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Divulgação: Filme Kevin
Divulgação: Filme Kevin

Produção cinematográfica chega aos grandes telões a partir desta quinta-feira

Por Keven Souza

No dia 03 de novembro, as salas de cinemas de todo o Brasil abrem as portas para receber a estreia do filme “Kevin”. Amantes do audiovisual nacional que residem em Belo Horizonte poderão assistir a pré-estreia do longa-metragem no Una Cine Belas Artes, que é um dos últimos cinemas de rua da cidade, através da compra de ingressos pelo site ou pela bilheteria do cinema. 

O documentário “Kevin” diz respeito à amizade, ao qual narra o reencontro da diretora com sua amiga ugandense, Kevin Adweko, abordando questões como sororidade, relações interraciais e a posição da mulher. Ele é produzido pela Bukaya Filmes, em coprodução com Anavilhana e Vaca Amarela Filmes, e com distribuição nacional da Embaúba Filmes. 

O filme é uma obra de arte dirigida e estrelada pela roteirista e diretora, Joana Oliveira, que trabalha na área audiovisual desde 1999 e possui curtas que já foram exibidos em vários festivais internacionais, como o Festival Internacional de Cine de Huesca (Espanha), e no Brasil em festivais como a Mostra de Cinema de Tiradentes. 

imagens do filme Kevin
Imagens de divulgação – Filme: Kevin

Hoje, o Contramão traz um bate-papo com Joana, que relembra como foi a construção do documentário, bem como sua carreira no cinema, e diz como está a expectativa para o lançamento nesta quinta-feira. Confira! 

 

Joana, como começou sua carreira no cinema? Você sempre soube que seria cineasta? 

Eu sempre gostei muito de assistir a filmes. Desde pequena adorava ir ao cinema ou à locadora de vídeo escolher os filmes para assistir no fim de semana. Era um barato levar as fitas VHS para casa! Mas, nunca tinha imaginado estudar cinema porque não havia cursos de graduação em Belo Horizonte. Fiz vestibular no final de 1995 e não havia Enem, ou seja, um vestibular unificado para todo o Brasil. Não pensava em sair da cidade. Porém, quando comecei a fazer Comunicação Social, vi que eu poderia ingressar no mundo do cinema e comecei a trabalhar em produções, que eram muito poucas, em Belo Horizonte. Trabalhei em um curta e um longa-metragem e decidi que era o que queria fazer da vida. 

Em 2002, fui estudar Direção de Cinema no curso regular da Escuela Internacional de Cine y TV de San Antonio de Los Baños, Cuba, onde consegui uma bolsa da própria escola para uma parte do custo e outra do governo brasileiro para a outra parte.

Divulgação: Filme Kevin
Divulgação: Filme Kevin

Qual foi o momento em que passou a entender que havia um mercado audiovisual esperando seus filmes? 

Logo que fiz meu primeiro vídeo experimental na faculdade de Comunicação, entendi que havia muitas pessoas que assistiam a curtas-metragens. O vídeo foi selecionado para alguns festivais, inclusive o VideoBrasil que é um grande festival de arte digital e para a Mostra de Cinema de Tiradentes. Então, percebi que as pessoas tinham interesse na arte que eu estava começando a produzir. Foi um grande impulso para eu seguir em frente e ir estudar cinema.

 

Você imaginava ter produções cinematográficas notadas pelos grandes festivais nacionais e internacionais de cinema?  

Na verdade, o que queria era inventar histórias e produzi-las! Claro que eu queria que o maior número de pessoas assistisse, mas não imaginava que meu trabalho viajaria para tantos lugares! 

Divulgação: Kevin - Filme
Divulgação: Kevin – Filme

Falando agora do documentário, de onde ele nasce? 

O documentário nasce da minha vontade de rever a Kevin e ter um projeto em conjunto com ela. Sobretudo, a vontade era de celebrar a amizade! A minha amizade com ela, claro, mas também de colocar no centro de um filme a amizade entre mulheres que é um tema tão pouco retratado no cinema. Além disso, ele existe para celebrar a sororidade! “Kevin” é um filme feminista, antirracista e que promove o encontro.

 

Explique como foi gravar metade do filme em Uganda e outra parte em Belo Horizonte. Houve dificuldades de locomoção, língua ou cultura? 

O esforço de produção que houve é realmente incrível porque não tínhamos tanto dinheiro para viajar com equipe, para ficar tanto tempo na Uganda, etc. A Luana Melgaço, produtora do filme, é muito experiente e conseguiu muitos bons acordos de produção. E o filme existe também porque a Kevin se envolveu na produção, uma vez que ela nos recebeu maravilhosamente. Foi ela quem procurou um lugar para que toda a equipe ficasse, foi ela que nos apresentou tudo. Uma coisa é você receber sua amiga. Outra coisa é você receber uma equipe de filmagem que vem com ela – risos. Ela facilitou tudo. Mas realmente foi um desafio filmar em outro país! 

Entretanto, o filme é sobre minha amizade com a Kevin, então, por mais que estivéssemos na Uganda, não era um filme sobre a Uganda. Eu não conseguiria fazer um filme sobre um país que tinha acabado de chegar e não conhecia profundamente. Então, me concentrei na Kevin, que lidou com a equipe super bem. Ela é um talento natural e eu estava ali para e por ela. Filmamos de acordo com a agenda que ela estabeleceu e deu certo. 

 

Você e Kevin Adweko são as protagonistas do documentário. Como se deu essa amizade? Você sabia que seriam amigas? 

A Kevin diz que a gente se aproximou porque queríamos muito rir e nos divertir. A Alemanha, que foi onde nos conhecemos, é um país muito sério. Especificamente o lugar da Alemanha onde estávamos. Nos aproximamos de forma muito espontânea e divertida, conversando depois das aulas de alemão.

O que é legal é que não tinha a menor ideia se conseguiríamos ou não manter a amizade. Muitas relações se perdem no tempo. A internet em 1999 era ainda algo de acesso restrito. Nós nos escrevíamos cartas longas e e-mails extensos. Mas, houve muitos momentos que ficamos bastante tempo sem conversar. Em 2005, eu fiz um intercâmbio entre a minha escola de cinema em Cuba e a Alemanha. Esse momento de reencontro com a Kevin ao vivo depois de 6 anos foi muito emocionante. Acho que aí eu percebi que a amizade iria perdurar.

 

É a primeira vez que o filme “Kevin” estreia em salas de cinemas, qual sua expectativa para o lançamento? 

Kevin, na verdade, estreou na Mostra de Cinema de Tiradentes do ano passado. Também ganhou uma menção honrosa do júri do festival FEMINA deste ano. Mas, todas essas exibições foram feitas online. Agora, é a estreia do filme presencial no Brasil nos cinemas comerciais. Eu nunca tive um filme que entrou em cartaz nas salas de cinema e isso é muito emocionante! Na terça-feira, dia 01 de novembro, em Belo Horizonte, haverá uma pré-estreia em que Kevin estará presente. É muita emoção envolvida!

Para o público que irá assistir “Kevin” nesta quinta-feira, o que você diria? 

Kevin é um filme sobre o encontro. E, depois de tanto tempo em que estivemos separados das pessoas por causa da Covid-19, celebrar o encontro e a amizade é de extrema importância! 

Assista o trailer de “Kevin”

Sinopse – É a primeira vez que Joana, brasileira, visita Kevin, na Uganda (África). Elas se conheceram há 20 anos, quando estudaram juntas na Alemanha, e faz muito tempo que não se veem. A partir desse encontro, o filme tece a fina trama que é uma conversa entre duas amigas: as histórias do passado, os desejos, os caminhos trilhados, os diferentes modos de encarar os desdobramentos da vida. Disso ressurge um elo de amor e parceria que resiste à distância e ao tempo.

rock in rio

Por Keven Souza 

Aconteceu no último domingo (11) o encerramento do Rock In Rio 2022, na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. O evento que reuniu ​aproximadamente 100 mil pessoas no sétimo dia e contou a presença de mais de 36 artistas dos mais variados gêneros musicais, trouxe vida a Cidade Rock em 12 horas de música constante divididos em oito palcos. 

rock in rio
Dua Lipa, esbanjando talendo e brilho no palco mundo ( Foto: Keven Souza )

A atração mais aguardada da noite foi a cantora britânica de 27 anos, Dua Lipa. A artista era headliner do dia, onde, ao som de “Physical“, subiu ao Palco Mundo com todo um espetáculo de cores, luzes e hits. Esbanjando talento, apresentou o setlist com os sucessos de Future Nostalgia, seu segundo álbum de estúdio. Tudo muito bem pensado para quem estava presente no Parque Olímpico e também acompanhava de casa, pela transmissão do Multishow. 

Das músicas aos figurinos – quatro, ao todo – Dua Lipa brincou com cores e não dispensou brilho. Trouxe seu balé que performou garantindo um show à parte com coreografias. A cantora interagiu ainda com a plateia e finalizou, em português, dizendo: ‘obrigado gatinhos e gatinhas’.  

Megan Thee Stallion, Rita Ora e Ivete também foram outras cantoras que abrilhantaram o último dia de Rock In Rio, se apresentando no Palco Mundo. No Sunset, Liniker mostrou toda força da mulher trans preta juntamente com Luedji Luna. Logo após, Majur,  Agnes Nunes, Mart’nália, Gaby Amarantos e Larissa Luz uniram o samba, soul, blues, brega e jazz em um só espetáculo para homenagear Elza Soares.

Cidade do Rock é baile de favela

rock in rio
Toda a estrutura gigantesca do palco mundo. ( Foto: Keven Souza )

Já a cantora Ludmilla, de 27 anos, que também se apresentou no Palco Sunset, foi uma das artistas mais comentadas do mundo na internet após seu show. Isso porque, ela prometeu que faria algo grandioso e cumpriu. A dona do hit ‘Rainha de Favela” investiu em estrutura de palco, luzes e figurinos luxuosos. Além disso, não deixou de lado o funk!

Ludmilla construiu um setlist único, que privilegiava o gênero musical, fazendo com que a Cidade do Rock por um momento virasse baile de favela. Levou ainda a dupla Tasha e Tracie, MC Soffia, Tati Quebra Barraco e Majur para o palco. Como resultado, fez um show certamente histórico que trouxe questionamentos aos produtores do Rock In Rio sobre a participação de artistas brasileiros no Palco Mundo, que é o principal palco do festival. 

O Rock in Rio promoveu inclusão em seus shows deste ano, como intérpretes de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) e mais artistas negros e LGBTQIA+. Mas a principal crítica do público com os produtores foi colocar artistas femininas de grande público, que é o caso de Ludmilla e Avril Lavigne, em palcos menores, como o Sunset. 

A volta do Rock In Rio no Brasil 

Após dois anos desde a última edição do evento do Brasil, que aconteceu em 2019, a Cidade do Rock recebeu um público de 700 mil pessoas com o forte desejo de se reencontrar. Foram sete dias, 1.255 artistas, 300 shows e mais de 507 horas de experiência. 

As parcerias? Muitas! Stands do Globo Play, Tim, Itaú, TikTok, Coca-Cola, Doritos, Latam, Kit Kat, iFood, entre outros, decoraram o Parque Olímpico com cores e vida. E para mostrar que o Rock In Rio é um festival de números, esta edição foi recorde de turistas no Rio. Foram mais de 420 mil pessoas de outros estados do Brasil e uma estimativa de 10 mil de fora do país. 

O Rock In Rio é um festival que impacta diretamente na economia da cidade. É, ainda, patrimônio cultural imaterial do Rio de Janeiro que expande toda nossa brasilidade para o mundo. Que as próximas edições continue com ​​toda a energia e alto astral, pois o evento além de trazer grandes espetáculos para o Brasil, dá um show como festival de experiências!  

 

Por Keven Souza e Júlia Thais 

A moda é um documento que acompanha e registra a trajetória de um povo. Desempenha papéis importantes na sociedade. É por meio das indumentárias que realçamos significados que dizem quem somos e de onde viemos, sendo importante, ainda, expressarmos mediante ao que usamos. E na periferia essa premissa não é diferente! 

É por meio de origem, trajetória e estilo de vida que se evidencia a moda presente nas favelas da sociedade brasileira. O estilo periférico, como se nomeia as roupas vestidas por quem mora em uma área à margem da cidade, tipifica a vestimenta de quem vive ali e parte de um lugar singular e perene, da arte.

Esse estilo de roupa tende a valorizar narrativas e anseios de quem o veste, e, acima de tudo, dá palco para diversidade, acessibilidade e tamanha personalidade. O que o difere da alta moda e do universo fashion luxuoso. “O que é muito comum nas regiões periféricas é possuir algumas características que nos trazem a proximidade com o grupo ao qual estamos inseridos. O mais presente nas pessoas dessa região demográfica é o sentimento de pertencimento. Então, quando analisamos superficialmente, acreditamos que todas se vestem igual, mas na verdade elas criam suas próprias narrativas das suas vivências individuais e em grupos”, explica o stylist e fashion designer, Pedro Birra. 

Retrata, ainda, costumes e comportamentos de minorias e preenche, ao longo do tempo, lugar imprescindível na vida das pessoas do gueto. E é com esses pontos que o estilo está, também, presente no lugar mais alto da favela: na laje! 

A laje é símbolo que muito diz da força, dos laços e dos saberes dos moradores da favela. É um espaço onde se pode construir e reverberar costumes sociais, culturais e considerar ações pontuais no tempo ocioso.  E a partir daí surge o churrasco na laje. 

O churrasco na laje é uma forte tradição que se estabeleceu em todo o Brasil, especialmente em camadas mais pobres da sociedade, que caracteriza ideais e costumes dos moradores. Um evento que traz peças e estilos de roupas plurais que remetem a descontração, a alegria e o calor nesse momento de lazer. É o que afirma Pedro. “O churrasco na laje, assim como outros eventos presentes neste determinado grupo (moradores da periferia), é uma forma de diversão e para esse tipo de encontro a produção passa primeiro pelo conforto, então shorts, chinelos, são muito bem vindos”, diz. 

Pessoas no churrasco na laje. Foto: Jessi Goes.

Dito isso, listamos algumas peças comuns vistas no churrasco na laje. A primeira delas é a camisa de time de futebol. A periferia tende a valorizar a figura da celebridade do futebol, enxergando nesses indivíduos uma representatividade da comunidade, pelo simples fato do jogador de futebol ter nascido lá. 

Outra peça carimbada do estilo da periferia e no churrasco na laje é o short jeans. Não há uma peça que esteja mais presente na vida do brasileiro, do que os shorts jeans. Usado desde ocasiões mais informais, até em lugares que pedem algo mais elaborado.

Lado a lado ao short jeans, o chinelo Havaianas (que nem sempre é da Havaianas), possui sua relevância no momento de lazer. O calçado sintetiza a simplicidade, uma atitude de relaxamento, de verão, de praia, um estado de espírito do Brasil. Por isso, tem sempre alguém usando-o como parte de um look ousado no churrasco na laje. 

Falando de ousadia, o biquíni de fita já é, quase, a irmã do shorts jeans, devido sua grande participação nos churrascos da periferia! Coloridos ou não, tradicionais ou ‘diferentões’, a técnica de pregar fitas nas partes íntimas em forma de biquíni ou sunga já é uma trend nas lajes. E com a indústria musical, popularizado para além da favela por Anitta no clipe de ‘Vai, malandra’, tal técnica já é marca registrada na moda da favela. 

A cantora está entre os artistas brasileiros que saíram da periferia e continua mostrando com clareza, roupas e práticas que são comuns nas comunidades. Em Vai Malandra, clipe gravado em 2017 no Morro do Vidigal, podemos encontrar o famoso bronze na laje, que faz parte da rotina de muitos moradores da periferia. 

Ludmilla, Anitta e Mc Cabelinho. Arte: Jessi Goes.

Com referência e muita representatividade, Ludmilla é outra artista que aposta em looks baseados na moda periférica. Nascida e criada em Duque de Caxias, a cantora e suas bailarinas no clipe Rainha da Favela, gravado em 2020 na Rocinha, Rio de Janeiro, trouxeram peças de roupas bastante comuns em churrascos na laje. E já o cantor e ator, Mc Cabelinho em seu videoclipe da música Little Hair, gravado no Morro da Caixa d’Água, com Felp 22 e Xamã, faz uma releitura do churrasco na laje, além do estilo visto no gueto. 

O fato é que o estilo periférico conquistou o seu lugar tanto no universo da moda quanto no meio artístico, e, desde então, possui interferência na indústria musical graças às suas características. Da mesma maneira que a indústria possui lugar referencial para quem sempre teve tão pouco acesso. E é neste movimento de conversão de influências que se completa um processo cultural, rico e cíclico, que se sobressai e se pode ver perfeitamente no churrasco na laje.

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Por Gabriel de Souza

Profeta, conhecido pelo seu nome e pela sua arte disruptiva, é um cantor da cena do rap underground de Belo Horizonte, que começou a sua jornada cantando no coral da Igreja e logo percebeu a música como uma ferramenta de expressão de seus pensamentos e de sua narrativa no mundo.

O jovem apresenta sua estética através das artes plásticas e musical, o desenho foi visto por ele como uma forma de se aproximar de outras crianças na sua infância. De uma forma que foge do convencional ele também se apropria de elementos do mainstream nos seus ritmos e letras.

Na música “Broken Toy Boy”, Profeta faz referência a masculinidade tóxica do mundo masculino contemporâneo e a supervalorização da beleza estética reforçada pelas redes sociais e aplicativos de pegação, como também um próprio fenômeno percebido dentro da comunidade  LGBTQIA+.

Falando em apropriação, a música traz um trecho em inglês cantado pela artista Lourandes. A música também dilata as vivências e indignações vividas pelo artista, como racismo, o capacitismo e a homofobia, junto a um audiovisual que usa técnicas de edição, com as estéticas de vertentes do glitch.

Já na música “Ato II. Oração”, Profeta traz um “song love” como uma carta descrevendo o amor por um alguém e as formas de lidar com essa emoção, entrelaçado com outras tramas de sua vida, e volta para o sentimento original da letra que é o amor.

O clipe possui trechos em VHS mostrando a infância do artista aliado a um ritmo melancólico e nostálgico, aliado ao audiovisual que faz uma auto expressão exibindo o  passar do tempo e o amadurecimento do artista, produzindo assim, uma obra de  auto reflexão com o tema para quem assiste.

A obra é produzida com a participação de Maria Flor de Maio @marioflor.maio e Andy na Arte, e figurino com mix e master por Porreta. A direção e roteiro por Isis Grazielle, fotografia por Gustavo Koncht, o designer gráfico com João Guilherme e edição e montagem com @gusta_aguiarc.

 

* A matéria foi produzida pelo Icon Releass, projeto do aluno de Publicidade e Propaganda da Una, Gabriel de Souza.

Por Keven Souza

É quase impossível ir à Praça da Liberdade e não sentir o astral artístico que o local permite. De fato é uma das praças mais atrativas de Belo Horizonte quando se fala em turismo transversal com belos edifícios e jardins, talvez a confluência dos prédios que abrigavam o Poder Mineiro e o Governo de Minas Gerais no final do século 19, que era antes o centro administrativo do Estado, seja a essência para tamanha área histórica e cultural.  

Desde a inauguração da Cidade Administrativa na região Norte da capital e a transferência oficial da sede do governo do Estado em 2010, os diferentes prédios históricos da Praça da Liberdade se encontravam vazios e sem grande utilidade, logo com grande vocação para cultuar a arte, a cultura, o turismo e o patrimônio. Neste panorama, foi criado o projeto que visava maior articulação dos edifícios junto ao espaço urbano, onde antes havia secretarias, hoje estão belas salas de exposições capazes de integrar e reunir um grande complexo cultural:  o Circuito Liberdade.  

A criação o Circuito Liberdade teve enorme aprovação por parte do público frequentador da praça, que se tornou um dos maiores complexos culturais do país e o único de Minas Gerais que reúne espaços com as mais variadas formas de manifestação artística e cultural como teatros, museus, biblioteca, espaço multiuso, palácio e cinema. Hoje, é um reduto de equipamentos culturais que abriga 22 instituições de enorme valor simbólico, histórico e arquitetônico, sendo algumas geridas pelo Governo do Estado e outras por meio de parcerias público-privadas ou parcerias com instituições públicas federais que apoiam a cultura do país. 

Entre as maiores de destaques estão o Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB, o Memorial Minas Gerais, o Museu das Minas e do Metal – MM Gerdau, o Espaço do Conhecimento da UFMG, a Casa FIAT de Cultura, o Centro de Arte Popular, o Museu Mineiro, entre outros. Incluindo a bela arquitetura do Edifício Niemeyer e do Palácio da Liberdade. 

O Circuito está desde outubro de 2020, sob a gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG) que ampliou o seu perímetro cultural, para que agregasse, de forma integrada, outros equipamentos culturais de Belo Horizonte e que por meio dele, se tornasse uma rede potente capaz de unificar ações e projetos que representem a todos os municípios de Minas Gerais. Desde então, a Secult-MG se empenha para o fortalecer em aspectos relacionados à cultura e turismo, que além de criar medidas para estimular a experiência e a economia criativa nos seus espaços, tem pensado em mobilizações para potencializar sua comunicação institucional, que em síntese, é abrangente e possui particularidades mediante as instituições que compõem. 

Praça da Liberdade

Nessa circunstância é firmada a parceria do Circuito Liberdade junto ao Centro Universitário Una, a favor de dar o devido suporte em demandas e ações pertinentes ao universo da comunicação, como uma equipe proativa, que compreende as nuances do quão grandioso é o complexo cultural e que vem a somar e construir uma comunicação mais centralizada, além de eficiente. Assim, nasce a sinergia entre a Secult-MG e a faculdade Una neste ano de 2021

“Estávamos em discussão sobre como fortalecer o Circuito Liberdade, em um certo momento, chegamos no nome da Una, primeiro por ela estar dentro do parâmetro territorial do complexo cultural e segundo porque já havia uma interação entre ela e Secult-MG para uma troca de energias e interesses em conjunto”, diz Maurício Canguçu, subsecretário de Cultura da Secult-MG, sobre a ideia de iniciarem a parceria com a Una. 

Segundo Maurício, ao se unirem com a Una, a Secult-MG confia inteiramente no trabalho de qualidade e responsabilidade da instituição. “A Una possui uma comunicação muito forte e é essa expertise que nos interessa. Precisamos de fortalecer também a do complexo cultural, ter o suporte nas redes sociais e na imprensa, e por que não se unir com uma instituição que tenha esse domínio?” explica ele. 

Nessa parceria a função do Centro Universitário Una é voltada a atuação prática da Fábrica – coletivo dos laboratórios de Economia Criativa – que por meio de seus núcleos e agências como a Una 360, Fábrica AV e Jornal Contramão irá desenvolver ações direcionadas às demandas de comunicação do Circuito, ligadas diretamente às áreas de cinema e audiovisual, jornalismo e relações públicas. Entre as funções estão em projeção a produção de podcasts quinzenais, produção de clippings, produção de vídeos e fotografias institucionais para museu e biblioteca, consultorias de transmissão ao vivo, além de releases e matérias com foco na produção de conteúdos online divulgados no portal oficial do Circuito Liberdade. 

Pedro Neves, diretor da Una Liberdade, explica que a parceira ser ligada diretamente à atuação da Fábrica, é para colocá-la em uma vitrine de exposição que irá permitir mostrar o seu trabalho e torná-la uma estrutura reconhecida com valor determinado. “Digo que essa parceria dialoga muito bem com Una. É um evento importante para chamar atenção e ‘vender’ a Fábrica enquanto componente que dinamiza as áreas da criatividade, comunicação e produção de conteúdo. Quanto mais ações externas fizermos, mais ela se tornará um precursor de oportunidades para os alunos e alunas, e irá nos permitir abrir novos caminhos”, afirma Pedro. 

A faculdade pretende também tencionar o ensino-prático dos alunos da Una campus Liberdade junto às inúmeras atividades relacionadas à disseminação da cultura, como maneira de demasiar uma formação mais ávida indo além da sala de aula. Para o coordenador dos cursos da área de Comunicação Social e Arte da Una campus Liberdade, Antônio Terra, a parceria é de grande valia para o repertório profissional dos alunos, pelo fato de ligá-los a experiências únicas junto à sociedade e ao mercado. 

“Sem dúvidas é de extrema importância para os cursos da área de comunicação social, uma oportunidade rica de vivenciarem experiências ainda na universidade acompanhada de mentores e professores. Digo que, tudo que iremos produzir para o Circuito Liberdade, reverberar pela a cidade, todos não só irão saber como também ganharão com isso e aos alunos essa divulgação é essencial para um portfólio brilhante”, explica o coordenador.

Terra ressalta ainda que, por mais que a colaboração seja recente e neste primeiro momento as ações estejam direcionadas a projetos extensionistas e projetos ligados à Fábrica, há um campo alastro que propicia desenvolver inúmeras ações ao longo do tempo, que existe planejamento para ampliar novos horizontes direcionados à formação universitária, como por exemplo usar a parceria para compor uma UC Dual futuramente – Unidade Curricular voltada ao ambiente profissional de empresas e companhias parceiras da instituição.

Para além disso, a expectativa é de que haja um trabalho em conjunto, envolto de uma sintonia para melhorar a comunicação, como um todo, do Circuito Liberdade. Para que a colaboração venha ser de sucesso, engajada a todo vapor, com a história e o simbólico, que o complexo cultural abrange e representa. 

 

Foto: Divulgação

Programação conta com mais de 60 apresentações explorando as possibilidades do fazer artístico dentro do cenário virtual 

Por Guilherme Sá

Ao adentrar pelas porta do casarão Estrela, a impressão é mergulhar no cenário cheio de sentimentos. Lembro-me bem da primeira vez que ali pisei, no primeiro semestre de 2019. As paredes da construção, feridas pelo tempo, mostram suas cicatrizes, a energia tem algo diferente, não é pesada, mas demonstra que um dia foram. Os artistas e colaboradores ocupantes, constroem suas entranhas mas também as deixam visíveis, não querem apagar a sua história. Transformaram o lugar escuro e sem vida em uma das maiores ações coletivas dessa cidade.

A partir dessa união, criaram-se ações como a que acontece até o dia 31 de julho. A Ocupação Espaço Comum Luiz Estrela em Belo Horizonte, realizará o 2º Festival de Inverno – Inverno Estelar – com uma programação extensa com participação de artistas, ativistas, arquitetos, psicólogos, educadores e produtores culturais locais, nacionais e estrangeiros. Neste ano a edição acontece totalmente online.

Construído por cincos mulheres produtoras, mas também de diferentes carreiras (característica bem comum do coletivo), são elas, Luciana Lanza (bailarina e produtora), Deise Eleutério (arquiteta e produtora), Gabrielle Salomão (bailarina e produtora), Mariana Angelis (designer e produtora), Maria Câmara (psicologa e produtora) e Yasmine Rodrigues (atriz e produtora). 

O desenho do festival surgiu na assembléia geral do Coletivo Estrela (grupo  responsável pela administração do espaço desde 2013) com o objetivo de manter ativa as ações que já vinham sendo desenvolvidas. “A gente se juntou, vamos ajudar, fazer juntos na cara e na coragem. Fizemos um edital e estamos aí experimentando essa coisa nova que é fazer tudo de forma virtual.” diz, Luciana Lanza.

A programação inclui, exposição de retratos e zines, apresentação musical, sarau, performances, discussões sobre patrimônio, oficina de percussão, de atuação para cinema, cerâmica, redação, fotoperformance, entre outros. Mas como fazer tudo isso dentro do ambiente virtual?

Mudar, adaptar e experimentar foram pontos chaves para o processo de criação do festival e quebra das dificuldades encontradas. Luciana Lanza comenta que, cada artista está á procura da melhor forma de expressão da sua arte e está aberto ao novo. “É um festival muito amplo, os artistas estão experimentando também junto com a gente, ninguém sabe qual é a melhor plataforma, a melhor mídia, melhor horário. Enfim, muitos desafios que a gente está encarando, quase que no escuro mas com muita vontade de fazer.”

Lançado o edital em junho, nos canais de comunicação, a seleção foi simples e natural, o que deixou claro que não haveria remuneração aos artistas, mas, ao encontrar apoio na vontade de construir coletivamente o festival. “Acontece que o estrela já tem um público de pessoas que acompanha, entendi quais são as lutas do lugar e, como é um coletivo muito grande que comporta muitas lutas, muitas temáticas, então o festival não poderia ser diferente. Ele recebe todo tipo de linguagem, de performance, música, dança, teatro, rodas de conversa, uma diversidade de pessoas que comunga das mesmas ideias.” conclui, Luciana. 

Para a mineira Anne Cruz que realizou a live show no último sábado, 25, a participação no festival foi o momento de mostrar sua versatilidade como cantora e apresentar-se para um público novo “A princípio fiquei com receio, pois seria uma live fora do meu canal, mas comprei a ideia de participar. Eu tive todo suporte da produção do evento. Live é um show virtual, eu tenho de criar um bom repertório, lidar com minha timidez para poder levar um entretenimento de qualidade para as pessoas que disponibilizaram seu tempo para poder me assistir.”

E também foi a oportunidade do público que já a segue, assistir sua estréia em um show solo. “Foi minha estreia cantando sozinha, na minha jornada eu vinha fazendo participações em  algumas rodas de samba em BH, e com essa onda de live, eu  venho fazendo minhas apresentações sozinha. A participação no festival foi um marco na minha caminhada como cantora. Foi muito gostoso, as pessoas interagiram com show virtual, foi lindo participar desse projeto.” comenta. 

Outro destaque é o artista amapaense Nau vegar, que apresentará no dia 31 ao lado de Thayse Panda e  Geisa Marins, com o perforbar no instagram – um bar online onde quem entrar na live poderá interagir com o artista, como se fosse um bate papo de buteco, e enquanto conversam sobre qualquer tema, fará o uso das ferramentas da plataforma, como os filtros, criando algo novo a partir das possibilidades e a experiência do encontro de diferentes pessoas. 

Para Nau, a participação no Inverno Estelar representa a conexão com um público novo, “Minhas expectativas na verdade é mais pelo público, o público que vamos receber será o público do Luiz estrela, então não sei como será.”  

O organizador do Mizura – Encontro de Performance e Intervenção Urbana no Amapá, um dos maiores do Brasil, o ator e performista comenta que sua arte utiliza principalmente do corpo para construir o espetáculo “Eu trabalho com a arte da Performance como pensado dentro das artes visuais, a arte do corpo, meu corpo é meu instrumento de trabalho. Eu não tenho uma forma de criação específica, se dá de diversas formas, lendo um livro, assistindo a um filme, ou as vezes sou atraído por algum objetivo, ou material e a partir daí eu crio um trabalho.” 

Em relação ao desafio de apresentar-se online, o artista enxerga a possibilidade de explorar os novos meios de criação performática. “Essa será a terceira vez que faço essa ação, mas tô aprendendo ainda, mas está sendo uma experiência maravilhosa, é também uma forma de explorar o campo da tecnologia que até então, não dava tanta atenção.” conclui. 

A OCUPAÇÃO ESPAÇO COMUM LUIZ ESTRELA

A ocupação cultural e autogestionada nasceu em 2013 através da reunião de um grupo de amigos, artistas e moradores da capital preocupados com o abandono do casarão da rua Manaus, bairro Santa Efigênia. 

O local foi usado para diversas finalidades. Sua origem remonta o início da construção de Belo Horizonte, servindo de Hospital Militar até 1945, após esse período, reformado para abrigar o Hospital de Neuropsiquiatria Infantil (HNPI) que funcionou até os anos 1990, com a mudança do HNPI, o espaço foi transformado em escola para o ensino de crianças com transtornos intelectuais, escola estadual Yolanda Martins, o que perdura até o ano de 1994.

Com a escola desativada, começa então o processo de abandono advindo de diversas disputas de uso que nunca foram prosseguidas, em 20 anos de deterioração e em péssimas condições estruturais ganha uma nova chance de vida e utilidade com a ocupação. 

A organização do coletivo é composta por núcleos que atuam na restauração, preservação, administração financeira e jurídica além da implantação de atividades culturais, políticas e educacionais, devolvendo luz a construção que viu tantos horrores no passado.

Faz parte da filosofia do local a luta antirracista, em defesa da negritude brasileira, pelo direitos dos povo indígenas, LGBTQIA+, a luta antimanicomial, em defesa da população de rua, a luta pelos direitos humanos e em defesa das Ocupações do país.  

O nome do espaço é uma homenagem ao Luiz Estrela, poeta e morador de rua que foi assassinado em 2013.

Para assistir e acompanhar a programação do Festival entre nas redes sociais da ocupação:

Instagram, Facebook e Youtube