, o Ministério da Saúde fala em cerca de 40 mil. E como as estatísticas muitas vezes não são feitas ou atualizadas, acredita-se que este número possa ser muito maior e até o dobro. Não se sabe hoje, no Brasil, quantos condutores embriagados se envolveram em acidentes, quantos menores de 18 anos, quantos sem habilitação, quantos homens, quantas mulheres, quantos idosos, quantos por imperícia. Não se sabe a quantidade exata de infrações por tipo e uma série de outros dados que a sociedade precisa saber para orientar as ações de educação, fiscalização e engenharia.

Uma boa base de dados estatísticos para ser confiável precisa informar a quantidade de acidentes no país, por estados, regiões e municípios. Precisa informar o local, dia da semana, hora, pontos críticos, quantos condutores habilitados, quantos não habilitados, quantos maiores e menores de 18 anos, a faixa etária, o sexo, se o acidente indica imperícia, embriaguez ou qualquer outra causa. Com isto, é possível fazer estudos precisos e confiáveis sobre a acidentalidade, verificar as causas dos acidentes, buscar soluções de engenharia como correção do greide da pista, ângulo da curva, sinalização, iluminação, fazer a limpeza e o corte da vegetação que cobre as placas, pois muitos acidentes são provocados por alguma falha de engenharia que pode ser reparada.

Quando se tem estatísticas precisas e confiáveis, é possível identificar as causas dos acidentes, o perfil da população envolvida e com isto orientar as ações de educação para o trânsito, fiscalização e engenharia.

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No gráfico divulgado pela Associação Brasileira de Prevenção dos Acidentes de Trânsito mostra a falta de sincronia dos dados dos órgãos oficiais responsáveis em um levantamento pouco abrangente.

Foto, texto e vídeo: Camila Lopes Cordeiro
Edição do vídeo: Yuran Khan

Começou nesta terça-feira, a segunda edição do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (FILE), no Espaço Oi Futuro em Belo Horizonte. Com a curadoria dos artistas plásticos Paula Perissinotto e Ricardo Barreto, o FILE que comemora 15 anos este ano, trás ao público a oportunidade de interagir com a exposição. Entre as obras expostas encontram-se duas inéditas, a da mineira Thembi Rosa e da polonesa Karina Smigla-Bobinski.

A bailarina mineira, Thembi Rosa em conjunto com os artistas Lucas Sander e Paula Santos, realiza a apresentação da vídeo instalação “Escada Adentro”, o vídeo foi criado durante um trabalho da bailarina no Palácio das Artes, em 2012. “Eu estava expondo o projeto Parâmetros e Movimento, e minha exposição ocupava toda a galeria Mari’Stella Tristão com várias obras interativas, ai no cantinho tinha essa escada de emergência que me deu a ideia de reproduzir um vídeo ali. Desenvolvi essa ideia e chamei o Lucas Sander para colocar ela em prática. Gastamos quase uma semana na galeria testando vídeo com projetor, o melhor ângulo e enquadramento, filmávamos e projetávamos tudo, tentando ver que tipo de movimentação se adequaria melhor na escada”, explicou a bailarina.

De São Paulo a exposição tem os pesquisadores Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti que atuam em parceria no desenvolvimento de estratégias de experimentação e implementação de interfaces áudio-tátil-visuais. Já entre os convidados internacionais destacamos os artistas Candas Sisman, da Turquia e Karina Smigla-Bobinski, da Polônia.

Em um bate papo com o Jornal, a polonesa Karina explicou que quando se trata de artes não é possível definir uma data exata em que o projeto começou a ser formado. O SIMULACRA, projeto que está em exposição foi assim, destaca a artista. “Ele trás a observação que venho fazendo há tempos sobre a relação das pessoas com o mundo digital”. A aparelhagem exposta na galeria começou a ser montada somente há dois meses, para ela foi a forma que encontrou para expor sua observação para as outras pessoas.

Texto: Juliana Costa
Foto: Divulgação

Pensando em economia criativa, o Circuito Cultural da Praça da Liberdade abre as portas para um novo empreendimento. Ocupando uma antiga residência na Rua Santa Rita Durão, a Casa de Economia Criativa chega aos mineiros com o objetivo de dividir experiências e compartilhar ideias. Localizada na antiga “Casa a Amarela”, de 1910, a Casa proporciona um ambiente acolhedor, que faz com que o público interaja e busque informações sobre empreendedorismo e economia criativa, um assunto pouco explorado no Brasil.

De acordo com a coordenadora do núcleo de economia criativa do SEBRAE e gestora da Casa, Regina Faria, a Economia Criativa é um novo conceito que vem sendo discutido por urbanistas, economistas, publicitários, jornalistas, fotógrafos e grupos de teatro e dança que estão dentro das artes cênicas e que possuem a criatividade como o principal negócio.

Para a gestora, a localização da Casa dentro do Circuito Cultural vem dizer para a sociedade e para todo o complexo que circunda a praça que a Cultura é um negócio.

A Casa oferece ao público, cursos de financias, de plano de negócios e de controles financeiros. O objetivo é divulgar e disseminar o conceito de economia criativa, destaca a gestora. “Acreditamos que isso precisa estar dentro da mente das pessoas. Quando você fala indústria, você sabe o que vem a sua cabeça – quando você fala economia criativa, as pessoas pensam: Mas o que, que será isso?”.

“Aos poucos as pessoas vão entendendo isso, sabemos disso! É uma questão de tempo”, afirma Regina. A Casa de Economia Criativa trabalha também com a melhoria da gestão de novos empreendedores, realizando palestras, cursos e encontros onde o público pode debater sobre o mercado de todos os setores.

Foto e texto por: Juliana Costa